“Fazer rapel é mais fácil que passar pelas ruas”, diz cadeirante
Afirmação é de Thais Lopes, 28, sobre as vias da Grande Vitória. Ela realizou sonho de praticar o esporte
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A auxiliar administrativa Thais Lopes se tornou cadeirante aos 24 anos, após ser diagnosticada com uma doença rara e realizar uma cirurgia de vida ou morte.
A jovem encontrou no esporte uma forma de lidar com a realidade diferente. Agora, aos 28 anos, ela descobriu um novo horizonte: o rapel.
A realização do sonho de descer o Morro do Moreno, em Vila Velha, de rapel, foi tão possível que Thais conta que nem sequer sentiu medo e, no dia a dia, enfrenta desafios até maiores.
“Eu fiquei tranquila. Foi como se eu estivesse acostumada. Na verdade, fazer rapel é mais fácil do que circular nas ruas da Grande Vitória e enfrentar o preconceito da sociedade”.
Apaixonada pela sensação de adrenalina, a moradora da Serra descobriu a possibilidade de praticar o esporte após ver uma publicação no Instagram. Ela concretizou o sonho no último sábado, 12.
“Sempre tive vontade de praticar esportes radicais. Nunca me senti tão livre quanto no momento em que desci o Morro do Moreno de rapel. Foi a sensação de sonho realizado, eu nem sabia que era possível”.
Thais foi diagnosticada com a doença de malformação arteriovenosa medular, um problema congênito no sistema vascular, já em estágio avançado, há quatro anos.
Com o diagnóstico, o médico avisou que a jovem corria um sério risco de morte e que, mesmo após cirurgia, caso sobrevivesse, ficaria paraplégica.
“Foi muito difícil, mas eu precisava estar ao lado da minha filha Naúmy (hoje com 10 anos). Valorizo mais do que tudo estar ao lado da minha filha”.
O primeiro ano como cadeirante foi de adaptação e ela conta que o esporte proporcionou novas expectativas. Por algum tempo, ela preferia se isolar, mas transformou seu olhar sobre a vida com o jiu-jitsu.
“No começo, eu tinha problemas com a aceitação. Quanto mais nos privamos, mais doente ficamos. Nossos maiores obstáculos estão em nós mesmos. O jiu-jitsu transformou a minha vida e estou pronta para viver melhor e mais feliz”.
A jovem se prepara, desta vez, para conhecer o voo duplo de parapente, e está já se programando para voar do Morro do Moreno ou das Falésias de Nova Almeida, na Serra.
“Foi como se eu tivesse asas”, diz Thais Lopes
A beleza ao olhar a cidade de cima, sentir o vento e vivenciar uma mistura de sensações, como a euforia, a ansiedade e a liberdade, fizeram Thais Lopes se apaixonar pelo rapel.
O medo nunca dominou a jovem da Serra. Abrir os braços e se entregar a todos esses sentimentos, a 184 metros de altura, foi como criar asas, conta ela.

A Tribuna – Qual foi a sensação de fazer o rapel?
Thais Lopes – Me senti no topo da cidade. Tem várias paisagens lindas, como a vista para o Convento e para a Terceira Ponte. Me senti livre para tudo, foi como se eu tivesse asas, como se eu estivesse voando. Para a sociedade, é impossível imaginar uma cadeirante praticando rapel.
O que te encorajou a realizar o esporte?
Quando vi a publicação de uma pessoa cadeirante no rapel, percebi que nada pode ser barreira. Entendi que, com uma equipe adaptada, poderia realizar meu sonho e busquei marcar o dia. Ninguém sabia, peguei todos de surpresa. Minha filha só soube depois da foto.
Você sempre gostou dessa sensação de adrenalina?
Sim, sempre. Tanto que eu fiquei tranquila, não travei em nenhum momento. Era algo que queria muito e, por isso, tinha muita certeza do que estava fazendo. Nada pode ser barreiras para os meus sonhos.
Pretende se aventurar em outros esportes?
Já estou marcando o voo duplo de parapente e pretendo fazer o pêndulo e a tirolesa também. Já estou empolgada com tudo e não estou com medo. Não vou amarelar.
O que diria a outras pessoas com deficiência que têm o mesmo sonho?
Se eu tivesse desistido, talvez nem estaria aqui. Nunca se privem de viver. Não temos motivos para nos escondermos. Me aceito e quero ser cada vez mais feliz.
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