“Produtos podem colocar a vida em risco", diz delegado sobre cerveja falsificada
Segundo o delegado, a análise também vai avaliar a adulteração, comparando o produto encontrado e uma amostra da cerveja original de marca nacional
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Muito além dos prejuízos de comprar gato por lebre, consumir bebidas falsificadas pode representar riscos também para a saúde.
O titular da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon), delegado Eduardo Passamani, afirmou que amostras de cervejas falsificadas foram enviadas para perícia no Laboratório da Polícia Civil e para o Laboratório Central (Lacen).
“Será feita uma análise para saber o que isso pode causar ao consumidor. O entendimento preliminar é que, a partir do momento que você abre uma garrafa para trocar a tampa, num ambiente exposto a condições insalubres, a lixo, e depois tampa novamente, a condição sanitária ideal da fabricação foi perdida. Isso pode colocar em risco a vida do consumidor”, reforçou o delegado.

Segundo ele, a análise também vai avaliar a adulteração, comparando o produto encontrado e uma amostra da cerveja original de marca nacional. Essas amostras já foram solicitadas à fabricante.
Ele revelou que, pelo que foi encontrado, o local clandestino tinha condições insalubres. “O local era cheio de lixo, pois era feita a raspagem da rotulagem e ficava pelo chão. As caixas onde eram armazenadas as tampas, por exemplo, eram jogadas de qualquer jeito.”
O bolsista de pós-doutorado do Núcleo de Análise de Alimentos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Yhan Mutz, enfatizou que a adulteração das cervejas é feita de forma frequente pela troca de tampas e rótulos dos produtos. “Além do prejuízo do produtor, a prática resulta em perigos ao consumidor.”
Segundo ele, de forma geral, nem sempre se sabe a origem da cerveja na qual o rótulo está sendo adicionado, não podendo garantir que todo o processo de qualidade produtivo foi seguido.
Além do prejuízo ao consumidor do ponto de vista de receber um produto de qualidade inferior ao que pagou, ele ainda apontou que cervejas que não passam por processos adequados têm risco de sofrer contaminação.
“Elas podem conter microrganismos que, além de deteriorar a cerveja, ainda podem causar danos a saúde.”
E completou: “Além disso, no caso da troca de tampas, se a mesma for feita em ausência de assepsia e de condições higiênico-sanitárias adequadas pode haver aí outro meio de contaminação do produto, oferecendo assim mais riscos”, destacou Mutz.
Empresários lamentam a fraude
Representantes do comércio e indústria contam que, além da falsificação de bebidas fortalecer a concorrência desleal, ela também aproxima o setor de atividades ilegais, como o próprio tráfico.
“Os fornecedores falam que é tudo igual, que a bebida falsa é feita com a mesma receita, às vezes até fornecem notas fiscais falsas”, relata o diretor da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin.
O diretor da Fecomércio destaca que o esquema ilegal mobiliza diversos setores. “Isso ocorre no varejo, tem grandes redes de distribuições, com grandes fábricas, há fabricantes de rótulos, é uma cadeia”, explica.
A presidente do Sindicato das Indústrias de Bebidas (Sindibebidas-ES), Juliana Reggiani, informou que a prática cresceu durante a pandemia. “Houve um aumento de mais de 10%. O maior alvo de falsificação são os destilados, principalmente a cachaça”, conta.
O Sindicato de Bares, Restaurantes e Similares (SindBares) foi procurado, mas informou que não vai se manifestar.
Como identificar a falsificação
Excesso de gás e cheiro de álcool são sinais
Preços baixos
> É preciso desconfiar de descontos exorbitantes ou valores mais baixos que os praticados no mercado.
> Bebidas caras e raras são preferidas pelos criminosos. Eles optam por investir em produtos que oferecem maior rentabilidade, afirmou o vice-presidente da Fecomércio-ES, João Elvecio Faé.
Atenção a rótulo e embalagem
> Vale a pena analisar o rótulo, verificando as condições da embalagem e da tampa.
> Apesar de ter falsificações muito boas circulando, alguns produtos são adulterados de forma manual, com imperfeições na colagem de rótulos, com dobras e ranhuras
Vale olhar o lote e a validade
> Sinais na própria bebida
> Desconfie do líquido se ele apresentar micropartículas ou sujeiras
> Em caso de bebidas alcoólicas, o excesso de gás pode representar falsificação
> Cheiro: caso sinta um odor muito forte de álcool, tome cuidado.
Fonte: Especialistas consultados.
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