Câncer de pele e os perigos à luz do sol
A maioria dos brasileiros vive uma história de amor com o sol. Num país tropical, é comum que as pessoas tenham hábitos praianos, incluindo banhos de mar, esportes aquáticos, passeios de barcos e tudo que envolve essa estreita relação.
Isso porque essas são atividades de lazer que remetem às mais prazerosas sensações de bem-estar e liberdade. E quando falo em brasileiros, incluo os capixabas num grupo bem especial. Afinal, as belezas das nossas praias, rios e cachoeiras dispensam explicações para tais preferências.
Mas essa relação com o sol, que muitas vezes começa na infância, também pode pecar pelo exagero e, assim, trazer complicações à saúde ao longo da vida. Todos os anos, são realizadas campanhas e encabeçados movimentos para alertar a população sobre os perigos da exposição ao sol sem os devidos cuidados.
Contudo, às vezes, o problema não está na falta de informação, mas na resistência em romper com hábitos que, embora nocivos, boa parte dos casos não traz comprometimentos graves à saúde a curto prazo. E, na cabeça de muitos, nunca irá trazer.
Vale lembrar que o câncer de pele não melanoma é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no País. Apresenta altas chances de cura quando detectado e tratado precocemente, mas pode deixar sequelas estéticas e até funcionais, dependendo da área afetada.
Apesar de ser mais comum em pessoas com mais de 40 anos, a constante exposição dos mais jovens aos raios solares sem proteção (ou protegidos incorretamente) tem contribuído para a queda da idade média dos casos.
Como a exposição solar tem efeito cumulativo, cada vez que o indivíduo se desprotege, aumentam-se as chances da doença surgir em algum momento da vida.
Na sociedade ocidental, a cor bronzeada tornou-se sinônimo de beleza e até saúde, mas a prevalência de câncer de pele no Brasil mostrou claramente que um bronzeamento descuidado é sinal de problema.
Mais do que a mudança de hábitos, o desafio está em entender as consequências desse processo devastador. Tomar sol com sol com moderação, filtro solar e no horário adequado não faz mal. A exposição moderada e com proteção até traz benefícios, como o fortalecimento da estrutura óssea, por exemplo. No entanto, o exagero pode aumentar as estatísticas já altas dos casos de tumores cutâneos.
A mudança de hábitos também ajuda a mudar a cultura, com exemplos saudáveis a serem copiados pelas nossas crianças e jovens. Que eles aprendam a priorizar a saúde também durante as férias, na alegria dos dias na praia, na piscina ou onde quer que queiram estar saboreando as delícias da alta estação. Evitar o câncer (e também outras doenças) requer hábitos saudáveis no dia a dia.
Que os dias ensolarados sejam apenas sinônimo de lazer, boas lembranças e a espera saudável de aproveitar todos os próximos verões com saúde.
Virgínia Altoé Sessa é médica oncologista