Estudo explica amor maior dos avós pelos netos
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Não é de hoje que a relação entre netos e avós chama a atenção pelo sentimento único – às vezes, parece até que eles amam mais o pequeno do que os próprios filhos. Embora costume ser só uma impressão, em alguns casos, é possível que essa “preferência” se torne realidade.
Um estudo publicado na revista científica The Royal Society, no mês passado, mostrou que as avós possuem mais atividades neurológicas nas áreas do cérebro relacionadas à afetividade com os netos do que com os filhos.
Durante a pesquisa, foram analisadas as atividades cerebrais de 50 avós, enquanto elas olhavam fotografias que comparavam os rostos de vários membros da família e de pessoas desconhecidas.
O mapeamento apontou que elas são orientadas a sentir o que seus netos estão sentindo e que há uma maior relação de empatia entre os dois.
Para a psicóloga Natane Moysés, o fato de ser uma relação sem tantas responsabilidades e com uma maior experiência de vida por parte dos avós proporciona esses momentos especiais.
“É um vínculo capaz de trazer benefícios tanto para os avós quanto para os netos, com menor chance de desenvolver ansiedade e depressão e uma maior capacidade de socialização”, afirmou.
O terapeuta familiar e colunista de A Tribuna, Cláudio Miranda, defendeu também que esse laço costuma ser saudável e, por isso, não é possível afirmar que os avós “estragam os netos”.
“Além disso, acredito que gostar dos netos é diferente do amor que se tem pelos filhos. Não é questão de amar mais ou menos, é um amor diferente”, avalia.

Com a chegada do primeiro neto, tudo mudou na vida da empresária aposentada Margarida Casagrande, de 63 anos. Além de dividirem o mesmo lar, hoje, ela e Lorenzo, de 11 anos, têm uma grande amizade. “Tudo o que não fazia para os meus filhos, faço pelo Lorenzo. É um amor em dobro, a avó ama o filho e o filho dele”, conta.
Na casa dos avós Elias Sanglard, de 68 anos, e Marilda Sanglard, de 66, sempre há um momento do dia reservado para aproveitar ao lado de Marina, de 8 anos, Heitor, de 4, Olívia, de 1 um ano, e Miguel, de 7.

“A gente vê neles aquilo que não tivemos tempo de apreciar nos nossos filhos. Eles também são mais puros. Não imaginava que era tão bom. É uma paixão diferente”, acredita Elias.
Respeito aos pais
Vontades controladas
Para agradar a neta, o representante comercial Luiz Carlos Vasconcelos, de 63 anos, e Bernadete Caseira, de 57, avô paterno e avó materna de Liz, de 5 anos, gostam de fazer todas as vontades da pequena – mas tomando os devidos cuidados.
“Por causa do amor que sinto por ela, é difícil não ser um pouco 'babão'. Mas, ainda que eu tente ser o mais presente possível, busco não interferir na sua criação. Seria desrespeito com os pais”, afirma Luiz.

Melhora da inteligência emocional
A pesquisa
um estudo do pesquisador James Rilling, que foi publicado no mês passado, na revista científica The Royal Society, analisou 50 avós que afirmaram ter relacionamentos ótimos e com um alto nível de envolvimento emocional com os netos.
o antropólogo submeteu as avós a ressonâncias magnéticas funcionais, exames que medem a mudança de fluxo sanguíneo no cérebro.
Para isso, as avós observaram imagens dos netos biológicos, dos filhos, das crianças e de adultos desconhecidos, além da nora ou do genro.
Resultados
O mapeamento do cérebro delas mostrou que o órgão teve mais reações olhando para os netos do que para as outras imagens exibidas durante o teste. Ou seja, as áreas do cérebro relacionadas à empatia emocional (a porção que favorece o compartilhamento de sentimentos e a criação de conexões) ficaram mais ativas.
De acordo James Rilling, os resultados sugerem que as avós são orientadas a sentir o que seus netos estão sentindo quando interagem com eles, que há um forte sentimento de empatia na relação deles.
Rilling disse que “se o neto está sorrindo, elas estão sentindo a alegria do filho. E se seu neto está chorando, elas estão sentindo a dor e angústia da criança”.
Fatores neurológicos
de acordo com o neurocirurgião Walter Fagundes, a ressonância magnética, usada na pesquisa, proporciona maior atividade nas células de áreas específicas no cérebro. Com isso, é possível diagnosticar o que traz mais felicidade ou tristeza para a pessoa, por exemplo, ou qual música mais a atrai.
Walter Fagundes afirmou ainda que, pela pesquisa ter selecionado somente avós que possuíam boa relação com o neto, isso pode ter interferido nos resultados.
Benefícios
especialistas avaliam que a relação entre avós e netos costuma ser mais benéfica do que maléfica. Vale a pena citar a melhora da inteligência emocional, bom rendimento na escola e menos chance de doenças como Alzheimer.
porém, é preciso ficar atento para não atrapalhar na criação da criança e não mimá-la demais, orientam os especialistas.
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