Médico depõe mais de três horas sobre naufrágio que resultou na morte de advogada
Investigação aponta afogamento e praticamente descarta hipótese de homicídio no caso Maria Eduarda
Escute essa reportagem
Matéria atualizada às 18h37

O urologista Seráfico Pereira Cabral Júnior, 55 anos, prestou depoimento nesta terça-feira (8) na delegacia de Porto de Galinha sobre o naufrágio que provocou a morte da advogada Maria Eduarda Medeiros, 38 anos
O inquérito é conduzido pelo delegado Ney Luiz Rodrigues e todas as provas, até agora, indicam que a advogada morreu, realmente, devido a um acidente.
A investigação ainda não foi concluída, mas a hipótese de homicídio doloso (ou feminicídio) está praticamente descartada, segundo informações de bastidores. As duas famílias envolvidas não têm conflito de interesses.
A TV Tribuna PE/Band registrou, com exclusividade, o momento em que o médico chegou à unidade policial, por volta das 13h. Ele entrou pela parte de trás da delegacia e não falou com a reportagem. Seráfico Júnior passou mais de três horas no depoimento e também não se pronunciou ao sair.
Algumas perguntas ainda estão em aberto. Entre elas, por que ele precisou ser internado na Unimed por quase uma semana depois de receber alta da Upa de Ipojuca depois do naufrágio. Na ocasião, rejeitou realizar até mesmo um exame de raio x.
A repórter Simone Santos também perguntou porque ele não compareceu ao enterro e ao velório, mas o urogolista preferiu não se posicionar. Ao sair da delegacia, apenas respondeu ao ser indagado: “Muito obrigado, fique com Deus”.
Antes do depoimento, seus advogados disseram que ele não compareceu às buscas ou às cerimônias de despedida de Maria Eduarda por estar muito abalado emocionalmente.
Ofício à Prefeitura de Ipojuca
O delegado Ney Luiz Rodrigues também não deu entrevista pois o caso corre sob segredo de justiça. Contudo, ele já enviou ofício à Prefeitura de Ipojuca, onde fica Porto de Galinhas e Muro Alto, solicitando sinalização no local da praia chamado de “boca da barra”, onde o naufrágio ocorreu, no dia 21 de junho.
O corpo de Maria Eduarda só foi localizado no dia 24. No mesmo lugar, quatro pessoas já tinham morrido antes, sendo arrastadas pela correnteza. (Veja no final da reportagem vídeo feito por pescador exclusivamente para a TV Tribuna mostrando imagem do local acidente).
O acidente

Seráfico conduzia um pequeno veleiro na praia de Muro Alto, na parte protegida por arrecifes, quando decidiu fazer a volta do barco perto de uma abertura entre as pedras na “boca da barra”.
“Um vento sujo”, segundo o médico relatou à sua equipe de defesa, impediu a volta do barco naquele local, e a pequena embarcação foi arrastada pela correnteza até se chocar com as pedras.
De acordo com apurações do repórter Carlos Simões, que também acompanha o caso de perto, a abertura das pedras na “boca da barra” não é natural, foi provocada por dinamite, e já causou outros acidentes com pescadores.
Os dois estavam no pequeno veleiro que foi sugado pela correnteza do Rio Ipojuca até o mar aberto, de acordo com a defesa e relatos de uma testemunha-chave. Na ocasião do naufrágio, não havia coletes salva-vidas.
O advogado explicou que o médico e Maria Eduarda estavam navegando na parte interna do mar, protegida pelos arrecifes, com profundidade de 1,5 metro, e não era costume usar esse tipo de equipamento naquela área, embora fosse obrigatório pela legislação brasileira.
Após ser levados para alto mar, Seráfico e Maria Eduarda teriam nadado juntos, segundo o advogado Ademar Rigueira Neto, a favor da correnteza até um lugar mais seguro.
A maré os conduziu para o lugar onde grandes navios atracam. Ambos teriam até comemorado a chegada no local em segurança. Mas as ondas mudaram o rumo dos acontecimentos.
O laudo mais esperado
O médico foi ouvido após o laudo do IML constatar que Maria Eduarda morreu por afogamento.
A perícia no corpo descobriu que os ferimentos foram provocados depois da morte. Ela estava com uma laceração profunda no braço esquerdo e uma das pernas em posição diferenciada.
A posição não é comum no afogamento, mas, pelos relatos da defesa de Seráfico, seu corpo pode ter se chocado com as pedras no momento em que ela chegou ao local onde os navios atracam ao lado do médico.
Afogamento constatado
O advogado Ademar Rigueira Neto chegou a cogitar, inclusive, que Maria Eduarda poderia ter morrido nas pedras, mas ela realmente morreu afogada. Os ferimentos vieram depois.
Segundo relato de Seráfico à sua equipe de defesa, os dois chegaram juntos ao local de salvamento, porém, devido ao impacto das ondas nas pedras, ambos se separaram depois de nadarem por mais de duas horas.
Já tinha anoitecido quando o médico foi resgatado. Naqueles instantes, ele não avistou mais Maria Eduarda, a quem tinha pedido em casamento neste mesmo dia.
Seráfico também soltou a cadela de Maria Eduarda, porque precisou salvar a própria vida, no choque das ondas com as pedras. Eles estavam na parte pós-arrecifes neste momento.
Testemunha-chave
O pedreiro Marcelo Francisco Santana testemunhou o exato momento em que o barco virou, antes de os dois serem arrastados para o mar aberto. Ele relatou o fato, com exclusividade, à repórter Simone Santos no Brasil Urgente.
Os dois estavam no pequeno veleiro que foi sugado pela correnteza do Rio Ipojuca até o mar aberto, de acordo com a defesa e relatos de uma testemunha-chave. Na ocasião do naufrágio, não havia coletes salva-vidas.
Relembre a entrevista: Testemunha diz ter visto momento em que o barco virou
Ausência de coletes
O advogado explicou que o médico e Maria Eduarda estavam na parte interna do mar, protegida pelos arrecifes, com profundidade de 1,5 metro, e não era costume usar esse tipo de equipamento naquela área, embora fosse obrigatório levar no barco, segundo a legislação brasileira.
Após o naufráfio, Seráfico e Maria Eduarda teriam nadado juntos, segundo o advogado Ademar Rigueira Neto, a favor da correnteza até um lugar mais seguro. A correnteza os conduziu para onde grandes navios atracam.
O pedreiro fez as primeiras ligações para avisar sobre o naufrágio. Os fatos foram checados pela equipe de Ney Júnior e coincidem com a cronologia apresentada pelo advogado Ademar Rigueira Neto.
O delegado já ouviu testemunhas importantes ao longo desse processo, como pessoas do condomínio onde os dois estavam em Muro Alto, a mãe dela e seu irmão, bem como o pedreiro que viu a virada do barco. Ele também tem em posse o laudo do IML.
Cronologia dos fatos divulgada pela defesa do médico
17h08 – Entrou o chamado de "barco à deriva" no Ciods
17h20 - Confirmação de "barco à deriva" a 1 km da costa
17h56 – Coordenação do Ciods faz contato com a Capitania dos Portos de Pernambuco
19h17 – Resgate na Guarita de Suape
20h54 – Confirmação do naufrágio
O delegado já ouviu testemunhas importantes ao longo desse processo, como pessoas do condomínio onde os dois estavam em Muro Alto, a mãe dela e seu irmão, bem como o pedreiro que viu a virada do barco. Ele também tem em posse o laudo do IML.
Comentários