Cidades vão abrir espaço para pedestres e ciclistas
Para melhorar o trânsito no futuro, o carro vai precisar perder espaço. As mudanças já começaram nas ruas da Grande Vitória
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Engarrafamentos e trânsito lento não são problemas exclusivos da Grande Vitória. O excesso de veículos nas ruas é um problema mundial. Mas tem solução!
Pode ser uma solução antipática para alguns, mas para melhorar a mobilidade das cidades, segundo os especialistas, vai ser preciso abrir espaço para pedestres e ciclistas.
Calçadas mais largas e com boa estrutura, ciclovias que ligam bairros, inclusive nas periferias, a pontos fundamentais do município, são algumas das soluções que já estão sendo implantadas em vários lugares do mundo, incluindo a Grande Vitória.
“As cidades exemplo de mobilidade tendem a investir muito na mobilidade ativa, que seria o uso da bicicleta e a caminhada a pé. Além de investimentos em transportes públicos eficientes. É preciso que haja mais espaço para os pedestres e os ciclistas, uma infraestrutura que desestimule o uso do automóvel”, comenta a professora do mestrado de Arquitetura e Cidade da UVV, Larissa Andara Ramos.
Nas cidades do futuro, o transporte não-motorizado deve receber prioridade, como explica a professora Ramona Faitanin, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UCL.
“Esse tipo de transporte gera uma menor pressão por ampliação do sistema viário, pois ocupa menos espaço nas vias, gerando uma economia de gastos públicos. Para que isso ocorra, entretanto, é preciso que a sociedade valorize esse tipo de modal, e que ele seja foco de políticas públicas de transporte”.
É necessário, segundo a professora, que se crie espaços seguros para bicicletas e pedestres, evitando acidentes de trânsito e protegendo as pessoas.
“Quando, por exemplo, proporcionamos calçadas seguras, niveladas, confortáveis e arborizadas, estamos incentivando a caminhabilidade. Toda viagem feita a pé ou de bicicleta é uma viagem motorizada a menos na cidade”.
Interligações para ir e vir de bicicleta

A doméstica Cristiana Kelle, 40 anos, sabe muito bem a importância e a necessidade de interligações e mais segurança nas ciclovias. Ela contou que vai e volta de casa, em Bairro de Fátima, na Serra, para o trabalho, na Enseada do Suá, em Vitória, todos os dias.
“Sempre vou pela manhã e volto no início da tarde. Vou pela orla, por Camburi, e levo cerca de 40 minutos. Mas seria mais rápido se tivesse uma ciclovia mais segura na avenida Fernando Ferrari e na Reta da Penha. Acho importante pensar em mais espaços para a bicicleta”.
O arquiteto e urbanista e doutor em Geografia, Leandro Camatta de Assis, professor do Ifes, defende que a mobilidade é questão de escolha de prioridades por parte do poder público.
“A divisão dos espaços públicos tem que levar em consideração o deslocamento de uma quantidade maior de pessoas. Por isso, investimentos no transporte coletivo é fundamental”.
Incentivo ao pedestre

A advogada Raissa Pestana, 30 anos, contou que todos os dias caminha pelo bairro onde mora, em Jardim Camburi. Ela conta que no bairro há bastante espaço para pedestres e para o lazer, mas que é necessário melhores manutenções.
“Acho que no meu bairro tem bastante lugares para pedestres. Mas, acredito que é preciso melhorar a manutenção das calçadas e dos espaços para que sejam melhor aproveitados pelos moradores”, comentou.
Características das cidades do futuro
Mais espaço para pedestres
Nas cidades do futuro que pensam em mobilidade mais sustentável, as calçadas mais largar para pedestres serão fundamentais, principalmente em avenidas principais. Elas vão permitir que mais pessoas circulem.
Tais calçadas terão dispositivos que vão facilitar a caminhada e trazer bem-estar para os moradores. Calçadas sinalizadas, sem ressaltos, com bancos e árvores, são alguns dos elementos que vão trazer conforto aos pedestres durante a caminhada. Esse pode ser um cenário comum nas avenidas de grandes cidades.
Algumas cidades vão investir em espaços em que os pedestres não vão ter de disputar espaços com carros. As ruas de pedestres são espaços fechados, em que o trânsito de carros e ônibus não passam. Se torna também espaços de lazer, geralmente.
Mais ciclovias
O aumento da malha cicloviária já é uma tendência em grandes cidades no Brasil e no mundo, assim como na Grande Vitória. A tendência é que essas ciclovias interliguem espaços importantes de prestação de serviço, lazer e cultura da cidade.
Para que as pessoas sejam incentivadas a usarem as ciclovias, é preciso pensar em dispositivos que vão dar conforto e segurança, não só na construção, mas também na infraestrutura de apoio, como chuveiros nas empresas, bicicletários e segurança.
Outra tendência, que também faz parte da mobilidade ativa é o compartilhamento de bicicletas na cidade. Mas, é necessário que as estações estejam em todas as regiões e bairros para que sejam considerados um meio de mobilidade e não apenas um dispositivo para o turismo e lazer.
Variações de modais
Modais são modos de locomoção, ou seja, os tipos de transporte. Nas cidades do futuro, com menos trânsito, será preciso variação de modais. Além da bicicleta e a pé, outras formas de locomoção, os modais, vão ganhar força, principalmente o transporte coletivo.
Ônibus, metrô, aquaviário, balsas, ciclovias e avenidas serão interligados. Mas, para que as pessoas sejam incentivas a usarem os transportes públicos coletivos, ele deverá ser de qualidade, com pontualidade, com segurança e conforto.
Outra tendência é dar prioridade nas vias aos transportes de massa, para que eles carreguem mais pessoas em menos tempo. Veículo leve sobre trilhos (VLT) e as faixas exclusivas para ônibus serão comuns.
Zoneamento e bairros mais compactos
O conceito de zoneamento ou bairros compactos é estruturar a cidade de forma que as pessoas tenham acesso a todos serviços básicos, como escola, saúde, trabalho e lazer, a uma distância confortável para ir a pé. Algumas cidades trabalham com projetos de 15 ou 20 minutos de distância. Dessa forma, estimula as pessoas a deixarem o carro e optarem por modais não motorizados.
Outra tendência são os condomínios com dispositivos que evitam os grandes deslocamentos, como mini bairros, com academia, padarias e até consultórios, que pode ser dentro ou ao redor dessas construções.
Edifícios garagens
O objetivo é diminuir o número de carros, não eliminá-los. Por isso, uma tendência que será presente nas cidades do futuro serão os edifícios garagens, que serão integrados com outros modais não motores. Serão projetos para desestimular o uso do carro, mas que facilite as pessoas a transitarem pelas cidades de outras formas.
Fonte: Especialistas consultados.
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