Advogadas são condenadas por participação em quadrilha
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Duas advogadas foram condenadas a mais de 30 anos de prisão por envolvimento em uma organização criminosa que leva droga para dentro da cadeia. Na sentença, assinada pelo juiz Eliezer Mattos Scherrer, na última terça-feira, 10 pessoas são denunciadas por fazerem parte do esquema.
Uma das condenadas, a advogada Márcia Borlini Miriam Sanches foi presa na última quarta-feira e é apontada como a responsável do esquema do lado de fora da cadeia, e por conseguir as drogas para o interno do Centro de Detenção Provisória de Guarapari, Rogério Alvarenga Carvalho Filho.
A intermediária de Márcia seria a advogada Joyce da Silva Boroto, que possui relação de confiança com um agente penitenciário que seria o responsável por levar as drogas para dentro do presídio.

Em agosto do ano passado, próximo ao Fórum de Guarapari, um agente recebeu R$ 1 mil de Joyce da Silva Boroto, como parte do valor para o trânsito da droga.
As ações eram específicas para o presídio de Guarapari, mas consta na sentença que ficou evidenciada que a advogada Márcia Borlini mantinha um relacionamento com o interno Rogério Alvarenga Carvalho Filho e que já entrou com drogas em outros presídios, como no de Viana.
Segundo o delegado Guilherme Eugênio, no início o ano passado, ele recebeu o comunicado do diretor da unidade de Guarapari sobre as drogas no presídio com a participação das advogadas.
Em depoimento, o diretor do Centro de Detenção Provisória de Guarapari alegou que recebeu a informação antes da investigação, diretamente do inspetor dizendo que a advogada ofereceu dinheiro a ele para entrar com drogas na unidade prisional.
Já o inspetor, que recebeu autorização judicial para continuar agindo infiltrado, informou que a advogada Joyce da Silva Boroto fez a oferta mais de uma vez e na segunda vez, Joyce entregou as drogas em uma sacola dizendo que era para o inspetor colocar dentro do presídio. Mas, ao receber um não, a advogada o intimidou dizendo que a sua vida estava em jogo.
Joyce e Márcia foram condenadas a 33 anos, 8 meses e 18 dias de reclusão e multa. Já Rogério foi condenado a 21 anos, 4 meses e 15 dias. Um outro acusado foi condenado a 17 anos, 10 meses e 15 dias.
Organização é ligada ao PCC, diz delegado
Em depoimento, o delegado de polícia Guilherme Eugênio explicou que um acusado já possuía mandado de prisão expedido, pois ele era foragido por um homicídio em Cariacica; junto com Rogério é apontado como membro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O PCC é uma facção criminosa brasileira que comanda assaltos, sequestros, assassinatos, tráfico de drogas e rebeliões em presídios, e outros crimes. Considerada pelo Ministério Público a maior organização criminosa do País e da América Latina, foi criado em 31 de agosto de 1993 no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté (SP), conhecido como Piranhão.
Ainda segundo o delegado, Rogério seria o líder de dentro da cadeia da organização criminosa acusada de levar droga para os presídios.
“Quando o denunciado foi para a prisão e um outro assumiu o comando, a Márcia passou a levar inúmeros recados de Rogério para o substituto com as coordenadas necessárias para a gestão dos negócios, como a compra e venda de drogas e muitas compras de armas”, disse o delegado, em juízo.
Em defesa, o condenado Rogério não confirmou os fatos narrados na denúncia, e disse que conhece Márcia e Joyce como advogadas. Além disso, informou que não mexe com drogas e que não participa do PCC.
A reportagem tentou entrar em contato com a defesa da advogada Márcia Borlini, mas sem retorno.
Já a OAB-ES informou que está acompanhando o caso e acrescentou que tomará as providências cabíveis, observando o Código de Ética e Disciplina e as prerrogativas da advocacia.
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