Veteranos do volante reclamam da intolerância no trânsito
Motoristas pedem mais respeito nas ruas e nas estradas. Para especialistas, estresse de condutores causa atitudes agressivas
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Mais difícil do que dirigir com tranquilidade e segurança é se manter nesse ritmo por muitos anos. Quem consegue essa proeza sabe o tamanho do desafio, pois reconhece que o trânsito (e quem faz parte dele) tem ficado mais intolerante.
Condutor há 40 anos, o aposentado Fernando Ruy, de 68 anos, que é português, conta que já viajou de carro até o Uruguai, mas não sabe se volta a dirigir em grandes distâncias por vários motivos, entre eles a irresponsabilidade no trânsito.
“As pessoas estão transferindo intolerâncias particulares para o trânsito. Está mais difícil encontrar um trânsito mais tolerante”.
A gestora Ana Angélica Motta, de 60 anos, que dirige desde os 18 e nunca foi multada, crê que falta respeito por parte dos condutores.
“A gente tem de dirigir para a gente e para os outros. O trânsito em Vitória é um pouco complicado, parece que as pessoas não entendem muito bem a sinalização. Se todos tivessem mais respeito, teríamos menos acidentes”.
O psicólogo Gerson Abarca afirma que o trânsito é um espaço onde se refletem os comportamentos.
“É um lugar onde cada um se revela comportamentalmente. É uma sociedade que tem um aumento da ansiedade, das exigências de metas e desorganizações sociais, do coletivo, que gera essa carga no trânsito”.
O diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, Dirceu Rodrigues, destaca que o estresse de quem dirige pode se voltar contra o próprio condutor.
“A intolerância, a rebeldia e o estresse podem repercutir nos outros que estão na via, mas também nele próprio. É uma autoagressão, pois altera a pressão arterial, a oxigenação e a respiração”.
A especialista em trânsito Roberta Torres dá dicas de como evitar o estresse no trânsito. “O motorista deve se planejar. Existem vários aplicativos de mapas que você consegue visualizar o trânsito com antecedência. Sair de casa 10 minutos antes evita congestionamentos e diminui o estresse”.
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“Vou dirigir até o físico permitir”
Jornal A Tribuna – Há quanto tempo você dirige?
Fernando Ruy – Vim de Portugal para o Brasil em 1979, mas tirei minha habilitação em 1975, depois que saí do Exército. Vivo no Espírito Santo há 15 anos. Mas já dirigi na Itália, Espanha, um pouco na França e em Marrocos.
Como é o trânsito em outros países?
Em Portugal e na Espanha é bem mais tranquilo. Em Portugal, por exemplo, tem uma coisa que é difícil de ver aqui. Quando o pedestre coloca o pé na faixa de pedestre, o motorista para imediatamente.
Acredita que o trânsito no Estado seja mais intolerante?
Na verdade, as pessoas estão transferindo intolerâncias particulares para o trânsito. Está mais difícil encontrar um trânsito tolerante e tranquilo.
Por que acha que isso acontece?
Três fatores levam aos problemas no trânsito. Um é a formação individual do motorista, que vem de casa. O outro é a formação técnica. Por fim, a pressa. Se alguém se programa mal para um compromisso, começa a fazer porcaria. Vê-se muitas bobagens, um teatro de absurdos no trânsito.
Pretende continuar dirigindo por quanto tempo?
Dirigir, além de satisfazer uma necessidade, é uma vigília mental, exercita a paciência, disciplina e bons modos. Vou continuar enquanto o físico e a mente permitirem, com a percepção de que não vou causar prejuízo a ninguém.
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