Paraíso das maçãs em cidade do Norte do Estado
O sítio tem atraído turistas e deve colher mais de 20 toneladas da fruta este ano
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Debaixo de sol forte, parecia improvável ser produtor de uma fruta que é tipicamente colhida em regiões frias.
Mas um sítio em Montanha, Norte do Estado, atrai turistas porque se tornou o paraíso das maçãs e deve colher mais de 20 toneladas este ano. O pomar, de 1.600 plantas distribuídas em um hectare, fica na localidade de Córrego do Limoeiro e pertence a Aldair Menezes Anacleto, de 48 anos.
Na propriedade, visitantes podem comprar as frutas cultivadas sem aditivos por R$ 5 o quilo nas variedades Eva, Princesa e Julieta, que são mais resistentes ao clima tropical, segundo ele.
“Essas variedades foram desenvolvidas pela Embrapa e pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e se adaptam muito bem a locais quentes. Há cinco anos, verificamos que o município de Petrolina, em Pernambuco, já estava produzindo maçãs com bons resultados, e decidimos copiar a ideia”, explicou.
As mudas foram adquiridas do Sul do País, com um ano de idade, por R$ 20 cada, e foram plantadas em fileiras de quatro metros e espaçamento de 1,5 metro entre as plantas.
Aldair contou que recebe consultoria de um agrônomo sobre os tratos culturais e afirma que a plantação ainda está em teste. “Apesar da boa adaptação à região, as plantas são pouco resistentes às doenças, por isso estamos estudando novas variedades”.
Ainda segundo Aldair, o clima quente favorece a colheita duas vezes ao ano. Conforme o produtor, no Sul do País a safra só ocorre uma vez por ano, porque as macieiras hibernam durante o inverno.
Já em regiões quentes, as plantas podem ser estimuladas a produzir a cada quatro meses, por meio da técnica de florada contínua. Na propriedade de Aldair, a estimativa é que as colheitas ocorram sempre em maio e entre agosto e outubro.
O agrônomo Theodorus Daamen revelou que, no Brasil, o setor de maçãs fatura, em média, R$ 7 bilhões ao ano, desde o campo até as vendas nos mercados, e produz cerca de 1,1 milhão de toneladas da fruta.
Além disso, emprega diretamente 50 mil trabalhadores e, para fazer a colheita, são necessários 45 mil agricultores.
Isso acontece porque ainda não há no Brasil, e nem em outros países, máquinas capazes de colher maçãs.
Cinco anos de dificuldades

Após cinco anos driblando as dificuldades para adaptar a cultura à região de Montanha, o produtor Aldair Menezes Anacleto contou que agora sonha alto.
O objetivo dele é aumentar a área plantada nos próximos anos e adquirir uma câmara fria para armazenar a produção.
Hoje, as caixas com as frutas são comercializadas em média a R$ 30 para supermercados de municípios do Norte do Estado.
“Até hoje muita gente não acredita que produzimos maçãs aqui na região, porque o pessoal relaciona a fruta só com clima frio, mas estamos provando o contrário”, observou.
“Os pesquisadores brasileiros já desenvolveram essas variedades que permitem plantar maçã em clima quente, que é predominante em nosso País, e isso é uma grande oportunidade para diversificar ainda mais nossa agricultura”.
Em 2018, Aldair disse que teve que erradicar 900 mudas de maçã. O pomar foi todo infectado pela Glomerella (“podridão amarga”), que, segundo ele, torna a fruta sem valor comercial por conta de manchas na polpa com gosto amargo.
O produtor ressaltou que o problema ocorreu devido à falta de conhecimento sobre a cultura. “Foram as primeiras plantas que adquiri. Elas produziram por quatro anos, cheguei a colher 40 toneladas. No entanto, por conta da falta de experiência, má condução e tratos inadequados, em 2018 tivemos que erradicar a plantação, e perdemos tudo”.
Produção sem aditivos químicos traz vantagens

Com acompanhamento técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Aldair Anacleto está trabalhando com a fruticultura orgânica, que é o cultivo de frutas sem o uso de aditivos químicos como pesticidas, adubos e fungicidas.
Mas o produtor contou que isso começou há um ano, de forma gradativa. “Com isso, a gente está conseguindo reduzir custos e também ter uma fruta de qualidade para o consumidor final”, ressaltou.
O agrônomo Theodorus Daamen explicou o detalhe que fez essa produção dar certo: no Sul do País, as macieiras hibernam nos dias frios, já em Montanha, o pomar não descansa. As plantas são estimuladas a produzir sempre.
“Se a macieira parar, cai naquele modelo do Sul, e daí não consegue mais produzir de novo. Você faz a colheita, prepara ela para brotar de novo, vem a florada e a segunda colheita no mesmo ano”.
Ele explicou que, no Brasil, a maçã é tradicionalmente produzida no Sul, que possui clima frio, mas a produção do Aldair foi adaptada para suportar as altas temperaturas do Norte do Estado.
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