Saiba quem pode usar a injeção que retarda o Alzheimer
A Tribuna conversou com especialistas para saber em quais casos o Kisunla, que é injetável e com aplicação mensal, pode ser empregado
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O anúncio da aprovação do medicamento Kisunla (donanemabe) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de comprometimento cognitivo leve e demência leve associados à doença de Alzheimer tem sido visto como um avanço no tratamento da doença por especialistas.
Apesar dos possíveis benefícios, já que o medicamento mostrou retardo no avanço da doença, ele não é indicado para todos os pacientes. A Tribuna conversou com especialistas para saber em quais casos o novo remédio, que é injetável e com aplicações mensais, pode ser empregado.
Além do estágio da doença, que conforme indicação deve ser leve, o neurologista Guilherme Coutinho de Oliveira, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Santa Rita, apontou ainda que os estudos indicam que a presença de placas de beta-amiloide no cérebro deve ser confirmada por exames específicos, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) e/ou biomarcadores para a doença de Alzheimer no líquor.
“É crucial que a decisão de utilizar o donanemabe seja tomada por um médico especialista, como um neurologista, que poderá avaliar cuidadosamente cada caso, considerando o estágio da doença, a presença de biomarcadores específicos e o perfil genético do paciente, além de discutir os potenciais benefícios e riscos do tratamento”, alertou.
A neurologista Marina Fim, especialista em problemas de memória e demência, destacou ainda que o Kisunla não é recomendado para pessoas com formas mais avançadas da doença, com histórico de sangramentos cerebrais, com muitas micro-hemorragias, e nem por quem faz uso de anticoagulantes fortes ou tenha outras doenças neurológicas importantes.
Atualmente, explica a neurologista Soo Yang Lee, já existem medicamentos usados no tratamento da doença.
“Porém, os remédios atuais retardam de modo mais discreto. Já o donanenumabe mostrou um efeito mais relevante durante o seu uso, mas ainda não se sabe os efeitos a longo prazo, se é sustentado e se existem complicações mais sérias”, ponderou.
À venda por R$ 3.950 nos EUA
Como funciona?
O Kisunla (donanemabe), fabricado pela farmacêutica Eli Lilly, é um anticorpo monoclonal que se liga à proteína beta-amiloide. Na doença de Alzheimer, aglomerados de proteína beta-amiloide formam placas no cérebro.
O medicamento atua ligando-se a esses aglomerados e reduzindo-os, prometendo um retardamento da progressão da doença.

Como será comercializado?
O produto, injetável, será comercializado em embalagem contendo um frasco-ampola de 20ml com uma unidade por apresentação. Cada dose de 20 ml é composta por 350 mg de substância ativa donanemabe, ou seja, cada ml do produto possui 17,5 mg de donanemabe.
A dose recomendada de Kisunla é de 700 mg a cada 4 semanas para as três primeiras doses (mensal), seguidas de 1400 mg a cada 4 semanas, até a depuração da placa amiloide cerebral ou por até 18 meses.
Valor
O valor ainda não foi definido para venda no Brasil. Nos Estados Unidos o donanemabe é vendido por US$ 695 o frasco (cerca de R$ 3.950 na cotação atual).
O tratamento anual com o remédio nos EUA sai por, aproximadamente, US$ 32 mil (ou R$ 181 mil).
Aprovação
Hoje, o donanemabe é aprovado para comercialização no Brasil – aprovado esta semana pela Anvisa – e nos Estados Unidos - aprovado no ano passado.
Estudo
O donanemabe foi avaliado em um estudo principal envolvendo 1.736 pacientes com doença de Alzheimer em estágio inicial, que apresentavam comprometimento cognitivo leve, demência leve e evidências de patologia amiloide. O estudo analisou alterações na cognição e na função cerebral dos pacientes, medidas por ferramentas clínicas.
Na semana 76 do estudo, os pacientes tratados com donanemabe apresentaram progressão clínica menor e estatisticamente significativa em comparação aos pacientes tratados com placebo.
Reações
As reações adversas mais comuns do medicamento são reações relacionadas à infusão, que podem causar febre e sintomas semelhantes aos da gripe e dores de cabeça.
Contraindicações
A Anvisa não recomenda o medicamento para pacientes com Alzheimer portadores do gene da apolipoproteína E4 (ApoE4) homozigotos.
Também devem evitar o medicamento os pacientes que fazem uso de anticoagulantes e aqueles que possam ter hemorragias ou edemas cerebrais.
Diferença
O Donanemabe é diferente dos tratamentos prévios para Alzheimer, pois sua ação permite retardar a progressão da doença, diferente dos medicamentos habitualmente usados, que tratam apenas os sintomas, não impedindo a progressão da demência. Portanto, trata-se de uma medicação modificadora da doença, a primeira a ser aprovada no Brasil, segundo a neurologista Marina Fim.
Fonte: Anvisa, especialistas consultados e pesquisa A Tribuna.
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