Pesquisa revela temas mais comuns nas conversas de famílias
Bullying e respeito às diferenças foram os mais citados entre o que pais e filhos mais dialogam em casa
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O convívio social e todas as problemáticas que as relações humanas trazem estão pautando a maioria das conversas das crianças e adolescentes com seus pais. É o que mostrou uma pesquisa nacional divulgada ontem.
O estudo apontou quais os assuntos mais conversados em família e que são trazidos pelos filhos. O respeito às diferenças e o bullying são os temas mais abordados e estão presentes em 45% dos diálogos em casa. Na sequência, com 38%, aparece o preconceito e a intolerância, além do racismo, tema das conversas de 35% das famílias.
“As pautas sobre tolerância e compreensão sobre o outro trazem à tona o alerta sobre empatia e autocuidado dessa geração”, observou Ligia Mello, coordenadora da pesquisa realizada pela Hibou.
Para a psicóloga Gabriela Andrade, esses temas são os mais abordados porque já fazem parte da realidade das crianças e adolescentes. O bullying e o racismo, inclusive, também estão sendo levados para os consultórios. “São temas que eles conhecem, mas, por questões de desenvolvimento, ainda não sabem se expressar com clareza e não possuem repertório de enfrentamento”.
O psicólogo Cláudio Miranda explica que o bullying e o respeito às diferenças são temas diretamente ligados à forma das crianças e jovens se apresentarem ao grupo social. “Esses assuntos ficam em evidência porque a palavra mostra a força de cada pessoa. Então, ao se expor, o adolescente pode ser vítima do outro que não concorda com sua ideia e faz um ataque isolado ou frequente”.
Além disso, são temáticas bastante trabalhadas atualmente nas escolas, segundo o psicólogo Gerson Abarca. E o especialista vê de forma positiva o racismo sendo abordado pelos filhos.
“Chega a ser uma surpresa, pois o racismo é estrutural em nossa sociedade, e ter essas crianças e adolescentes falando sobre o tema é sinal de que as conversas estão acontecendo, tratando o racismo como crime e aguçando as crianças para esse diálogo”.
Gerson ressalta que os assuntos devem ser abordados sempre ligando a idade dos filhos com as necessidades. “Sempre que houver pergunta, é importante ouvir a demanda, saber por que a pergunta está vindo e qual a opinião deles antes mesmo de colocar a sua. E a partir dos seus princípios éticos, conversar, mas sem deixar de ouvir e considerar as opiniões deles”.
Conversas após caso de racismo

Foi após uma situação de racismo sofrida pela filha que a confeiteira Janine Gomes de Faria, 39 anos, começou a falar sobre o assunto com a pequena Maria Luiza Leonina, 5 anos.
“Eu não abordava, tinha medo de falar sobre, mas precisou acontecer para conversarmos. Hoje falamos sobre diferenças, respeito e preparei ela, inclusive, mostrando pessoas que são iguais a ela”.
Sexualidade é pouco abordada
Apesar da geração atual ter um canal mais aberto para diálogos com os pais, alguns assuntos importantes ainda estão sendo pouco abordados entre pais e filhos, como sexualidade, por exemplo.
O estudo mostrou que assuntos referentes ao relacionamento homoafetivo, por exemplo, é abordado em apenas 19% das famílias, um percentual considerado pequeno para o universo dos adolescentes, segundo o psicólogo Gerson Abarca.
“Na adolescência, o assunto começa a emergir, inclusive gerando conflitos por conta da diversidade de gênero. Por conta disso, o índice é baixo”.
A psicóloga Lícia Assbú também considera que temas como sexo, sexualidade e identidade de gênero deveriam ser mais abordados.
“Muitos pais ainda ficam com receio. São temas cercados de muitos tabus, mas acredito que desmistificar se faz necessário. A informação é sempre a melhor forma de prevenção”, destaca Lícia.
Ela explica: “Quando o adolescente tem dúvidas e faz suas descobertas pela internet, ele pode ter acesso a todo tipo de informação, de qualidade ou não. Em contrapartida, quando isso é um assunto falado sem tabus em casa, ele pode tirar suas dúvidas com os pais. E essa é a maior segurança que podemos e devemos ter. Além de que a educação sexual é a melhor prevenção ao abuso sexual”.
Outro tema pouco abordado, na visão dos psicólogos, é o desmatamento, também presente em 19% das conversas. “É pouco falado, tendo em vista que estamos passando por um período de alto índices de desmatamentos”, ressalta Gerson Abarca.
O psicólogo Cláudio Miranda também chama atenção para essa temática. “Poderia ser mais falada, criando uma conscientização de gastar, comprar e consumir menos”.
Saiba mais
Estudo
- A pesquisa buscou levantar quais são os assuntos mais conversados entre pais e filhos no Brasil, em especial os temas que são trazidos pelas próprias crianças e adolescentes até 19 anos.
- O estudo “Influência Infantil” foi desenvolvido pela Hibou, empresa especializada em pesquisa e insights de mercado e consumo. Foram ouvidas 1.646 pessoas em diferentes regiões do País.
Fonte: Hibou.

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