“Sou aliado, mas não alienado”, disse o senador, Marcos Do Val
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Eleito para um mandato político pela primeira vez, em 2018, o senador capixaba Marcos do Val (Podemos) faz parte da base aliada de Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso. Porém, em episódios como o duelo entre o Presidente e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, de quem é admirador, o parlamentar se viu em uma espécie de sinuca de bico.
Afirmando ser “aliado do governo, mas não alienado”, Do Val disse, em entrevista para A Tribuna, que o juiz, símbolo da Operação Lava a Jato, poderia ter saído de outra forma, como também acredita que o Presidente deve dar menos declarações polêmicas.
Apesar das investidas do procurador-geral da República, Augusto Aras, contra a operação, ele não acredita em seu fim e aproveita para elogiar o trabalho do procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, que na última semana deixou a força-tarefa alegando problemas pessoais. Ele responde a dois processos disciplinares no Conselho Nacional do Ministério Público.
A independência que afirma ter no plano nacional, ele também garante que terá nas eleições municipais deste ano, onde promete não apoiar candidatos do Podemos só por serem do seu partido.
A Tribuna - O senhor relatou o pacote anticrime do ex-ministro Moro, que trata de corrupção. E em agosto apresentou PEC que também trata do tema. O que tem na proposta que não foi contemplado no pacote?
Marcos do Val - Não é que não tenha sido contemplado, mas quando é uma PEC vai para a Constituição, passa a ter muito mais peso, entra na Carta Magna, que é a maior lei que o País tem. A PEC vai colocar no maior patamar e dar a importância que o tema merece ter no Brasil.
A Tribuna - O que o senhor destaca na proposta?
Marcos do Val - A alteração vai irradiar os efeitos para todo o ordenamento jurídico brasileiro, influenciando tanto na atividade do legislador quanto no trabalho de interpretações realizado pelos operadores do Direito.
Com isso, impedirá a elaboração de qualquer norma ou a produção de qualquer interpretação que privilegie atos que lesem o erário ou o interesse público e, consequentemente, prejudiquem a sociedade brasileira.
A Tribuna - O senhor foi ameaçado por conta do pacote anticrime do Moro. Cessaram as ameaças?
Marcos do Val - Por questão de segurança não posso falar sobre isso.
A Tribuna - O senhor é considerado governista e também um admirador do trabalho do Moro. O ex-ministro saiu do governo acusando-o de intervir na Polícia Federal. Qual sua opinião?
Marcos do Val - Na verdade, ele estava acusando as tentativas do governo de interferir, mas não que tivesse ocorrido, senão ele teria sido conivente. Tenho uma relação de amizade com o Moro, mas acho que havia outras formas para ele sair.
Não poderia ter tomado uma decisão com emoção. Falei com ele. Ele como juiz federal tinha uma autonomia grande e dentro do governo tem que seguir as regras da democracia onde a velocidade não é a mesma. Ele se frustrou com isso.
A Tribuna - O senhor mudou a sua visão sobre ele?
Marcos do Val - Não. A forma que ele rompeu que eu achei que não foi a melhor, mas isso não muda a figura de um brasileiro que combateu a corrupção durante 22 anos.
A Tribuna - O Augusto Aras, indicado pelo Presidente, é um crítico da Lava a Jato e tem investido contra ela. Como avalia isso já que o senhor também é um defensor da operação?
Marcos do Val - Nós do “Muda Senado”, grupo que conta com 20 senadores, fizemos uma sabatina com o Aras. O que ele justificou foi em relação à hierarquia do Ministério Público Federal. É como se um general não tivesse conhecimento do que os soldados estivessem fazendo.
Ele disse que não é questão de interferir na operação, mas de ter ciência do que está acontecendo, fazer com que a Corregedoria tenha acesso ao trabalho para que o órgão não seja partidário.
Ele diz que hoje não conseguiria saber, pois tiram e colocam no sistema (investigações) sem ele saber o que entrou e o que saiu. O Aras também disse que era importante a oxigenação da equipe. Mas ao conversar com o Deltan Dallagnol ele contra argumentou dizendo que eles foram preparados para combater a corrupção e que desfazer a equipe para colocar outra sem a mesma expertise não trará o mesmo resultado.
