A luta contra a depressão: “Por muito tempo falaram que era frescura”
Hoje, é na filha, de 6 anos, que ela busca forças para superar a doença
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Desde a adolescência lidando com altos e baixos, com sentimentos de profunda tristeza e melancolia, para uma profissional da área da saúde, de 35 anos, foi preciso lidar sozinha com o problema durante muitos anos para finalmente ser diagnosticada com depressão.
“Muita gente, por muito tempo, dizia que era frescura. Falava para eu levantar da cama e ir fazer alguma coisa. Não entendiam”, revelou.
Hoje, é na filha, de 6 anos, que ela busca forças para superar a doença. Porém, o uso de medicação e a psicoterapia ainda são necessários.
A Tribuna – Desde quando convive com a depressão?
Profissional da área da saúde – Há muitos anos convivo com a doença. Desde a adolescência já tinha problemas de baixa autoestima, tinha sentimentos negativos, altos e baixos. Mas foi somente após minha filha nascer que fui diagnosticada. Na época, todos achavam que era uma depressão pós-parto, por isso busquei ajuda.
Procurou um médico?
Sim. Mas ele disse que o meu caso não era algo pontual, pós-parto, mas uma depressão que vinha de muitos anos. Desde então eu passo por momentos bem e por momentos de recaída. Me mudei de cidade, sozinha. Isso piorou ainda mais a situação.
Chegava ao ponto de não querer fazer nada. De não ter vontade de fazer nada. Ainda tomo medicamentos de forma contínua para tratar a doença, e preciso de psicoterapia.
Está bem desde então?
Por vezes, sim, mas outras não. Sei que preciso de acompanhamento. Há alguns anos, cheguei a ter síndrome do pânico, de me sentar no chão e começar a chorar sem parar. Achava que ia morrer.
Até hoje, quando fico sem tomar a medicação, ainda fico ansiosa, achando que pode acontecer algo. Minha força para tudo ainda é a minha filha, pois sem ela acho que já teria feito algo pior. Sempre que me sinto triste, olho para ela, penso nela.
A pandemia agravou em algo o problema?
Durante o ano de 2020, por causa da pandemia, tive de ficar sem minha filha durante quase 10 meses. Foi um período superdifícil, de pensamentos horríveis. Como trabalho em hospital, minha filha precisou ficar com meus pais, e eu a via, no início, a cada 15 dias. Depois aos finais de semana.
Foram muitas noites de choro. Eu precisei trabalhar mais e acho que foi o que me distraiu. Eu sabia que precisava continuar porque ela precisa de mim.
No que a depressão prejudicou a sua vida todos esses anos?
Nas minhas relações pessoais, principalmente no trabalho. Tive muita dificuldade de estar com as pessoas, sempre achando que não era capaz de fazer as coisas, que não poderia aprender. Acabava sendo nervosa, não tinha uma boa relação com os colegas. Essa baixa autoestima me seguiu por muito tempo.
Acredita que a doença precisa ser levada mais a sério ainda hoje?
Quando era mais nova e me sentia pra baixo, as pessoas achavam que era frescura, principalmente meus familiares. Já ouvi muito isso. As pessoas mandando eu levantar da cama, como se fosse algo fácil. Mas não é. Não existe vontade nenhuma para acordar, para passear, fazer exercícios. Mesmo sabendo da importância de algumas coisas, não existe a vontade.
Hoje, meu maior medo é de acontecer algo comigo e deixar minha filha sem mãe. Às vezes, o que nós queremos, de nossos amigos e familiares, é apenas um abraço, não um sermão. Hoje eu aprendi a importância disso. É muito bom receber e dar abraços.
CASOS DE FAMOSOS

Desabafo
O youtuber Felipe Neto, 33 anos, compartilhou nas redes sociais, no último sábado (1), um desabafo sobre depressão. Sua postagem foi cinco dias após soltar um comunicado oficial sobre o fim do relacionamento de quase cinco anos com a influenciadora digital Bruna Gomes.
Com uma feição triste e os olhos marejados, ele desabafou. “Eu caí. Eu caí legal mesmo. E estou lá... No fundo do poço...”

Angústia
O humorista Whindersson Nunes, de 26 anos, chamou a atenção, desde abril de 2019, para a depressão que enfrenta. Em uma publicação nas redes sociais, na época, ele disse sentir uma “angústia” todos os dias.
“Me sinto mal por não poder me ajudar, mesmo eu às vezes ajudando alguém, eu procuro ajuda nos amigos, na família, mas eu me sinto tão triste, tão triste”.
Este ano, ele voltou a falar sobre a doença. “Eu sou uma pessoa depressiva, sim. Já saí de um lugar de depressão muito ruim. Entrei nesse buraco por fama e isolamento”.
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