Vacas produzem mais leite ao ouvir "sofrência" em fazenda no Estado
Vacas de fazenda de Alfredo Chaves dobram a produção ao ouvir sucessos de cantores como Marília Mendonça e Bruno e Marrone
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Um simples aparelho de rádio do pecuarista Osvaldo Benincá, 54 anos, fez aumentar de 250 para 500 litros diários a produção de leite de sua fazenda, em Alfredo Chaves, no Sul do Estado. O segredo, segundo ele, está na “sofrência”, o gênero musical mais tocado no curral.
Benincá explica que, ao ouvir as músicas, as vacas não se distraem durante a alimentação e, consequentemente, produzem mais leite.
“Elas (as vacas) prestam atenção no som e ficam mais tranquilas. Sempre coloco na rádio local, e as vacas parecem gostar. Ouvem de tudo: de sertanejo até ‘sofrência’. A música dobrou a nossa produção”, afirmou o pecuarista.
De modelo antigo, o rádio é colocado de maneira estratégica no meio do curral da Fazenda Santo Antônio, na zona rural de Alfredo Chaves, para que as 29 vacas da raça girolando possam ouvir o som. Na lista dos sucessos mais ouvidos estão Bruno e Marrone, Felipe Araújo, Marília Mendonça, Simone e Simaria, Maiara e Maraisa, e Jorge e Mateus.
“A gente se beijando e o mundo caindo, um inconformado e dois doido varrido, e os convidados de queixo caído, me vendo levar ela embora comigo..", cantado por Bruno e Marrone e Jorge e Mateus, toca a cada ordenha.
“Barulhos podem desconcentrar as vacas. Assim, até as músicas com batidas mais fortes atrapalham. Já a música mais calma faz a vaca ficar concentrada. Ela fica mais quieta, faz a alimentação e libera o leite”, explica Benincá.
A música é a sua principal aliada na fazenda e o bom tratamento a cada animal já rendeu muitos prêmios ao pecuarista. As suas vacas são as mais premiadas no concurso de gado leiteiro da Festa da Banana e do Leite, evento oficial de Alfredo Chaves. O trabalho na fazenda começa cedo e envolve toda a família. Osvaldo cuida dos animais e faz a ordenha com a ajuda da mulher, Rosália Benincá, 54, e o filho mais novo, Gabriel Benincá, 24.
A médica veterinária Jacinta Tomazini e o auxiliar de veterinária Clovis Rangel, que cuidam do gado há 15 anos, garantem que o aumento na produção leiteira e a melhoria no comportamento das vacas têm mesmo ligação com as músicas. Eles prestam serviços para a Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (Clac), para onde o leite do pecuarista é vendido.
Vacas recebem nome de gente

Um costume antigo na Fazenda Santo Antônio é dar nome às vacas. “Temos a Paulinha, Aninha, a Fortaleza, a Fartura, Petrina. O animal se apega. Se ele é tratado bem, se sente bem e produz mais leite”, conta o pecuarista Osvaldo Benincá.
Nos horários da extração do leite, cada vaca espera enfileirada para ser chamada por nome de gente. “É só chamar que elas vêm. Todas já sabem que têm de ir para a ordenha quando as chamamos. Algumas estão vendo a fila andar e já sabem até quando é sua vez”, diz.
O médico veterinário da Secretaria de Agricultura de Alfredo Chaves, Paulo Otavio Natali, cita que estudos comprovam os benefícios de se dar nomes às vacas. “Pesquisadores descobriram que esse gesto simples interfere muito na produção de leite na Inglaterra”, relata.
Produção vai até para fora

Toda a produção de leite do pecuarista Osvaldo Benincá é destinada à Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (Clac), que atua na produção de leite longa vida, manteiga, queijo frescal, iogurte e outros derivados. Os produtos vão até mesmo para fora do Estado.
O atual presidente da cooperativa, Rolmar Botechia, destacou que a Clac comemora 57 anos este mês, e que foi fundada para auxiliar os pecuaristas da região.
“O leite é recolhido nas fazendas pelos caminhões da cooperativa. Na sede da Clac, fazemos a coleta do leite quando chega, para saber da sua qualidade. Dificilmente dá problema. Há produtores que não entregam leite todos os dias, enquanto outros entregam todos os dias”, explicou Botechia.
A função da cooperativa, segundo ele, é comercializar o leite dos pequenos produtores, como Osvaldo Benincá, e ajudá-los a crescer e ter mais renda. São 300 produtores e eles entregam, ao todo, 25 mil litros de leite diariamente, de sete municípios: Alfredo Chaves, Anchieta, Guarapari, Piúma, Rio Novo do Sul, Iconha e Itapemirim.
“Nosso produtor tem acesso a uma tecnologia de ponta, através da parceria que temos com o Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo) e a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)”, disse.
“A gente não pensa em dinheiro, a gente pensa neles, no bem-estar das famílias deles. Damos assistência em medicina veterinária, compra de equipamentos, de ração. Buscamos parcerias com prefeitura e com o Estado”, detalhou Rolmar Botechia.
“Os nossos produtos vão para a merenda escolar dos municípios e, na nossa cooperativa, gira em torno de R$ 6 milhões por ano, que vão parar no bolso dos produtores”, completou.
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