Ciência explica por que câncer atinge mais jovens
Fatores genéticos e envelhecimento precoce do sistema imunológico são motivos. No ES, em 2024, foram 3.303 diagnósticos em pessoas entre 20 e 45 anos
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Quando estava prestes a completar 32 anos, em 2017, a turismóloga Juliana Davel Padoani sentiu entre sua mama e axila um caroço. Na época, morando na Inglaterra, ela até procurou pelo médico, mas ouviu que era muito nova para ter um câncer e que o câncer não “doía”.
Só que o que não era nada se transformou em dores intensas, que atingiram a sua coluna. Veio então o diagnóstico: câncer de mama e fígado, com metástase óssea na coluna, quadril e externo.

O caso de Juliana não é incomum: adultos jovens cada vez mais são atingidos pelo câncer. No Espírito Santo, em 2024, foram 3.303 diagnósticos em pessoas entre 20 e 45 anos, enquanto em 2021 foram 2.516. A reportagem ouviu especialistas para entender de que forma a ciência explica esse fenômeno.
“A ciência tem, de fato, investigado possíveis explicações, que vão desde fatores ambientais e comportamentais, até aspectos genéticos e imunológicos”, destaca o doutor em Imunologia da Universidade Federal do Espírito Santo Daniel Gomes.
Fabio Fortunato, gerente substituto da Área Técnica Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), destaca que a prática insuficiente de atividade física (sedentarismo), a alimentação inadequada, o excesso de peso (sobrepeso e obesidade) e o consumo de bebidas alcoólicas estão relacionados a mais de 10 tipos de câncer, dentre eles os mais frequentes na população brasileira, como o de mama, colorretal (intestino) e estômago.
Mas as infecções virais (HPV, HIV, hepatites B e C, Epstein-Barr) e bacterianas (H. pylori) desempenham um papel importante no desenvolvimento de alguns tumores em pacientes jovens, ressalta a oncologista Erika Barreto, do Hospital Santa Rita. “Quando combinadas a fatores de risco, podem contribuir para o surgimento do câncer”.
No caso de Juliana, citada no início da matéria, ela afirma que não havia fator de risco para a doença e chegou a fazer um teste genético. A descoberta da doença veio com a notícia da gravidez do filho Leonardo, hoje com sete anos.
Juliana, que está com 38 anos, voltou para o Brasil, ainda está em tratamento, e durante esses quase sete anos escreveu dois livros sobre sua história.
“Existe vida após o diagnóstico, ele não é uma sentença, mas a vida é diferente. É um dia de cada vez, um passo de cada vez”.
“Nunca perdi a esperança de continuar vivendo”

Um quadro de constipação intestinal e muitas dores abdominais persistentes levaram o secretário escolar Pedro Theodoro a procurar um médico. Ele passou por tomografia e recebeu o diagnóstico de câncer de intestino de grau 4, no ano passado, aos 34 anos. Pedro operou em junho o intestino, retirando a maior parte dos tumores. Hoje ele usa a bolsa de colostomia e ainda faz quimioterapia.
“Nunca perdi a esperança de que iria continuar vivendo, mesmo sendo algo bem grave e com tratamento paliativo. Estou em quimioterapia desde que fui liberado após a cirurgia e provavelmente farei as sessões enquanto eu viver”, conta o jovem, de 35 anos.
Especialistas


Como prevenir
Alimentação
Alimentação rica em alimentos ultraprocessados, com alto teor de açúcares simples, gorduras trans e aditivos químicos, está associada ao aumento do risco de obesidade que, por sua vez, é fator de risco consolidado para pelo menos 13 tipos de câncer, segundo a Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC).
Atividade física
De acordo com um estudo divulgado no periódico científico Cadernos de Saúde Pública, 72,5% das pessoas acometidas pelo câncer no Brasil têm vida sedentária.
Cigarro e álcool
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que, em 2020, houve 740 mil casos de câncer devido ao álcool em todo mundo. Já o tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer, sobretudo o de pulmão, boca, faringe e esôfago.
Tratar infecções
Pesquisadores apontam que infecções virais e inflamatórias fazem com que haja estímulo para proliferação celular. Em alguns casos, isso pode contribuir para o surgimento de neoplasias, especialmente em tecidos epiteliais (pele, mucosa e boca).
Alguns dos tumores mais preocupantes em jovens
Mama
Doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há vários tipos, sendo que alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente.
Cólon e reto
Também chamado de câncer de intestino, abrange os tumores que se iniciam no intestino grosso, chamado cólon, e no reto (15-12 cm finais do intestino, imediatamente antes do ânus). É tratável e, na maioria dos casos, curável ao ser detectado precocemente.
Pulmão
O tabagismo é a principal causa de câncer de pulmão. A exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, enfisema pulmonar e bronquite crônica, fatores genéticos e história familiar de câncer de pulmão também favorecem o surgimento desse tipo de câncer.
Próstata
É o tipo de câncer mais comum no homem e o segundo em mortalidade. Sabe-se que quanto mais precoce o seu diagnóstico, maior a chance de cura da doença. Seu rastreamento é feito através de exame de sangue (PSA) e do toque retal.
Colo do útero
O câncer do colo do útero é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV). Esse vírus é sexualmente transmissível. As vacinas contra o HPV são importantes para prevenir infecções por estes vírus.
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