Chip hormonal para homens melhora o sexo? Médicos opinam
Especialistas explicam que o implante não é indicado para esse caso. Orientação é investigar as causas da disfunção erétil
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O assunto “chip hormonal” ganhou destaque nos últimos dias após o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmar que usa o “remédio” para melhorar a vida sexual. Mas será que realmente funciona?
O primeiro ponto que deve ser esclarecido, de acordo com o endocrinologista Mario Sergio Zen, é que a disfunção erétil tem inúmeras causas, como depressão, ansiedade, estresse, causas neurológicas (como derrame - AVC), diabetes, aterosclerose (placas de gordura nas artérias), cigarro, álcool em excesso e deficiência de testosterona.
“Logicamente que, se existe uma quantidade gigante de causas, não se trata isso dando testosterona para todo mundo, isso é bom senso. Tem de tratar a causa base e ver qual é o problema da pessoa para fazer o tratamento adequado”, afirma.
Em nota publicada em novembro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve a proibição da comercialização e do uso de implantes hormonais manipulados à base de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com finalidade estética, ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo.
“Existem outros medicamentos aprovados pela Anvisa e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia que são os mais adequados para tratar a deficiência de testosterona. Não é implante hormonal”, frisa Mario Sergio.
Segundo a Anvisa, só podem ser manipulados implantes hormonais contendo insumos farmacêuticos ativos (IFAs) que já tiveram sua eficácia e segurança avaliadas pela Anvisa, ou seja, medicamentos que têm ou que já tiveram registro na Agência.
O urologista Fernando Chagas, diretor da Unifert, explicou que para o homem fazer a reposição hormonal com testosterona, precisa ser diagnosticado com deficiência ou baixa na produção do hormônio (hipogonadismo).
“Uma vez diagnosticado a baixa ou deficiência da testosterona, e após uma ampla e minuciosa avaliação das condições físicas e mentais do paciente, tendo os cuidados com as contraindicações absolutas, poderá ser orientado quanto ao uso da testosterona”.
O urologista Camilo Milanez ressaltou que a disfunção erétil e o hipogonadismo são situações distintas. “Elas podem andar juntas ou não. Na maioria das vezes, o paciente tem uma disfunção erétil e a testosterona dele está normal. Hoje tem um lobby muito grande para a gente repor testosterona e existe uma reposição sem necessidade. Tem que ser muito criterioso”, destaca.
Uso pode causar AVC
Entre as preocupações que as sociedades médicas têm quanto ao uso de implantes hormonais estão as complicações de saúde, como elevação do colesterol e até acidente vascular cerebral (AVC).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta ainda, dentre as principais complicações observadas em pacientes que fazem uso destes implantes manipulados, elevação de triglicerídeos no sangue (dislipidemia), hipertensão arterial e arritmia cardíaca.
“Além disso, também pode ocorrer crescimento excessivo de pelos em mulheres (hirsutismo), queda de cabelo (alopecia), acne, alteração na voz (disfonia), insônia e agitação”, alerta a agência.
O endocrinologista Mario Sergio Zen alerta ainda que o outro problema com o uso do produto é o bloqueio da produção endógena - produção própria de testosterona. “Isso vai gerar infertilidade em longo do prazo, o testículo vai ficar pequeno e vai causar uma série de problemas dessa linha, além de outras questões”.
“É muito comum ouvirmos, por exemplo, que uma pessoa teve morte súbita, e quando vamos investigar a fundo, via de rega essas pessoas jovens que têm morte súbita são usuárias de anabolizantes. Tudo isso leva a uma sobrecarga cardíaca, ocasionando a morte”, explica o endocrinologista.
Fique por dentro
Chip hormonal
Implantes hormonais são formulações inseridas sob a pele e manipuladas mediante prescrição e sob responsabilidade do médico.
Proibição
A Anvisa proíbe a manipulação, a comercialização e o uso de implantes hormonais à base de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos para fins estéticos, esportivos ou de ganho de massa muscular.
Segundo a Agência, implantes hormonais manipulados, popularmente conhecidos como chip da beleza, não foram submetidos à avaliação da Agência e não existem produtos semelhantes devidamente registrados para fins estéticos, tratamento de fadiga ou cansaço e sintomas de menopausa. A utilização de implantes hormonais manipulados pode trazer graves riscos à saúde.
Quando indicar reposição?
DE acordo com o CFM, esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) podem ser prescritos desde que justificado para o tratamento de doenças como hipogonadismo (deficiência de testosterona), puberdade tardia, micropênis neonatal e caquexia.
Fonte: Anvisa e Conselho Federal de Medicina (CFM).
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