Nova geração corre risco de nunca se aposentar, dizem especialistas
Trabalho informal, alta rotatividade e regras rígidas ameaçam o futuro financeiro dos mais jovens, de acordo com especialistas
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As novas gerações enfrentam um cenário desafiador, com reformas na Previdência, expectativa de vida mais longa e um mercado de trabalho em constante transformação.
Diante desses fatores, correm risco de nunca se aposentar, segundo especialistas.
Esse risco vem sendo amplamente debatido em muitos países. Há um conjunto de fatores que tornam a aposentadoria das novas gerações um desafio cada vez maior, contou Martha Zouain, psicóloga e diretora da Psico Store.
“A formalização do emprego diminuiu, e cresce o número de pessoas que atuam como autônomas ou empreendedoras, muitas vezes sem vínculos estáveis que garantam contribuições contínuas à Previdência”, destacou.
Martha lembra que mudanças trabalhistas recentes ampliaram modelos de trabalho mais flexíveis, que, embora atendam ao dinamismo da economia, tendem a levar a contribuições previdenciárias menores e mais irregulares.
A especialista em pessoas Gisélia Freitas destacou também a precarização das relações de trabalho, a informalidade crescente, e redução de contribuições à Previdência.
“Além disso, a alta rotatividade no mercado e o aumento do trabalho por conta própria, sem contribuição regular ao INSS, comprometem o acúmulo necessário de tempo e valor de contribuição para garantir a aposentadoria futura”.
As reformas trabalhistas e previdenciárias tornam o caminho até a aposentadoria mais desafiador para quem está começando. Muitos também buscam modelos mais flexíveis, como empreendedorismo e projetos, o que exige mais consciência financeira e planejamento, explicou a consultora de RH Jéssica Maidana.
A advogada trabalhista Nayara Garajau de Mello contou que as novas gerações encontram um cenário previdenciário mais rígido do que aquele enfrentado por seus pais e avós. “A rigidez das novas regras, somada à ausência de regras de transição para quem ainda ingressará no mercado de trabalho, dificulta o acesso ao benefício”.
Tendo em vista que há uma preocupação sobre a sustentabilidade do sistema previdenciário público, novas reformas tendem a dificultar ainda mais o acesso dos mais jovens aos benefícios previdenciários, afirmou a advogada previdenciarista Brenda Scarpino.
“Diante desse novo cenário, torna-se essencial que as gerações mais jovens iniciem o quanto antes um planejamento financeiro estruturado sobre a sua aposentadoria”.
Investimento

O produtor musical Helanderson Guimarães Guilherme Junior, conhecido por Batata Beats, 27 anos, contou que trabalha por conta própria em seu estúdio e planeja fazer investimentos que possam garantir uma forma de renda futuramente.
“É algo que me preocupa. Acredito que não vou me aposentar, pois a cada ano fica mais difícil. Pago minhas contas com música há sete anos, mas minha ideia é que eu possa ter imóveis para aluguel ou outras empresas, por exemplo”, explicou.
Geração Z adota nova tendência
Os jovens da Geração Z – nascidos entre 1997 e 2012 – estão cada vez mais céticos em relação à possibilidade de se aposentar, e por isso vêm rompendo com a ideia tradicional de trabalhar sem parar até os 65 anos para, só então, descansar.
Em vez de esperar para aproveitar a vida, a geração está impulsionando uma tendência que redefine o equilíbrio entre trabalho e bem-estar: a “microaposentadoria”.
Os jovens da Geração Z estão tirando pausas entre empregos para descansar e viver novas experiências. Eles priorizam a saúde mental, o crescimento pessoal e experiências significativas, em vez de se concentrarem apenas na longevidade e progressão da carreira”, afirmou Guy Thornton, fundador da plataforma on-line Practice Aptitude Tests, à Forbes.
Um número crescente de jovens profissionais está aderindo à chamada “microaposentadoria”, uma tendência que viralizou no TikTok e em outras redes sociais, inicialmente nos Estados Unidos, mas que tem se espalhado.
Saiba mais
Sem aposentadoria
Por muito tempo, a aposentadoria foi vista como um ponto final na carreira. Trabalhava-se por décadas, acumulando tempo de serviço e benefícios, até chegar o momento de parar completamente. Mas esse conceito não faz mais sentido para muita gente.
O modelo tradicional de emprego vitalício, com carteira assinada e aposentadoria garantida, está cada vez menos presente. Muitos Millennials (nascidos entre 1981 e 1996), por exemplo, já não têm a expectativa de contar com a previdência pública para o futuro.
A tendência é de que as novas gerações não se aposentem formalmente como aconteceu com as gerações anteriores.
Isso se deve a fatores como o aumento da expectativa de vida, a mudança de mentalidade em relação ao trabalho e as reformas previdenciárias que elevam a idade mínima para aposentadoria ou tornam as regras mais rígidas.
Aumento da expectativa de vida
Com o avanço da medicina e melhores condições de vida, as pessoas estão vivendo mais, o que implica em um período mais longo após a aposentadoria. Isso pode criar preocupações financeiras e levar a uma revisão dos planos de aposentadoria.
Mudança de mentalidade
Jovens, especialmente da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), estão buscando um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional, priorizando o bem-estar e a realização pessoal desde o início da carreira.
A crescente importância da tecnologia e da inovação no mercado de trabalho exige que os trabalhadores se reinventem e busquem novas habilidades para se manterem relevantes ao longo de suas carreiras.
Além disso, muitos das novas gerações estão pessimistas quanto à possibilidade de depender apenas da Previdência Social para a aposentadoria, devido às mudanças nas regras e à instabilidade econômica.
Reformas
O governo e especialistas apontam para a necessidade de reformas na Previdência para garantir a sustentabilidade do sistema, incluindo o aumento da idade mínima e mudanças nas regras de cálculo dos benefícios. Estudos, a exemplo do feito pelo Banco Mundial, indicam que, sem reformas, a idade mínima para se aposentar pode chegar a 78 anos em 2060.
A Previdência Social enfrenta um déficit crescente, e as projeções indicam que, até 2050, o Brasil terá cerca de 30% da sua população formada por idosos.
O aumento dessa proporção, em um sistema de repartição simples, impõe a necessidade de ajustes contínuos para equilibrar as contas e garantir a sustentabilidade financeira.
Fonte: Martha Zouain, Gisélia Freitas, Jéssica Maidana e pesquisa A Tribuna.
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