Fuzis e pistolas comprados dentro da lei vão parar nas mãos de criminosos
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Cada vez mais armas de grosso calibre, como fuzis, metralhadoras ou mesmo armamentos menores, estão chegando nas facções criminosas do Estado. Muitas delas vão parar nas mãos de bandidos com ajuda de quem consegue comprar o equipamento de forma legal.
Investigações da Delegacia Especializada de Armas, Munições e Explosivos (Desarme) revelam que casos de pessoas que conseguem comprar armamentos de forma legal — passando por todo o processo para a posse e porte pela Polícia Federal — e revendem para criminosos estão cada vez mais comuns no Estado.
“É um dos grandes problemas que estamos enfrentando. O pessoal está comprando a arma legalmente e, além de emprestar, está vendendo essa arma para criminosos. Além disso, eles também compram munições e repassam”, disse o delegado Christian Waichert, titular da Desarme.

Entre os modelos que estão sendo revendidos para bandidos, o delegado citou as pistolas de calibre.40. Mas integrantes da segurança pública, bem como especialistas em armas, afirmam que até as armas pesadas, como fuzis comprados para a prática esportiva, estão sendo desviadas para o crime.
Sobre o perfil de quem está repassando para o crime, Waichert citou alguns casos, entre eles o de uma cigana que foi presa nos últimos dias em Jaguaré, no Norte do Estado.
“Ela estava emprestando arma. Os traficantes estão usando qualquer pessoa para conseguir esses armamentos, mas principalmente quem não tem passagens pela polícia porque fica mais fácil conseguir o registro”, disse o delegado.
Marlos Borges, especialista em armas de fogo e instrutor de tiro, disse que já recebeu propostas indevidas para facilitar o processo de compra de arma e recusou todas.
Ele acredita que as pessoas que compram armas para repassar a criminosos são os próprios envolvidos no crime.
“Pessoas de bem não fazem isso”, observou.
OS NÚMEROS
Armas apreendidas no Estado:
- 2.954 até julho deste ano
Munições
- 4.4739 até julho deste ano
Estrangeiras
- 143 armas estrangeiras foram retiradas das ruas
- 100 armas eram americanas
- 43 armas eram austríacas
ENTENDA
Esquema
- Pessoas que não têm problemas com a justiça e estão aptas a adquirirem armas de fogo dão entrada na posse de arma (direito de comprar o armamento).
- Ao conseguirem a autorização, que é feita pela Polícia Federal, e após adquirirem o armamento, essas mesmas pessoas revendem ou até mesmo emprestam as armas para bandidos do Estado.
Prisões
- A Delegacia Especializada de Armas, Munições e Explosivos já identificou e prendeu algumas pessoas que estão agindo dessa forma.
Cigana
- Até uma cigana foi presa após emprestar uma arma para bandidos em Jaguaré, no Norte do Estado.
Ameaças
- De acordo com fontes policiais e especialistas em armas, muitas pessoas dão entrada no pedido de posse de armas depois de terem sido obrigadas por traficantes.
- Algumas delas chegam até a sofrer ameaças dos criminosos para “emprestarem o nome” e aparecerem como proprietárias das armas que serão, depois, usadas para proteger o tráfico de drogas.
- Entre as pessoas que são obrigadas a colocar as armas nos nomes delas e, depois, repassarem aos bandidos estão parentes e até vizinhos dos criminosos.
Tipificação
- De acordo com a Lei nº 10.826, do Estatuto do Desarmamento, quem compra uma arma de forma legal e vende ou empresta para o crime, responde por comércio ilegal de arma de fogo e pode pegar até 12 anos de prisão.
Homicídios
- Segundo dados da Polícia Civil, aproximadamente 90% dos 735 homicídios registrados no Estado, de janeiro a agosto deste ano, foram cometidos com emprego de arma de fogo.
Fonte: Polícia Civil.
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