Desabafo de Luísa Sonza
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Foi apropriando-se das palavras que mais escutou nos últimos seis anos que Luísa Sonza, 23, usou sua arte para colocar pra fora o peso de ser uma das maiores estrelas pop da atualidade.
“Put*, vagabunda, interesseira”, fala a gaúcha logo de cara em “Intere$$eira”, música de abertura de seu segundo e recém-lançado disco, “Doce 22”. “Esse álbum representa um desabafo, uma parte da minha vida expressada em música”, explica a cantora em entrevista exclusiva ao AT2.
O novo projeto chega após o retorno de Luísa às redes sociais, depois de período afastada por conta dos ataques de ódio. E seu sucesso tem sido uma boa resposta para eles. O projeto se tornou a maior estreia de álbum nacional em 2021 no Spotify, com todas as canções no Top 70 da parada brasileira na plataforma.
“Lançar o álbum me devolveu a vida, me devolveu a vontade de continuar”, garante a artista, que, no sábado, estreia o programa “Prazer, Luísa” (Multishow).
Apesar dos primeiros singles, a dançante “VIP *-*”, com o norte-americano 6lack, e a vulnerável “Melhor Sozinha :-)-:”, alcançarem bons resultados, uma música segue se destacando. Trata-se da melancólica “Penhasco”, interpretada pelo público como uma canção sobre o relacionamento dela com o ex-marido, Whindersson Nunes.
“Quando segurei sua mão / Você soltou a minha / E ainda me empurrou do penhasco”, canta ela, nessa sofrência pop que está no top 10 das mais ouvidas do Spotify Brasil.
Os fãs pediram tanto para que ela trabalhasse a canção, que, na última semana, a faixa ganhou um lyric video inspirado na entrevista da escritora Clarice Lispector para Júlio Lerner na TV Cultura, pouco antes dela falecer. “Essa música é muito delicada para mim”, salienta.
“Doce 22” é um misto dessa Luísa que, pela primeira vez, expõe suas fragilidades, com o pop dançante e empoderado pelo qual a cantora já é conhecida. E ainda tem como destaque a parceria da cantora com Lulu Santos em “Também Não Sei de Nada :D”.
O trabalho também traz outras colaborações, não disponíveis nesse primeiro momento. São elas: “Café da Manhã ;P”, com Ludmilla, “Fugitivos :)”, com Jão, e “Anaconda *o*”, com a americana Mariah Angeliq.
“Lançar o álbum me devolveu a vida”
AT2 Teve de adiar o lançamento de seu segundo álbum por continuar sofrendo ameaças nas redes sociais. Foi uma decisão difícil?
Luísa Sonza Não foi uma decisão difícil. Eu nem pensei duas vezes em parar. Eu não tinha a mínima vontade de continuar, a mínima vontade de trabalhar naquele momento. Então, resolvi dar uma pausa e pausei até onde deu. Depois disso, eu realmente não podia, porque tinha contratos a cumprir, tem uma empresa inteira para movimentar... E tive que voltar.
Hoje em dia, entendo que foi importante para mim porque lançar o álbum me devolveu a vida, me devolveu a vontade de continuar.
Precisava se reconstruir antes de dar esse importante passo?
Foi importante, mas eu não sinto que eu me reconstruí por causa de dias. Acho que para você se reconstruir leva muito tempo, meses, anos...
Essa retomada do trabalho te traz um sentimento de que ninguém pode te fazer desistir dos seus sonhos, te parar, te calar ou calar a sua arte?
Não me traz esse sentimento. Para mim, é muito óbvio. Ninguém pode fazer ninguém desistir do sonho, nem parar, calar... A única pessoa que pode me fazer parar sou eu mesma, e eu não vou fazer isso. Então, eu só continuei uma coisa que jamais pensei em desistir.
O álbum leva o título de “Doce 22”. Apesar dos pesares, tenta ver o estágio de sua vida hoje com leveza? Como se sente aos 23 anos?
Nossa meta é viver a vida com leveza, mas acho que, para todo mundo que inicia a vida adulta, os 20 e poucos anos são meio doidos. O povo fala muito sobre a adolescência, mas acho que o pior período é depois da adolescência. Pelo menos, para mim. Mas é isso. Seguimos!
Quando as composições do disco foram feitas?
As composições foram feitas durante esses 14 meses e não teve nenhuma que eu fiz depois do afastamento das redes sociais. Esse álbum representa um desabafo, uma parte da minha vida expressada em música.
Através do disco, busca se conectar com pessoas que foram vítimas de ataques virtuais como os que você sofreu?
Eu estou entregando um trabalho para quem quiser ouvir, para quem se identificar, independente se você sofreu ataque nas redes sociais ou não, ou sofreu ataques de outras maneiras. A vida é muito mais que as redes sociais. Acho que as pessoas vão se conectar de várias formas.
De que forma suas raízes gaúchas estão presentes nesse novo trabalho? O que mais influenciou esse projeto?
Eu me influenciei muito pela música nativista, que muitas pessoas falaram até que tem referências de música espanhola, mas eu vejo muito como nativista. Acabei pegando muitas referências da música nativista, principalmente em “O Conto dos Dois Mundos (Hipocrisia)”. E também nas histórias gaúchas.
Essa música vem da história da Anita Garibaldi, e é sobre essa guerreira dos dois mundos. E de várias outras maneiras também implícitas, que nem eu sei. Até porque é uma coisa que vivi. Sou gaúcha, vivi até os 17 anos lá, então o álbum é um mix de tudo que eu sou.
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