Motoristas reclamam de espera de 1 mês por boletim de ocorrência de acidentes
Motoristas reclamam da demora para receber boletim, registrado de forma online e exigido por seguradoras para fazer conserto do carro
Escute essa reportagem
Além do transtorno de se envolver em acidentes de trânsito, motoristas do Estado estão esperando até um mês para ter o Boletim de Ocorrência (BO) registrado pela Polícia Militar.
A demora tem causado prejuízo, já que o documento é necessário para usar o seguro, por exemplo.
Desde junho deste ano, os acidentes de trânsito sem vítimas não são mais atendidos presencialmente pelo Batalhão de Trânsito da Polícia Militar. Os envolvidos precisam registrar o boletim pela internet, no site da PM ou do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

A novidade tem dado dor de cabeça para muitos motoristas, que reclamam da demora para ter o BO liberado. É o caso da professora Andreia da Silva Diniz, de 40 anos, que mora em Vitória e trabalha na Serra. No trajeto, um carro furou o sinal e colidiu com o veículo dela no dia 10 de outubro.
Andreia preencheu as informações no mesmo dia do acidente, mas espera pelo boletim até hoje. “Preciso do BO para a seguradora consertar o carro. Estou indo trabalhar usando transporte por aplicativo. É um prejuízo enorme”.
Semanas depois, ela recebeu um e-mail indicando que uma informação estava incompleta. Mesmo fazendo a correção no sistema, ainda aguarda pelo boletim. “Se fosse feito no momento do acidente, as informações teriam sido passadas e o boletim já estaria pronto.
Sistema
No início do ano, o sistema online foi testado em Vitória, sendo implantado em toda a região metropolitana em junho. Na época, o plano do Detran-ES e da Polícia Militar era implantar o mesmo procedimento em todo o Estado.
Morador de Cachoeiro de Itapemirim, João Luiz Rangel também se envolveu em um acidente e ficou um mês aguardando pela emissão do boletim. “Tudo fica dependendo de análise e conclusão da PM para ser impresso”.
O jornalista Erick Almeida, 32, se envolveu em um engavetamento em Vila Velha, em março. Ele preencheu todos os dados e ficou esperando por 10 dias, sem retorno. Somente ao ligar para o setor responsável é que obteve respostas. “Disseram que ‘tive azar’. Aí, sim, liberaram o boletim. Ia ficar por isso mesmo se não tivesse feito o contato”. Agora, a viatura só vai até o local se houver vítima.
Mais 15 mil processos em análise
Enquanto os motoristas aguardam pela emissão do Boletim de Ocorrência (BO), os registros se acumulam no Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPtran). No momento, mais de 15 mil estão em análise, segundo o BPtran.
Em muitos casos, o processo fica travado por falta de informações. Os motoristas alegam que isso poderia ser evitado se o BO fosse registrado no momento do acidente ou de forma presencial.
“As inconsistências são apresentadas aos condutores através do e-mail informado no boletim online. Até que as informações sejam retificadas, o processo permanece parado. Ao finalizar todas as correções, o prazo é de 10 dias úteis, após a conclusão das declarações apresentadas pelas partes”, informou o BPtran, em nota.
De acordo com o Batalhão, os boletins são confeccionados pelo sistema, de forma automática, e com base no que foi descrito pelos condutores. “As consistências das informações são analisadas por policiais militares destacados para essa função”.
A reportagem questionou quantos policiais trabalham nesta análise, mas não obteve resposta.
Atraso ocorre por falta de informações, diz polícia
Diante de tanta demora alegada pelos motoristas, o Batalhão da Polícia de Trânsito (BPTran) informa que, neste ano, já foram realizados 7.618 atendimentos online para a confecção de boletins, cerca de 54 por dia, desde junho. Isso tudo fora os 15 mil em análise.
O chefe do setor de ocorrências do BPTran, tenente Célio Martins, reitera que o processo é liberado em até 10 dias úteis, caso todas as informações sejam apresentadas corretamente. Se faltam informações, há atraso.
“Os envolvidos têm até três dias corridos, após o dia do sinistro, para apresentar a declaração. A partir daí, contam-se os 10 dias úteis para a liberação do BO, desde que as informações não apresentem inconsistências”.
O Batalhão recomenda que o motorista envolvido em um acidente de trânsito tenha atenção às exigências descritas no boletim.
“Um fato comum é o condutor que descreve danos estruturais do veículo ou situações não presentes nas imagens enviadas ou em desacordo com o histórico da ocorrência, dados indispensáveis à comprovação do fato descrito. Quando isso acontece, o processo é bloqueado na análise e imediatamente acionamos o condutor, por e-mail ou telefone. Muitas vezes, não temos retorno”.
O tenente destaca que, em muitos casos, os motoristas exageram nos depoimentos, alegando prejuízos irrecuperáveis, os chamados danos de monta, diferentes daqueles apresentados nas imagens enviadas ao preencher os dados para o boletim.
De acordo com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), sinistros de média ou grande monta necessitam de uma vistoria mais criteriosa.
Desta forma, um laudo é emitido pelo Instituto Tecnológico Legalizado (ITL), que analisa se o veículo tem ou não condições de circular normalmente nas estradas.
“Ou seja, se o dano de média ou grande monta não estiver adequado ao ocorrido, a seguradora poderá não aceitar o boletim, gerando mais atraso e prejuízo ao condutor. Para evitar essa situação e também para chancelar a veracidade das informações apresentadas, os policiais são criteriosos em suas análises”, afirma o tenente.
SAIBA MAIS
Como está o procedimento
Antes do sistema online, as viaturas da polícia se deslocavam ao local do acidente quando os veículos não conseguiam mais se locomover após a colisão. Essa prática era feita para o registro da ocorrência.
Desde junho deste ano, os policiais não vão mais até o local, mesmo nos casos em que os veículos não sejam retirados pelos motoristas, que são responsáveis pela remoção.
o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar só se desloca até o local do acidente em caso de ocorrências com vítimas.
Boletim online
agora, os condutores precisam fazer o registro do boletim de ocorrência pela internet sempre que não houver vítimas no acidente.
Como registrar o boletim
Acessando o site detran.es.gov.br ou pm.es.gov.br/boletimtransito.
Depois, clicar em Boletim de Trânsito e iniciar o passo a passo, respondendo perguntas, inserindo dados pessoais, endereço do acidente, identificação do condutor e detalhes da ocorrência.
Ao final, é possível salvar o documento ou imprimir.
Caso o acidente seja com vítima, o sistema indica ligar para o 190.
Já se for em uma rodovia federal, a orientação é para que o registro seja feito no site da PRF.
Fonte: Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES) e pesquisa AT.
Comentários