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Saúde

Especialistas explicam efeitos de remédios e de tratamentos contra a depressão

Especialistas esclarecem dúvidas sobre medicamentos, sintomas e causas da doença, que afeta 11 milhões de brasileiros


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Imagem ilustrativa da imagem Especialistas explicam efeitos de remédios e de tratamentos contra a depressão
Helayne Montebelo, diagnosticada com depressão há 8 anos, faz tratamento com remédios e exercícios físicos |  Foto: Kadidja Fernandes/ AT

Sentimentos de incapacidade, pessimismo e irritabilidade, associados à perda de prazer, baixa autoestima e desregulação do apetite e do sono.

Esse conjunto de sintomas, quando duradouros, caracterizam uma doença psiquiátrica que afeta mais de 11 milhões de brasileiros: a depressão.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior prevalência de diagnósticos do transtorno depressivo nas Américas. Com isso, os antidepressivos e estabilizadores de humor estão entre os medicamentos mais prescritos.

Para desmistificar a depressão e esclarecer dúvidas sobre os efeitos dos medicamentos, o tratamento, os sintomas e as causas da doença, o jornal A Tribuna entrevistou quatro médicos psiquiatras que lidam diariamente com o tratamento de pacientes deprimidos.

O psiquiatra Valdir Campos esclarece que o tempo de tratamento depende de como o transtorno depressivo se apresenta em cada paciente. “Esse tempo é relativo à necessidade do medicamento produzir alterações no sistema nervoso central”, explica.

Os tratamentos em psiquiatria são sempre combinados, logo, é importante o paciente realizar psicoterapia e fazer atividade física, defende o médico.

Quando foi diagnosticada com a depressão, há cerca de oito anos, a personal trainer Helayne Montebelo, de 46 anos, não fazia ideia do que era realmente a doença. Desde então, entrou em uma jornada de autocompreensão, autoconhecimento e de adotar um estilo de vida saudável.

Nos dias mais difíceis, a fé, a rede de apoio, a exposição ao sol da manhã e a corrida compõem os cuidados que a fortalecem. Hoje, ela adota um tratamento medicamentoso aliado a outros cuidados de saúde.

“A depressão é uma doença séria, que precisa de tratamento. A sociedade tem mudado o imaginário sobre a pessoa depressiva, mas há muito a caminhar. Temos de aprender a nos autorregular, mas há dias e dias. Deus me guia sempre. Quando consigo resgatar a corrida em mim, ela me resgata ainda mais”.

Os números

- 11 milhões de brasileiros sofrem com a depressão

- 10,1 milhões de brasileiros fazem psicoterapia

- 58% foi o aumento da comercialização de antidepressivos entre 2017 e 2021


Tira-dúvidas

- Como é o diagnóstico da depressão?

“A avaliação de sintomas, com escuta ativa do paciente, é o primeiro passo para o diagnóstico. Exames médicos, incluindo histórico e exame físico direcionado, também são importantes para o diagnóstico e para descartar condições médicas não psiquiátricas.

A neuroimagem pode ser recomendada para pacientes com início dos sintomas depressivos no final da vida para descartar eventos cerebrais ou o aparecimento de outras anormalidades”.

- Quais são os objetivos do tratamento medicamentoso?

“Os objetivos do tratamento são alcançar a remissão sintomática, recuperar o pleno funcionamento, restaurar a qualidade de vida e prevenir a recorrência, garantindo a segurança do paciente e a aceitabilidade dos tratamentos.

Objetivos específicos devem ser individualizados usando uma abordagem centrada no paciente, ou seja, esses objetivos dependem do histórico de cada um.

A remissão dos sintomas, definida como a resolução ou quase resolução dos sintomas, é um alvo importante do tratamento agudo”.

- Como é feita a escolha do medicamento para o paciente?

“A escolha do tratamento inicial para o transtorno depressivo deve ser tomada de forma colaborativa entre o médico e o paciente.

O compartilhamento de informações deve incluir a gama de possíveis tratamentos, a gravidade da depressão, a situação pessoal, as expectativas e as preferências do paciente”.

João Paulo Cirqueira, psiquiatra

- Quais são os protocolos de tratamento nas fases da depressão?

“Há diretrizes para o modelo de tratamento de duas fases: as agudas e as de manutenção.

Na fase aguda, devemos abordar a segurança do paciente e selecionar tratamentos baseados em evidências para reduzir a gravidade e aliviar os sintomas.

Na fase de manutenção, devemos consolidar a remissão dos sintomas, restaurar o funcionamento e a qualidade de vida aos níveis pré-mórbidos”.

- Qual é o tempo estimado de tratamento com antidepressivo?

“Depende do transtorno apresentado pela pessoa. Existe, hoje, um consenso de que, em um primeiro episódio do transtorno depressivo, a pessoa usa o antidepressivo por um período de um ano.

Já quando a pessoa tem um transtorno do pânico é recomendado que o medicamento seja utilizado por dois anos.

Em um transtorno obsessivo-compulsivo, pelo menos, uns três anos. O tempo é relativo à necessidade do medicamento produzir alterações no sistema nervoso central”.

- Antidepressivos viciam?

“Não. Os antidepressivos são medicamentos de controle especial, ou seja, que não geram dependência física. Entretanto, ao retirar o medicamento, a pessoa pode ter a síndrome da retirada do antidepressivo.

No caso de pessoas que têm transtorno depressivo recorrente, com mais de três episódios, há a possibilidade de que elas tenham de usar o medicamento ao longo da vida para prevenir as próximas crises”.

Valdir Campos, psiquiatra

- Há grupos de pessoas mais vulneráveis à depressão?

“Sim. A depressão tem um componente genético. Então, se há uma tendência familiar a apresentar depressão, essa pessoa é mais vulnerável do que aquela que não tem diagnósticos na família.

Contudo, só o fator biológico, genético, não é determinante, porque existem outros fatores psicológicos e sociais. Então, de certa forma, esses fatores podem aumentar o estresse dessa pessoa.

Diante de estresse mais intenso, ela pode vir a desencadear o que ela é vulnerável, no caso, a depressão”.

- Os antidepressivos afetam a libido?

“Nem todos os antidepressivos afetam a libido. Existe uma classe de antidepressivos que nós conhecemos como inibidores seletivos de recaptação de serotonina que podem, sim, alterar a libido.

Nos demais antidepressivos, esse risco é menor. Existe uma classe de antidepressivos que, inclusive, aumenta a libido. São os antidepressivos da classe da recaptação da dopamina.

Precisamos lembrar que o paciente deprimido, muitas vezes, já tem baixa da libido”.

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