Mais de 673 mil idosos estão vulneráveis a ataque hacker na internet
Sobre o perfil das vítimas, a maioria é homem acima de 65 anos
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Nos dados de 1,7 milhão de capixabas, que foram vazados para bandidos na internet, uma informação chama a atenção: na listagem, há 673.233 idosos do Estado. No Brasil são 39.679.056.
O hacker capixaba, que teve acesso ao banco de dados, fez uma triagem e encontrou até aposentados com mais de 100 anos. Assim como nas demais faixas etárias, a maior renda é R$ 30 mil.
Mas ele fez uma observação de que no banco de dados pode constar também o nome de pessoas que já morreram, quantidade que não foi possível revelar.
Para Jânio Araújo, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos no Estado, os dados refletem uma triste realidade. “Recebemos muitas reclamações, uma média de 25 por mês, especialmente de pessoas que tiveram empréstimos consignados feitos em seus benefícios sem o conhecimento delas”.
Ao traçar o perfil das vítimas, ele disse que a maioria é homem acima de 65 anos, mas também há mulheres que acumulam prejuízos.
“Ganhamos uma ação para um aposentado que recebeu mais de R$ 20 mil. Ele esteve no sindicato informando que foram liberados vários empréstimos em seu benefício sem seu conhecimento. Conseguimos provar e ele foi ressarcido pela instituição financeira e recebeu danos morais e materiais”.
Ele orientou que os idosos tenham o hábito de checar os contracheques para identificar qualquer movimentação desconhecida.
O especialista em Segurança Digital, Eduardo Pinheiro, observa que pela primeira vez a condição social deixou de ser um fator de segurança.
“Pessoas simples e ilustres estão na mesma base de dados e qualquer um pode se tornar a próxima vítima. Parece que a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados em 2020 ocorreu após duas décadas de vazamentos de dados e que essa sangria nos dados ainda levará dezenas de anos para ser amenizada. O que vazou não tem mais jeito, já está espalhado pelos quatro cantos da internet”.
Para ele, o legislador brasileiro não pode tapar os olhos. “É inadmissível imaginar que em meio a um apagão na proteção de dados pessoais que ocorreu em 2020 e 2021, ceder ou comercializar grandes volumes de dados pessoais ainda não é tipificado como crime”.
Dados usados para abrir contas e fazer empréstimos
O vazamento de dados pessoais é um problema ainda sem volta, segundo o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, delegado Brenno Andrade.
Ele explicou que as informações têm sido valiosas e abrem um leque para muitos crimes e golpes, que vão desde a abertura de contas, pedidos de empréstimos, solicitação de documentos e habilitação de linhas telefônicas em nome de outras pessoas, até golpes do WhatsApp e acesso a outras redes sociais.
O delegado ainda destacou que todos os dias são registrados vários tipos de crimes que foram cometidos a partir de informações e dados vazados de vítimas.
“Hoje (ontem) mesmo um advogado entrou em contato comigo pedindo uma orientação, pois seu cliente descobriu que usaram seus dados para confeccionar uma carteira de identidade falsa”.
Nesse e em outros casos, ele ressaltou que as pessoas precisam registrar um boletim de ocorrência para se resguardar, já que criminosos podem cometer outros crimes utilizando o seu nome. “No caso desse advogado, o cliente só descobriu o documento falso em seu nome, pois seus dados foram usados para fazer um empréstimo”.
Brenno Andrade ainda enfatizou que, assim como esse, há uma infinidade de crimes que podem ser praticados.
Entre os mais comuns estão os golpes do WhatsApp, em que criminosos se passam pelas vítimas ao ter acesso a um banco de dados com o telefone de alguns contatos próximos, como pai e mãe.
Nesse caso, eles utilizam um outro número, mas usando a foto da vítima que está no perfil do aplicativo de mensagens. Então entram em contato com os parentes listados e informam que aquele era o seu novo número. Depois do contato, passam a pedir dinheiro.
“Infelizmente muitos dados estão disponíveis. Por mais que retirem um site do ar, eles criam outro. Em uma das prisões que efetuamos, o criminoso chegou a mostrar o banco de dados que ele tinha configurado, com dados de todos que ali estavam”.
O delegado salientou que as pessoas devem tomar o máximo de cuidados ao fazer transferências, clicar em links e estarem sempre atentas às contas.
“Além disso, a vítima, ao perceber que os dados foram usados, deve sempre procurar uma delegacia para registrar a ocorrência”.
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