Sinais de transtornos que atingem 312 mil pessoas no ES
A pedido de A Tribuna, médicos revelam os principais sintomas de autismo e TDAH. Falta de atenção e dificuldade de fala estão entre eles
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Pelo menos 312 mil pessoas no Estado têm transtornos como o do Espectro Autista (TEA) e de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Falta de atenção, inquietação e impulsividade são os principais sintomas do TDAH, enquanto no autismo pode haver sinais como dificuldade de fala, interação social e padrões restritos de comportamento, apontam os médicos.
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), os casos de TDAH variam entre 5% e 8%. Já um novo dado do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) dos Estados Unidos sugerem que 2,8% da população tem TEA. Considerando a população do Estado, 112 mil pessoas têm autismo e 200 mil TDAH.
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O neurologista infantil e especialista em autismo Thiago Gusmão destaca que entre os sinais precoces do autismo, os bebês podem ser irritados, chorosos e ter sono inadequado. “Podemos ver uma criança que não tem uma boa atenção compartilhada, ou seja, não atenta aos sinais que o pai ou a mãe pedem para olhar. Há ainda uma dificuldade no vínculo afetivo, na amamentação e um atraso no balbucio”, esclarece o médico.
Em crianças acima de 1 ano e 6 meses pode haver dificuldade em juntar duas palavras, segundo indica Thiago. “Outro sinal é não conseguir formar frases curtas com até dois anos de idade”.
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A psiquiatra infantil Fernanda Mappa ressalta que na primeira infância a criança pode apresentar dificuldade em entender regras sociais. “Isso, muitas vezes, faz com que ela seja rotulada como sem limite ou “opositora”, quando, na verdade, ela não entendeu o porquê de precisar ser daquele jeito”.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo, no TDAH em crianças os sinais podem se apresentar na forma de dificuldade em se concentrar, dificuldade para executar tarefas escolares ou domésticas, além de falar em demasia e ficar com mãos e pés constantemente agitados. Já na idade adulta, pessoas com TDAH frequentemente esquecem compromissos e perdem objetos.
“Diagnóstico não é sentença”, diz mãe
Antes mesmo de Arthur Mota Lima da Silva, de 7 anos, completar 1 ano, a assistente social e universitária Helena Mota, de 36 anos, já desconfiava que o filho tinha atraso no desenvolvimento.
Por causa do diagnóstico do menino, ela resolveu fazer terapia ocupacional. “Eu falo que, independente de diagnóstico, qualquer atraso precisa ser tratado. E o diagnóstico não é sentença, é um ponto de partida”.

Mas antes de descobrir o que o pequeno Arthur tinha, Helena, que tem uma filha de 19 anos, comparava o desenvolvimento da primeira filha com o segundo filho. “Ele ia fazer um ano e não batia palmas, não gostava de barulho, não queria sair, chorava quando tinha muita gente, ele não olhava quando a gente chamava e não apontava. Tudo isso foi acendendo os sinais”.
“Eu falava com meu ex- marido e com a pediatra que tinha algo, mas eles não viam. Só eu percebia”.
Nessa época, Helena relata que morava com sua família em Belém, no Pará. “Um dia fizemos uma reunião na nossa casa para alguns amigos e o Arthur, com 1 ano e 2 meses, não aguentou todo mundo dentro de casa e começou a balançar as mãos e girar”.
Após o episódio, Helena marcou consulta com uma especialista. “Ela chegou e falou que ele tinha todos os sinais, mas que não poderia fechar o diagnóstico. Começamos a tratá-lo, mas o diagnóstico só veio quando ele tinha três anos”.
A universitária afirma que com a terapia ocupacional Arthur se transformou em outra criança. “Ele aprendeu a ler sozinho com 3 anos, mas falava e parava. Ano passado que ele começou a falar. Ele fala inglês, sem nunca ter estudado, e entende russo e espanhol.
O que é autismo?
A psiquiatra infantil Fernanda Mappa explica que transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento. A pessoa acometida já nasce com ele e manifesta um conjunto de condições neurodesenvolvimentais, caracterizadas por dificuldades iniciais na comunicação social e por comportamentos e interesses repetitivos incomumente restritos.
O que é TDAH?
É considerado também um transtorno do neurodesenvolvimento, que se manifesta precocemente e influencia o funcionamento social ou acadêmico, segundo explica a psiquiatra infantil Fernanda Mappa.
Sendo de causa multifatorial, tem um importante componente genético, o que significa que existe uma tendência para que ele seja transmitido de pais para filhos.
