Montanha de 712 metros vira nova rota da fé no Estado
Além de amantes da aventura, um dos pontos mais altos de Cachoeiro, a Pedra do Caramba, tem atraído grupos religiosos
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A Pedra do Caramba, um dos pontos mais altos de Cachoeiro de Itapemirim, com 712 metros, e que atrai amantes da aventura, transformou-se em roteiro religioso no Sul do Estado. Grupos de jovens vão até o alto da montanha para fazer orações e rezar o terço. Até missa já foi realizada no topo.
A busca da montanha como um local religioso teve como pontapé inicial o esforço de um grupo de amigos que, há oito anos, instalou de forma voluntária uma pequena capela com a imagem de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado. No topo, já existia uma imagem de Jesus Cristo.
Sem saber, eles ajudaram a reviver uma tradição que estava no esquecimento há quase 50 anos. No passado, a comunidade subia ao topo da pedra para rezar e fazer festa em homenagem à padroeira.
Atualmente, a caminhada está sendo organizada pela Paróquia do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, no bairro Paraíso. A previsão dos católicos é subir no dia 4 de dezembro, um sábado, com possibilidade de adiar para o dia 11, caso o tempo não esteja bom.
O padre Arlindo Toneta realizou a primeira missa no cume da montanha no dia 5 de dezembro de 2020, quando ele completou 70 anos de idade. Agora, planeja os detalhes da segunda aventura.

“Estamos chamando os jovens ou demais pessoas que tiverem condições de chegar ao topo. Vamos nos concentrar na base da montanha às 6 horas para subir, cada um carregando sua água, um lanche. Lá no alto, celebraremos a Santa Missa”, explicou o sacerdote.
A proposta é fazer uma partilha no cume do monte, com lanche, suco e água que todos levarem. Segundo o padre, a meta é fazer a caminhada anualmente. Já está no calendário da paróquia de 2022.
“Vamos unir esporte, lazer, evangelho e alegria, pois Jesus era um grande caminhante. Ele caminhava com o povo. Era um esportista, um atleta, não era homem de gabinete, mas caminhava com o povo”, destacou.
A microempresária Rubia Kelly, 42, disse que está animada. Ela vai subir com o marido, Anderson Sobrinho, 44. “Será a primeira vez que iremos lá. É algo diferente. É bom estar em um lugar aberto, uma conexão da fé com as coisas que Deus criou”, disse.
Caminhada exige boa disposição e preparo físico
O topo do Caramba possui um visual privilegiado. Do alto, é possível avistar o mar e todas as montanhas ao redor. O local possui também uma pequena caverna. Mas a chegada exige muita disposição e cautela.
O vendedor Viana Boreli, de 50 anos, que foi ao topo várias vezes, explica que é uma subida de nível difícil. Um trecho passa por laje de pedra íngreme em que é preciso subir por um cabo de aço fixo no local.
Com a ajuda de um grupo de amigos, Viana construiu no dia 28 de setembro de 2013 a capela em homenagem à padroeira do Estado, Nossa Senhora da Penha, um sonho de um tio dele, Sebastião Arruda, que já morreu.
“Levamos água e um pouco de cimento. Fizemos com pedras que achamos lá em cima. A primeira imagem era de gesso. Não resistiu, mas uma tia, de Vila Velha, nos deu uma outra imagem de resina, que é mais resistente, e está lá até hoje”, contou.

Missa com jovens da região no topo da pedra
A primeira caminhada religiosa, no dia 5 de dezembro de 2020, foi organizada para celebrar o Ano Missionário Jovem e para comemorar os 40 anos de sacerdócio e 70 anos de idade do padre Arlindo Toneta.
Segundo o coordenador paroquial Daniel Domingos de Almeida, como estava no Ano da Juventude e não era possível celebrar em ambientes fechados, devido à pandemia, decidiram levar os jovens à Pedra do Caramba.
“É uma forma de renovar nosso ardor missionário, ter um contato mais íntimo com Deus, crescer espiritualmente”, destacou.
A microempresária Ester Maitan, de 21 anos, participou da caminhada em 2020 e quer retornar. “É uma experiência única. Não é uma subida fácil, principalmente para mim, que não gosto de altura. Lá em cima é uma sensação de paz gigantesca, algo inexplicável”, ressaltou.
Festas em homenagem a Nossa Senhora

A montanha que virou roteiro de fé em Cachoeiro leva o nome de um antigo morador, Sebastião Venceslau, que tinha o apelido de Caramba. Devoto de Nossa Senhora da Penha, ele realizava anualmente, no alto da pedra, uma grande festa em homenagem à santa.
“Começava na sexta-feira, continuava no sábado e ia até domingo. Eu fui várias vezes lá. Ficava cheio. Vinha gente de vários lugares”, conta o neto de Caramba, o aposentado Geraldo Corrêa, de 71 anos.
Segundo ele, o avô era muito conhecido e querido, apesar de morar isolado no alto da montanha. Duas vezes por mês, ele descia, trazendo café, frutas, palmito e outros produtos para vender.
“Quando vinha, ficava quase uma semana. Bebia até ficar chapado. Comprava querosene, sal, trigo, carne-seca, um litro de pinga. Colocava no balaio e depois subia. Às vezes, trazia uma sanfona para tocar”, lembra o neto.
Caramba teve quatro filhos. Um morreu picado de cobra. Ao ficar idoso, veio morar no bairro São Geraldo, com a mulher, Filisminda.
A mulher de Geraldo, Nivalda Corrêa, 69, salienta que gostava muito do Caramba e que, no dia em que ele morreu, pediu para vê-la. “Fiquei um tempo, depois saí para dar banho nas crianças”, recorda. Quando retornou, pouco tempo depois, ele já não estava vivo.
COMO CHEGAR
São 2,5 km de subida a pé em trilha

- A pedra do Caramba está situada em uma área rural perto bairro São Geraldo, em Cachoeiro de Itapemirim, próximo ao limite com Atílio Vivácqua.
- A referência é a escola da Apae, localizada pouco antes da subida da estrada de chão em direção à pedra. A partir do bairro São Geraldo é possível seguir por mais
- 5 km de carro até o pé do morro de acesso à montanha.
- São 2,5 km de subida a pé em trilha de nível difícil.
Fonte: Pesquisa AT.
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