Fazendeiros acusados de formar quadrilhas para roubar café após alta de preços
Só neste ano,867 sacas roubadas foram apreendidas pela polícia. Número é muito maior já que vítimas deixam de registrar as ocorrência
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O número de ataques em fazendas para roubar sacas de café tem chamado a atenção da polícia. Só neste ano, ao menos 867 sacas foram apreendidas no Estado, fruto desse tipo de crime. A valorização do grão pode estar ligada à escalada da criminalidade.
A polícia acredita ainda em subnotificação no número de sacas roubadas porque muitas vítimas não registram a ocorrência.
No Norte do Estado, quadrilhas especializadas amarravam agricultores e roubavam os caminhões já carregados com o produto.
Já no Sul, o modus operandi é diferente, alguns dos presos são, inclusive, fazendeiros que praticam o roubo em outros estados para misturar com o café local e revender sem chamar a atenção.
Na semana passada, militares do 14º Batalhão apreenderam 120 sacas de café arábica roubadas na madrugada do último dia 28, em Mutum, Minas Gerais.
Segundo o comandante da unidade, tenente-coronel Jomilson dos Santos Ivo, no dia seguinte, policiais foram ao Centro de Iúna dar apoio aos militares de Minas em uma ocorrência de roubo. Imagens de videomonitoramento mostravam um caminhão, uma caminhonete e dois automóveis de passeio usados no crime do dia 28.
Os militares capixabas notaram que os veículos pertenciam a dois homens conhecidos por furtos na região. Eles seguiram então até a propriedade de um desse indivíduos, onde encontraram uma quantidade de café ensacada com vários tipos de sacos, sem padrão.
O proprietário do sítio não foi localizado. As equipes partiram para outro sítio, onde estavam dois veículos suspeitos. O condutor de um dos carros foi detido. Já no outro veículo havia equipamentos para arrombar e cortar cadeados.
O caminhão foi encontrado em uma propriedade na localidade do Córrego do Chapéu com grãos de café na carroceria. O homem foi conduzido à Delegacia Regional de Venda Nova do Imigrante, onde foi autuado em flagrante pelo crime de receptação qualificada.
Fazendeiros envolvidos em crimes usam até escopeta
Um dos presos na região de Iúna, na última semana, tem uma propriedade rural no Sul do Estado e é acusado de cometer os furtos de café em outros estados para misturar com a própria produção local para revender.

Para o comandante do 14°batalhão, tenente-coronel Jomilson dos Santos Ivo, parte dos criminosos presos são produtores de café e comercializam o produto roubado. Durante as ações criminosas, costumam usar armas longas como espingardas calibre 12.
O café mais valioso - tipo arábica - é produzido, em sua maior parte no Sul do Estado, onde há uma média de um roubo por mês. Em janeiro a cidade de Muniz Freire, registrou duas ocorrência totalizando 53 sacas de café roubadas. Em fevereiro não houve registro, mas em março, o mesmo município registrou o furto de 107 sacas de café. No mesmo mês, em Iúna, outras 13 sacas de café fora levadas.
Em maio 40 sacas de café foram roubadas em Iúna. Em junho houve um furto de 97 sacas de café. Em julho houve uma tentativa de furto onde a PM conseguiu recuperar 30 sacas.
Em agosto foram 46 sacas roubadas em Tinguaciba, também em Iúna, além de tentativa de furto em Ibatiba. Além de outros furtos e roubos registrados que até o mês de agosto, totalizaram 628 sacas roubadas.
OS NÚMEROS
Mais de R$ 1 milhão em prejuízos
Apreensões
- As polícias Civil e Militar apreenderam 867 sacas roubadas, em todo o Estado.
- O prejuízo se for considerado o valor médio da saca de café a pouco mais de R$ 1.000 passa de R$ 1 milhão, segundo a Polícia Militar.
- De janeiro a dezembro, só na região do 14 °Batalhão da PM, foram roubadas 628 sacas de café.
-O prejuízo gira em torno dos R$753 mil só para os agricultores da região dos municípios atendidos pelo 14 °Batalhão da PM.
Arábica
- Bebida “dura”, bica corrida, máx. de 20% de “cata”, mín. de 30% de peneira 17 avaliada acima de R$ 1.264.
- Bebida “rio”, bica corrida, máx. de 30% de “cata”, mín. de 30% de peneira 17 acima R$ 1.046.
Conilon
- Bica corrida, tipo 7/8, com até 13% de umidade e até 5% de broca.
- O conilon é mais produzido no Norte do Estado.
Fonte: Sesp, PM e Sindicafé.
OUTROS CASOS
“Black Coffee”
A Operação “Black Coffee” aconteceu em março deste ano quando dois homens, de 24 e 39 anos, foram presos com mandados de prisão, em Colatina.
Eles renderem moradores de Pancas e com ameaças e cárcere privado subtraíram joias e 80 sacas de café com um caminhão e uma caminhonete.
Prejuízo de R$ 500
Uma mesma operação da Polícia Civil apreendeu uma carga de café avaliada em R$ 500 mil. O material que equivale a aproximadamente, 530 sacas, totalizando 32 toneladas, foi apreendido no último dia 9 de julho, na cidade de Varginha, em Minas Gerais.
A carga roubada havia saído do município de Linhares, no Espírito Santo, no dia 22 de junho, com destino a Piumhi, em Minas Gerais.
Prejuízo de R$ 500
Uma mesma operação da Polícia Civil apreendeu uma carga de café avaliada em R$ 500 mil. O material que equivale a aproximadamente, 530 sacas, totalizando 32 toneladas, foi apreendido no último dia 9 de julho, na cidade de Varginha, em Minas Gerais.
A carga roubada havia saído do município de Linhares, no Espírito Santo, no dia 22 de junho, com destino a Piumhi, em Minas Gerais.
ANÁLISE
“Pena para crime pode variar de 1 até 10 anos para os acusados”
“A pena do crime de furto é de 1 a 4 anos e multa. Essa pena pode aumentar para 2 a 8 anos se, por exemplo, for praticado com mais de uma pessoa ou rompe ou destrói algo para obter êxito no furto.
No caso de roubo, ou seja, usando de violência ou grave ameaça, a pena passa a ser de 4 a 10 anos e também poderá aumentar se, por exemplo, for praticado também por mais de uma pessoa ou se usa arma branca, em que aumentará 1/3 até a metade da pena ou arma de fogo, que aumentará 2/3 ou o dobro, a depender do tipo da arma.
Os valores altos das sacas de café e, talvez, a falta de uma segurança maior, pode ensejar a prática reiterada de tipo de furto ou roubo.
Já em casos de furto ou roubo em que há uso de armas longas, como é o caso de Iúna, vale ressaltar que se a arma foi usada no roubo, servirá de majorante ou qualificadora do roubo. A depender do tipo de arma, poderá até ter o dobro da pena do roubo, que é de 4 a 10 anos.
Também há casos, por exemplo, se praticada contra idoso ou vulnerável a pena será de quatro a oito podendo aumentar de um terço até o dobro, se utilizar artefatos explosivos.”
David Metzker, advogado criminalista e professor de Direito Penal
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