Caixa d’água e até sofá para impedir a entrada da polícia em bairros da Grande Vitória
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Na tentativa de impedir a ação policial em diversos bairros da Grande Vitória, o que não falta aos traficantes é criatividade. Além de prepararem armadilhas para despistar policiais e agentes das guardas municipais, eles constroem quebra-molas nas vias, fazem buracos e usam até caixa d'água e sofá para atrapalhar rondas e perseguições.

De acordo com moradores, policiais militares, civis e agentes das guardas municipais, há cerca de três anos essa atividade criminosa vem sendo cometida em pelo menos 45 bairros da Grande Vitória.
“Isso sempre existiu. Geralmente nas regiões onde ficam as bocas de fumo. Esses bandidos sempre tentam encontrar uma forma de tentar atrapalhar o nosso trabalho”, afirma um sargento da Polícia Militar, de 42 anos, que pediu para não ser identificado.
A reportagem de A Tribuna percorreu por dois dias bairros de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana e flagrou vários objetos que, segundo moradores e fontes policiais, foram colocados nas vias pelos próprios traficantes.
Em Vitória, nos bairros Jesus de Nazareth, Santa Martha, Praia do Suá (Morro da Garrafa) e Andorinhas, os flagrantes mostram o uso de caixa d’água, plantas e cones, e até um portão de ferro para impedir a passagem da polícia.
Além disso, segundo um cabo da PM, que atua na região e pediu para não ter a identidade revelada, os buracos na pista feitos por bandidos são comuns em Andorinhas.
“No Morro da Garrafa, principalmente em dia de festa, eles (traficantes) costumam colocar barricadas. Já no Mangue Seco (região de Andorinhas), quebram as ruas e deixam buracos para as viaturas não conseguirem passar”.
Em Vila Velha, a “criatividade” aflora para a construção de quebra-molas alto, fora do padrão.
Um soldado da PM que trabalha na região dos bairros Primeiro de Maio e Santa Rita explica que o objetivo é retardar o trabalho da polícia, principalmente quando chegam para fazer abordagem. “Se estão com material ilícito, dá tempo de fugir”, afirma.
Uma dona de casa de 33 anos, moradora do bairro Graúna, em Cariacica, disse que em alguns casos os próprios moradores são obrigados a construir quebra-molas irregulares.
“Eles (traficantes) dominam. Se eles exigem, temos de fazer”, disse a dona de casa, que não será identificada para não sofrer represálias.

Sem passagem
Um portão de aço foi chumbado em um beco do bairro Santa Martha, em Vitória, no final da tarde do último dia 27.
Denúncias anônimas apontaram à polícia que pessoas ligadas ao tráfico de drogas da região teriam fixado a grade no local com o objetivo de impedir a passagem da polícia.
A desobstrução foi feita minutos depois da chegada dos militares no bairro.
Pregos para furar pneus
Além de tentar inibir a ação das polícias, traficantes de diversos bairros da Grande Vitória colocam objetos e fazem buracos nas ruas como armadilha para o cometimento de assaltos. A informação é de policiais militares e agentes das guardas municipais de Vila Velha e Vitória.
“Geralmente, eles (criminosos) ficam escondidos atrás de alguma coisa, alguma pedra ou área de vegetação. Quando a vítima passa com o carro no buraco que eles próprios fizeram, ou o pneu fura ou o carro acaba perdendo a velocidade. É nesse momento que eles agem”, contou um soldado de 35 anos, que atua em Cariacica.
Se engana quem pensa que as armadilhas usadas pelos bandidos ficam só em buracos, quebra-molas, pedaços de concretos e objetos maiores.
“Eles não usam só móveis, buracos e quebra-molas não. Na região do Parque da Manteigueira, na Glória, por exemplo, eles (traficantes) estão colocando até pregos no meio da rua para furar pneus de carros e de bicicletas. Tem muito ciclista sendo vítima”, relata o subinspetor da Guarda Municipal de Vila Velha, Patrick Oliveira.
O subinspetor afirma que essas barreiras usadas pelos criminosos não impedem que as guarnições entrem nos bairros.
Onde há barreiras
Vitória
Jesus de Nazareth, Praia do Suá (entrada do Morro da Garrafa),Santa Martha, Andorinhas, São Pedro, Bairro da Penha, São Benedito, Bonfim, Itararé e Inhanguetá.
Vila Velha
Primeiro de Maio, Santa Rita, Alecrim, Barramares, Morada da Barra, Glória, Dom João Batista, Cobi de Baixo e Ibes.
Campo Belo, São Benedito, São Francisco, Nova Rosa da Penha II, Porto Novo, Graúna, Santa Rosa, Campo Verde, Santana, Flexal II, Mucuri, Vila Cajueiro, Jardim Botânico, Castelo Branco e Santa Cecília.
Feu Rosa, Planalto Serrano, Jardim Tropical, São Diogo, Jardim Carapina, Central Carapina, Vila Nova de Colares e Parque Residencial Jacaraípe (Jacaraípe).
Viana
Insdustrial, Marcílio II e Primavera.
Impedir o trabalho da polícia é crime, diz delegado
Os bandidos que estão tentando obstruir vias e, com isso, atrapalhar o trabalho das polícias em vários bairros da Grande Vitória, se forem pegos, podem responder por mais um crime. É o que afirma o delegado titular do Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc), Fabrício Dutra.
O delegado explicou que cada caso é avaliado, porém, para os traficantes que forem pegos em flagrante com grande quantidade de drogas, caso seja comprovada a participação deles em alguma ação que vise dificultar o acesso das polícias nos bairros, além do crime de tráfico de drogas, eles podem responder por associação para o tráfico.
“Tudo depende do entendimento do delegado. Mas com as provas em mãos de que esse suspeito, que já estaria envolvido no tráfico, realmente ajudou na construção de um quebra-molas irregular, por exemplo, ele também responde por associação para o tráfico”.
Dutra destacou que a prática criminosa de colocar os objetos nas vias de alguns bairros, como forma de inibir a ação das polícias, já está com os dias contados.
“Se os traficantes estão achando que vão atrapalhar o nosso trabalho, nós temos a tecnologia a nosso favor. Hoje temos drones, que conseguimos fazer todo levantamento de qualquer área. O criminoso que tentar impedir o trabalho da polícia só vai responder por mais um crime”, afirmou.
O comandante da Polícia Militar do Estado, coronel Márcio Eugênio Sartório, lembrou que essa atitude por parte dos bandidos já acontece em outros estados.
“Essa prática é comum nos morros cariocas, mas lá eles já colocam mureta, coisa que precisa ser retirada com o guincho. Aqui isso não acontece”.
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