Histórias de moradores que residem em casas e prédios antigos de Vitória
Uma das cidades mais antigas do País, Vitória tem moradias com mais de 50 anos que guardam curiosidades de gerações
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Para muitos, moradia é mais do que somente um teto sobre quatro paredes. São locais que guardam histórias – de pessoas, famílias, gerações e, por vezes, de uma cidade inteira.
Vitória é um exemplo disso. Uma das cidades mais antigas do País, a capital capixaba possui casas e prédios com mais de meio século de história, abrigando moradores nativos e vindos das mais variadas partes do Brasil.

No Centro, por exemplo, é possível encontrar casas construídas a partir de 1913 que resistem ao tempo e ainda são ocupadas por moradores. São pessoas que viram a transformação da cidade da própria janela.
A maioria dessas casas ficam em regiões como a Cidade Alta, o Parque Moscoso e a Rua Sete, que é endereço do aposentado Celso Lamarca Cavalieri, 80 anos, e de sua mulher, Zilda Queiroz Cavalieri, 89.
O casal mora em uma casa construída no dia 15 de dezembro de 1960, como consta no documento emitido pela prefeitura. Grande parte da vida deles foi no sobrado, que hoje já pode ser considerado uma construção histórica da região.
“Sempre gostei de morar aqui. Além da casa, gosto da região, pois é bem localizada e posso fazer tudo que preciso sem usar o carro”, afirmou Celso.
Quando a expansão territorial de Vitória passou a avançar para outras regiões longe do Centro, na década de 1970, parte da história mudou de endereço.
E foi nesta expansão que nasceu o condomínio Mirante da Praia, que neste mês completa 50 anos de existência. Ele foi construído em uma região ainda pouco habitada, e na época era voltado para moradia de baixo custo. “Mas ninguém imaginava que o bairro iria crescer tanto”, comentou o síndico Álvaro Antônio Rodrigues, 70.

O bairro em questão é a Praia do Canto, região que, na época, era praticamente inabitada. Hoje, são 231 famílias morando no condomínio. Uma delas é a da microempresária Rosangela Nogueira, de 61 anos, e de seu marido Rogério Nogueira, 87, que criaram as duas filhas no local. “Nossas memórias mais afetivas estão neste apartamento”, afirmou Rosângela.
O Mirante da Praia, inclusive, testemunhou o crescimento da região. Quando foi inaugurado, ele estava próximo da praia e chamava a atenção de longe. Hoje, ainda ostenta uma vista privilegiada, mas é separado do mar por grandes avenidas, prédios e a Praça dos Namorados, que na época não existia.
Você sabia?
Vitória possui diversos edifícios com moradores há mais de meio século, como o Edifício Manhães de Andrade (65 anos), Edifício Colombo (54), Edifício Régulus (52) e Edifício Gaivota (50), no Centro; e o Edifício Mirante da Praia (50), na Praia do Canto.
Lembranças afetivas
Música no coração do Centro

A música faz parte da história e pulsa forte do Edifício Gaivota, que completou meio século de existência no centro de Vitória. É lá que moram Tânia Silveira, Rick Vieira e Elaine Rowena, que compartilham o amor pela música e fizeram o local ficar famoso em todo o mundo.
Em 2020, durante o isolamento da pandemia, músicos do prédio passaram a tocar e cantar por lá. Quando a cantora lírica Elaine Rowena se apresentou, cantando Ave Maria, as luzes dos quase 97 apartamentos se acenderam e os moradores acompanharam pela janela. O vídeo da apresentação viralizou até na Europa. “Foi uma época complicada em que nos apoiamos, e arte foi muito importante”, afirmou Rowena.
Ninho capixaba

Cristina Costa deixou a casa dos pais, em Pernambuco, aos 8 anos de idade com destino certo: o apartamento da irmã no Edifício Manhães de Andrade, na Rua Sete, centro de Vitória. E lá se vão cinco décadas morando por lá.
“O apartamento tem uma história familiar muito bonita, de amor, acolhimento e afeto. Deixei meus pais em Pernambuco para vir morar em Vitória. Depois, eles também vieram e a família pernambucana virou capixaba. Aqui é meu ninho. E na região eu fiz minha história como comerciante, empregando muitas pessoas”, conta a aposentada, hoje com 65 anos.
No endereço da cultura

Construída em 1960 no centro de Vitória, a casa do dramaturgo, ator e produtor cultural José Celso Cavalieri, 54 anos, tem ligação direta com o que ele vive.
“Me tornei figura conhecida por morar aqui, trabalhar com cultura e frequentar a Rua Sete. Sempre frequentei a região, os barzinhos, os eventos. Quando eu era professor de artes, trazia meus alunos para conhecer o local, eles amavam a arquitetura e a cultura da região”, contou Celso.
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