Filho de Elis Regina fala de campanha com a imagem da mãe
Pedro Mariano, que faz show em Vitória, disse que achou bonita a propaganda em que a mãe é recriada com inteligência artificial
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Filho da cantora Elis Regina com o pianista César Camargo Mariano, Pedro Mariano, 48 anos, sabe que tem um legado a zelar. E não se espanta ao surgirem perguntas relacionadas aos seus pais, mesmo quando a pauta principal da conversa é sua estreia nos palcos do Espírito Santo, na próxima sexta-feira.
“Tenho o maior prazer do mundo em falar da minha mãe”, exclama o artista, que desde os 14 anos, quando decidiu seguir carreira na música, foi avisado pelo pai sobre a pressão de ser herdeiro de uma das maiores vozes da música brasileira.
Contudo, naquela época, ele talvez não imaginasse que nos anos 2020 a tecnologia iria proporcionar um dueto de Elis, que morreu em 1982, com sua irmã, Maria Rita, na música “Como Nossos Pais”. A parceria criada para uma campanha da Volkswagen acabou gerando um debate sobre os limites do uso da inteligência artificial.
“A propaganda tem que ser aprovada pela família. Eu achei muito bonita. Se não tivesse gostado, não teria aprovado. A vida é bem simples e, quando se trata de Elis, é muito simples. Se vai agregar valor, emocionar as pessoas como Elis emocionou, está aprovada! Já a discussão em torno da campanha é uma outra conversa. E é uma discussão que é saudável, pertinente”, salienta ao jornal A Tribuna.
Inclusive, é no ato de emocionar que o cantor se apegou ao escolher as músicas do repertório da apresentação da próxima sexta, ao lado da Orquestra Filarmônica Moderna Brasileira. O concerto “Pra Todo Mundo Cantar” será apresentado às 20h, no Teatro da Ufes, em Goiabeiras.
“São músicas que não fazem parte só da minha vida, mas das nossas vidas. Eu sou humano também, me emociono com músicas do dia a dia. Escolhi músicas que tinham essa relação particular comigo”, afirma.
A seleção inclui “Simplesmente” (Samuel Rosa e Chico Amaral), “Acaso” (Ivan Lins), “Êxtase”, (Guilherme Arantes), “Certas Coisas” (Lulu Santos) e “Sangrando” (Gonzaguinha).
Pedro Mariano, cantor - “Não tem sorte, não tem dom. É ralação”
A Tribuna – É a primeira vez que se apresenta no Espírito Santo ou estou enganado?
Pedro Mariano – Não, sua cabeça não está ruim! (Risos) É a primeira vez que vou me apresentar em um evento aberto ao público no Espírito Santo. Estive aí em 1996, mas para um evento corporativo. Não sei dizer por que não calhou de eu me apresentar aí, mas espero que seja o destravamento dessa pauta e que a gente passe a se ver muitas vezes.
O que te levou a aceitar o convite da Orquestra Filarmônica Moderna Brasileira?
Quando o convite surgiu, obviamente fui conhecer o trabalho da orquestra para me ambientar e fiquei superfeliz e surpreso com a proposta. Eles têm uma proposta em comum com a do meu trabalho com orquestra, que é justamente essa aproximação da música sinfônica com o universo popular.
Não é uma novidade pra você cantar com orquestra. Qual é a sensação?
É completamente diferente. Quanto mais integrantes tiver no grupo, o grau de concentração é maior. Após quatro anos com um projeto de orquestra, posso dizer que saí um artista muito melhor. Tenho medo de nada agora! (Risos) É uma experiência única.
Há algo que você jamais interpretaria?
Não. O ritmo e o estilo são os menores dos problemas. O que você está dizendo é o que mais compromete. A música do Brasil é diversa, plural e tem representatividade em todos os segmentos. Já o texto, não. O texto é um discurso, e não é qualquer discurso que te representa.
É considerado pela crítica um dos maiores intérpretes da MPB. Isso tem um peso na sua carreira?
Fico lisonjeado pela menção, mas não é uma coisa na qual eu me agarre. Minhas considerações sobre a minha carreira têm mais peso para mim do que qualquer opinião. Se vocês acham que eu sou o melhor, e eu não acho, eu fico com a minha opinião.
Sou muito autocrítico, perfeccionista e não tenho o hábito de ficar olhando muito pela janela, para o que estão pensando a meu respeito. Não acho saudável, julgamento atrapalha decisões futuras.
Te incomoda quando relacionam sua carreira a de seus pais?
Eu já sabia que isso aconteceria desde os 14 anos quando falei para o meu pai que queria ser cantor. Ele me perguntou se eu tinha certeza disso, falou que eu iria levar pedrada a vida inteira, mas eu disse que estava certo disso porque é o que sei fazer.
Aprendi com eles que foco é necessário e que o processo só se realiza com trabalho. Não tem sorte, não tem dom. É ralação, e o resultado vem do trabalho. Porém, quando você nasce numa família que tem esses dois nomes tão grandes e com carreiras de excelência, isso te dá um senso de responsabilidade a mais, de que você representa um legado.
Esse senso de responsabilidade de representar um legado construído por eles me deixa ligado. Se eu represento esse legado, não tenho o direito de fazer o que quiser com ele. Mas não é porque as pessoas vão falar. É porque eu vou falar. Olho para o meu trabalho e para o deles e pergunto: “O meu trabalho está digno de representar esse legado?”.
Serviço: “Pra Todo Mundo Cantar”
O quê: Concerto da Orquestra Filarmônica Moderna com Pedro Mariano (SP).
Quando: Na próxima sexta-feira (28), 20 horas.
Onde: Teatro Universitário da Ufes, em Goiabeiras.
Ing.: A partir de R$ 60 (Mezanino/meia).
Venda: Site lebillet.com.br.
Clas.: Livre.
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