Desequilíbrios climáticos
Coluna foi publicada na terça-feira (14)
Desde a revolução industrial, avanços tecnológicos aumentaram a pressão sobre os recursos naturais, especialmente sobre os combustíveis fósseis, geradores de Gases de Efeito Estufa (GEE). Esses gases causam o aquecimento global, isto é, o aumento da temperatura da Terra, o qual atingiu o valor mais alto de 1,1ºC entre os anos 2011 e 2020, quando comparado com o período de 1850 e 1900 (anos considerados níveis pré-industriais).
De acordo com Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 foi o ano mais quente já registrado, com uma média de 1,45ºC acima dos níveis pré-industriais. Valor este que se aproxima do limite imposto pelos países que assinaram o acordo de Paris, de 1,5ºC.
O desmatamento é outro fator impulsionador para o aquecimento global, liberando carbono e reduzindo a capacidade de absorção de dióxido de carbono. Mudanças no uso da terra respondem por cerca de um quarto das emissões de GEE. O excesso desses gases é absorvido pelos oceanos, resultando em aumento da acidez das águas, prejudicando a vida marinha, enquanto o derretimento das calotas polares eleva o nível do mar. Estima-se que tenha havido aumento médio do nível do mar em 0,20 metros entre 1901 e 2018.
Os impactos das mudanças climáticas incluem redução da disponibilidade de água potável, queda na produtividade agrícola e pecuária, danos à infraestrutura urbana e rural, aumento das desigualdades sociais e migração. É crucial mudar para uma economia circular, que minimize o consumo de recursos e gere poucos resíduos. Isso pode ser feito através da reutilização, reciclagem e recuperação de materiais e energia. É fundamental dissociar o crescimento econômico do consumo excessivo de recursos, promovendo a restauração do capital natural, social e econômico.
Ações de mitigação como a transição energética são urgentes, substituindo os combustíveis fósseis por energias renováveis (solar, eólica, biomassa etc.). Assim, como medidas de adaptações nas áreas agrícolas, que incluem adoção de sistemas agroflorestais e rotação de culturas para garantir a biodiversidade e o equilíbrio ecossistêmico. Nas áreas urbanas, gestão de riscos, prevenção de desastres e planejamento urbano são essenciais. Políticas públicas voltadas para a proteção dos recursos naturais são fundamentais, incluindo legislação ambiental e financiamento para ações de adaptações.
As mudanças climáticas afetam especialmente as populações vulneráveis, reduzindo sua segurança alimentar, hídrica, social e de saúde. É imprescindível o engajamento da sociedade na promoção de soluções climáticas, além do desenvolvimento de políticas públicas eficazes e do fornecimento de dados para monitoramento. O enfrentamento dos desafios das mudanças climáticas requer abordagem multifacetada, com investimentos financeiros significativos e a cooperação global.
- Elis Braga Licks é economista, doutora em Economia Aplicada, professora na Ufes e conselheira do Conselho Regional de Economia do Estado (Corecon-ES)