SINAIS TEA
- Dos 18 aos 24 meses
- Contato visual deficitário durante a amamentação ou em outros momentos de carinho e cuidado.
- Choro excessivo sem razão aparente. Muitas vezes, os pais fazem várias investigações clínicas.
- Sono inadequado manifestando insônia, despertares noturnos frequentes, padrões de sono-vigília irregulares e tempo de sono reduzido. Estima-se que cerca de 80% das crianças com autismo apresentem algum distúrbio do sono.
- Inquietação constante, muitas vezes devido ao incômodo causado pelo toque ou quietude demais, com pouco esboço e sorriso, ou que pouco se incomodam, demonstrando apatia.
- Sensibilidade ao barulho.
- Sensibilidade à textura dos alimentos, podendo apresentar seletividade alimentar.
- Atraso no sorriso social. São geralmente bebês sérios demais.
- Balbucio com atraso
Primeira infância
- Atraso na fala, geralmente é o que mais chama atenção dos pais.
- Dificuldade em socialização com pares da mesma idade.
- Dificuldade em entender regras sociais, o que muitas vezes faz com que seja rotulado como sem limite ou “opositor”.
- Não brinca de forma convencional com os objetos, preferindo parte dos brinquedos ao todo, como fixação com rodinhas de carros e não com o carro em si.
- Padrões de movimentos repetitivos ou estereotipias.
Adolescência
- Dificuldade na compreensão da linguagem por exemplo, sarcasmo ou ironia.
- Reações incomuns em ambientes sociais.
- Distúrbios comportamentais e de sono.
- O autismo, muitas vezes, vai se passar como humor introspectivo, timidez e dificuldade de fazer amizades.
- Pode ter um prejuízo no rendimento escolar e apresentar um discurso monótono, de pertencimento, que pode levar à ansiedade e depressão.
Adulto
- Pode haver manutenção de algum hiperfoco ou algum assunto que a pessoa se interessa demais. Muitas vezes são interesses inusitados, de difícil compartilhamento e difícil de despertar o interesse do outro.
- Pode ter poucos amigos ou não ter nenhum vínculo afetivo próximo com amigos de infância.
- Apresenta dificuldade no entendimento de jogos sociais, dificuldade com piadas, sarcasmos e na modulação da expressão facial de acordo com o que é dito.
- humor introspectivo.
TDAH
Tipos
- São 3 tipos de TDAH: o hiperativo e impulsivo, o desatento e o misto. Cada um deles se caracteriza por um conjunto de sintomas comportamentais, como desatenção, desorganização ou hiperatividade.
- O TDAH não se apresenta da mesma forma em todas as pessoas e, portanto, nem todos vão apresentar as mesmas dificuldades. Algumas pessoas são mais desatentas, enquanto outras têm mais traços de hiperatividade.
Idades
- Normalmente na adolescência os sintomas de hiperatividade, que costumam ser mais frequentes nas crianças, tendem a reduzir significativamente.
- Atualmente, entende-se que há uma redução dos sintomas de hiperatividade durante a adolescência e na idade adulta. No entanto, os sintomas relacionados a dificuldades de concentração e desatenção tendem a permanecer ao longo da vida.
1. Hiperativo/Impulsivo
Apresenta agitação, inquietação, fala excessivamente, tem dificuldade em relaxar ou descansar, parece constantemente em movimento e tem dificuldade em esperar a vez e ficar sentado por longos períodos.
Toma decisões precipitadas sem pensar nas consequências, interrompe os outros durante as conversas.
Tem dificuldade em controlar reações emocionais e age impulsivamente, sem considerar as consequências, explica o neuropediatra Raphael Rangel.
2. Desatento
Dificuldade em prestar atenção aos detalhes, comete erros por descuido.
Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros. Dificilmente termina um livro, a não ser que o interesse muito.
Às vezes parece não ouvir quando o chamam (muitas vezes é interpretado como egoísta e desinteressado).
Demora muito mais que outras pessoas para fazer atividades similares, se perde pelo meio do caminho.
Posso desenvolver TDAH na fase adulta?
Adultos que nunca tiveram sintomas relatados na infância ou adolescência e que agora passam a ter problemas na atenção e concentração devem investigar outras causas, como problemas no sono, ansiedade, estresse e sobrecarga de trabalho. Não se deve fazer autodiagnóstico.
O pilar principal no tratamento do TDAH é a terapia medicamentosa, podendo ser instituída, principalmente, após os 6 anos de idade, segundo o neuropediatra Raphael Rangel.
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