Fiéis se reúnem na praça São Pedro e se dizem surpresos com morte do papa Francisco
Causa da morte oficialmente foi declarada como AVC, seguido de coma e colapso cardiocirculatório irreversível
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Assim que soube da morte do papa Francisco, logo pela manhã, Jaime Andrade, 24, religioso de Moçambique que estuda em Roma, não acreditou naquilo que lia. "Recebi num grupo pelo celular, mas não estava seguro porque quando o papa foi internado, notícias falsas diziam que ele havia falecido. Liguei para um amigo que trabalha no Vaticano, e ele confirmou que era verdade", disse à Folha na noite desta segunda.
Andrade chegou na praça São Pedro, no Vaticano, por volta das 19h locais (14h de Brasília). "Vim rezando o rosário sozinho e quando vi aqui que estavam prestes a rezar o rosário, decidi participar." A morte de Francisco, diz, foi uma surpresa, ainda que o papa tenha ficado internado por quase cinco semanas.
"Não esperava. Vê-lo ontem [domingo 20] aqui [na praça] deu uma esperança grande, achei que ele estava se recuperando. Passei o dia mal, sem vontade de comer. Para mim, era como se fosse um parente."
Para o religioso, o legado mais importante de Francisco foi a humildade. "As pessoas vinham para Roma ver o João Paulo 2º como um santo. No papado de Bento 16, vinham para escutar a palavra de sabedoria dele, porque era um grande teólogo. Com Francisco, mudou. Não eram mais os peregrinos que vinham em encontro do papa, mas o papa que ia ao encontro das pessoas, incluindo as mais vulneráveis. Essa é a mensagem que ele nos deixa."
De origem boliviana e residente em Roma, Paola Andrea, 22, foi outra católica que não acreditou quando foi impactada pela notícia nas redes sociais.
"Vi pelo Instagram, e pensei que fosse uma fake news porque ontem ele parecia bem, aí vem uma coisa assim do nada. No começo não acreditávamos, e aí fomos checar se era verdade. Infelizmente, era", disse ela, que tinha participado do rosário com a mãe e o irmão. Eles pretendem voltar ao Vaticano para o funeral, ainda sem data definida.
O brasileiro Jefferson Betarello, 45, que mora em Roma, foi outro que participou do rosário na praça São Pedro. "Foi emocionante, tinha gente do mundo todo, várias línguas, principalmente gente falando espanhol. Foi uma reza introspectiva, para baixo", afirmou. "Quando soube, pela minha filha de 11 anos, achei estranho porque ele tinha participado do evento da Páscoa, achei que ela estava enganada. Mas era isso mesmo."
Para ele, o sentimento de tristeza é motivado pela proximidade do papa Francisco com as pessoas. "Foi uma grande perda. Ele tentava mediar conflitos, sempre falando de paz, de amor. Depois do João Paulo 2º, foi um papa bem próximo das pessoas, tolerante, algo de que o mundo precisa nesse cenário tão complicado."
O fluxo de fiéis, turistas e curiosos foi intenso durante o todo o dia, já que era feriado na Itália, a Pasquetta, como é chamada no país a segunda-feira de Páscoa. Pouco depois das 19h30 do horário local foi rezado um rosário na praça São Pedro, no Vaticano, em homenagem a Francisco. A oração foi presidida pelo cardeal italiano Mauro Gambetti.
"Ouvindo ressoar em nossos corações o convite 'não se esqueçam de rezar por mim', ouvida muitas vezes do papa Francisco, queremos rezar por ele nesta noite", disse o cardeal. "Agradecemos a Deus pelos dons que fez à inteira Igreja com o ministério apostólico do papa Francisco, peregrino da esperança", afirmou antes das orações.
Francisco morreu, segundo o Vaticano, às 7h35 do horário local (2h35 em Brasília). "O bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Sua Igreja", disse o cardeal camerlengo, Kevin Farrell, em anúncio transmitido pouco antes das 10h locais.
Primeiro ritual do funeral dos papas, a constatação da morte ocorreu por volta das 20h, na capela da Casa Santa Marta, onde morava o papa. A cerimônia foi comandada por Farrell, que estava acompanhado do decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re, e por dirigentes do serviço médico do Vaticano.
A causa da morte oficialmente foi declarada como AVC, seguido de coma e colapso cardiocirculatório irreversível. O atestado de óbito elenca como doenças preexistentes a pneumonia bilateral que levou à internação de Francisco, hipertensão arterial e diabetes do tipo 2.
Em seguida, seu corpo foi colocado no caixão de madeira revestido de zinco. Uma imagem deve ser divulgada nesta terça, segundo o Vaticano.
O caixão deve ser levado para a Basílica de São Pedro, para que seja visto e homenageado pelos fiéis, na manhã da quarta-feira (23). Os detalhes do funeral devem ser divulgados nesta terça, após a primeira reunião entre os cardeais, encarregados de preparar as cerimônias, que devem durar nove dias seguidos.
O sepultamento deve ocorre entre o quarto e o sexto dia após a morte, o que deve ocorrer entre sexta-feira (25) e domingo (27). São eles que também definem quando inicia o conclave para a escolha do sucessor.
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