Mais de 100 denúncias por mês de agressões e ameaças de alunos no ES
Essa é a média de queixas recebidas pelo Sindiupes por ameaças e agressões feitas por alunos, que estão cada vez mais indisciplinados
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Uma advertência a um aluno de 16 anos em relação ao uso de um boné em sala aula. Esse teria sido o motivo para um grupo, a convite dele, tentar invadir uma escola municipal de Cobilândia, em Vila Velha, na intenção de matar uma coordenadora da instituição de ensino.
Após ser repreendido por desrespeitar a regra em relação ao uso do acessório, o aluno teria chamado três amigos – dois adolescentes e uma jovem de 19 anos –, para invadir o local e esfaquear a coordenadora, segundo a TV Tribuna/Band. O fato, ocorrido na última quinta-feira, não se concretizou e todos foram levados à delegacia.
Esse não foi um caso isolado. Por mês, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) recebe mais de 100 denúncias de agressões e ameaças de alunos, em média.
Essas denúncias, segundo o secretário de Políticas de Juventude do Sindiupes, João Paulo de Faria Cardozo, são feitas por educadores de forma oficial e informais durante visitas às escolas.
“Essa é uma realidade cada vez mais frequente no ambiente escolar. São denúncias de violência verbal e física. São insultos, intimidações e até ameaças de morte”.
João Paulo contou que muitas vezes essas ameaças são veladas, com alunos dizendo: “Cuidado, que eu sei onde você mora e em quais escolas também dá aula”.
Segundo ele, entre as denúncias há também casos de violência entre os próprios colegas.
Já o titular da Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle), delegado Fábio Pedroto, disse que se comparar o primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2024 houve aumento de cerca de 30% em casos de violência praticada nas escolas, principalmente em locais de vulnerabilidade social.
No entanto, ele não tem os números absolutos, mas disse que, pela sua percepção, recebe uma média de três casos por semana.
“É uma geração do arrasta pra cima, digitalizada, com poucas habilidades sociais e empatia. Também existe o componente de violência familiar, ou seja, os alunos reproduzem o que vivem em casa. É o que a gente chama de aprendizado por imitação”, disse Pedroto.
Quanto à penalidade prevista, ele explicou que, nos casos mais extremos, a penalidade máxima para menores de idade em atos infracionais no Brasil é de três anos de internação.
Sobre o caso ocorrido em Cobilândia, a jovem de 19 anos foi autuada em flagrante por organização criminosa e encaminhada ao Centro de Triagem de Viana. Os outros adolescentes foram autuados por ato infracional análogo ao crime de organização criminosa e encaminhados ao Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase).
Tentativa de invasão a escola
Coordenadora ameaçada de morte
O acionamento
Sobre a tentativa de invasão a uma escola em Cobilândia, Vila Velha, a Guarda Municipal informou que foi acionada para dar apoio à direção da instituição em uma ocorrência envolvendo alunos.
Na entrada do portão principal, flagrou um rapaz com uma faca que forçava o portão da escola, com outras duas adolescentes, de 14 e 19 anos.
Os guardas efetuaram a abordagem dos três suspeitos e, nesse instante, saiu um quarto suspeito de dentro da escola, de 16 anos.
Ele relatou ter ido à escola com seus três amigos para atentar contra a vida da coordenadora, que, no dia anterior, havia acionado a Guarda.
Boné
De acordo com informações da TV Tribuna/Band, os dois adolescentes e a jovem tentavam arrombar o portão da escola quando foram surpreendidos por agentes da Guarda.
O caso teve início na quarta-feira, quando o aluno foi advertido sobre a proibição do uso de boné na escola. Ao se negar a tirar o acessório, foi encaminhado à sala de coordenação.
Ao final da aula, quando todos os alunos haviam ido embora da escola, o menor chamou os três amigos — que voltaram com ele até a unidade de ensino e tentaram invadir o local.
Na ocasião, a Guarda foi acionada e quando chegou ao local, o grupo havia fugido. No dia seguinte, a coordenação da escola solicitou uma reunião com a mãe do adolescente.
O encontro ocorreu na quinta e, durante a conversa, que teve a presença do aluno, o mesmo grupo voltou ao local e tentou invadir a escola.
Durante a ação, eles amassaram o portão da escola, gritando que iriam invadir o local e “rasgar” a coordenadora. A Guarda Municipal foi acionada novamente e evitou o ataque.
Delegacia
Todos foram levados à Delegacia Especializada do Adolescente em Conflito com a Lei (Deacle), em Vitória.
Fonte: Guarda Municipal de Vila Velha, Polícia Civil e TV Tribuna/Band.
Escolas investem em treinamentos
No outro lado da ponta, as escolas da rede pública e privada têm investido em tecnologias, treinamentos e envolvendo as famílias para, juntos, atuar na prevenção.
A Secretaria de Estado da Educação (Sedu) informou que, desde março de 2023, integra o Comitê Integrado de Segurança Escolar, em parceria com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), com objetivo de desenvolver ações de prevenção e enfrentamento à violência nas escolas.
No mesmo contexto, o governo do Estado lançou o Plano Estadual de Segurança Escolar, estruturado em cinco eixos: atenção psicossocial, ações de prevenção, gestão inovadora, sistema de inteligência e fortalecimento operacional.
“Entre as principais iniciativas, destacam-se o reforço das equipes de Psicologia e Assistência Social, ampliação dos programas 'Papo de Responsa' e 'Proerd', criação do Manual de Policiamento e Segurança Escolar, implantação de tecnologias de monitoramento, canal exclusivo de denúncias e intensificação da presença da Patrulha Escolar da Companhia Independente de Polícia Escolar (Cipe) nas unidades de ensino”, disse, por nota.
Além disso, o canal 181 está disponível para o registro de denúncias anônimas, com garantia de sigilo. A Cipe atua de forma preventiva e educativa, por meio de visitas, palestras, reuniões e outras ações de aproximação com a comunidade escolar.
A Sedu informou ainda que, neste ano, não recebeu notificações de casos envolvendo ameaças a professores nas escolas da rede estadual. “Situações dessa natureza não são comuns, mas, quando ocorrem, as unidades seguem um protocolo de segurança previamente estabelecido”, disse.
Presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), Moacir Lellis citou que as escolas vêm fazendo treinamentos, entre outras ações para garantir um ambiente mais seguro para alunos, professores e toda a comunidade escolar.
Os treinamentos são realizados em parceria com a Cipe. “São abordados temas como protocolos de segurança, análise de ameaças, primeiros socorros e estratégias para resposta a incidentes. Gostaria de parabenizar os instrutores da Cipe”.
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