A Tribuna - Como avalia a saída do Dallagnol da operação?
Marcos do Val - Tenho muita admiração por ele. Na sabatina que também fizemos com o Deltan, ele estava respondendo processos. Ele não fez nenhum questionamento de forma pessoal, sempre de forma técnica. Também disse que a Corregedoria tem sim acesso (às investigações e base de dados da operação).
A Tribuna - O senhor acredita no fim da Lava a Jato?
Marcos do Val - Acredito na continuidade. Ela foi jogada para mais um ano, a Lava a Jato é um patrimônio do Brasil, não vejo possibilidade de desfazer.
A Tribuna - Como avalia o governo Bolsonaro?
Marcos do Val - Pelo que escuto nos corredores do Congresso, é um presidente que não é corrupto, seus ministros também não são. Agora de ministros para baixo não sei. É um governo que tem suas falhas, comete seus erros e tem falas polêmicas que, se fossem faladas menos, seria melhor.
Sou aliado, mas não alienado. Sou muito questionador. Quando o Presidente indicou o filho para embaixador, falei que não iria apoiar. Mas isso não significa que vou trabalhar para ser oposição.
A Tribuna - E a condução do Presidente em relação à pandemia?
Marcos do Val - Ninguém viveu essa pandemia em outro momento da história, difícil ter uma posição sem um parâmetro. Se fosse uma segunda, terceira seria mais fácil citar pontos positivos e negativos.
A Tribuna - O senhor pegou Covid-19 e disse que usou a cloroquina. Acredita no remédio?Marcos do Val - Eu acredito no que o médico diz. Tem médico que acredita em homeopatia, outros não. Meu pai é médico atuante aos 83 anos e me pediu para ajudar os médicos a receitarem a medicação. Percebi uma coisa cruel, as classes média e alta estão tomando a medicação, a classe baixa não, e é a que mais está perdendo a vida. Pode ser coincidência, mas pode ser também que daqui a 10 anos se comprove a eficácia. O que não podemos é fechar mais uma frente de batalha.
A Tribuna - Em relação às eleições deste ano, pretende apoiar alguém?
Marcos do Val - Eu tenho uma palavra que dei, que ainda não tive tempo de sentar para conversar para oficializar o apoio, foi com o Fabrício Gandini (deputado, candidato a prefeito de Vitória).
Ele é um cara do bem, na época fiquei encantado com a atuação dele na minha campanha e disse que, se um dia ele fosse candidato em qualquer outra pasta, poderia contar comigo. Ele merece estar na esfera política.
Se ele não fosse candidato e o meu partido (Podemos) me apresentasse outro eu não ia apoiar só por ser do Podemos. Em Vila Velha, é a grande polêmica, o Podemos tem candidato e eu não vou apoiar. Vou apoiar o coronel Wagner Borges, que não sei nem qual é o partido dele. Ele foi outro que ajudou bastante em minha campanha e de forma 0800. Mas isso não significa que o candidato do Podemos é alguém que eu desconfie. Não, é porque eu dei minha palavra lá atrás para o coronel.
A Tribuna - E em Cariacica e na Serra?
Marcos do Val - Serra não tenho ideia. Em Cariacica vou oficializar apoio ao Adilson Avelina (PSC), que já me assessorou, é uma pessoa fantástica.
Se eu apoiar 10 pessoas no Estado, será muito. Por isso falam que sou uma pessoa politicamente incorreta, pois não sigo os padrões da velha política.
QUEM É
> Marcos Ribeiro do Val, de 49 anos, foi eleito senador nas eleições de 2018, ocupando pela primeira vez um cargo eletivo. Seu mandato tem duração de oito anos, até 2026.
> Nascido em Vitória, Do Val é militar da reserva do Exército brasileiro.
> Também é instrutor, consultor e palestrante na área de segurança pública.
> Ficou conhecido por conta dos treinamentos que oferecia na SWAT, a polícia especializada dos Estados Unidos.
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