"Boa noite, Cinderela" causa sono e pode levar à morte
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Perda de memória, sonolência profunda e, em casos mais graves, até a morte. Esses são os efeitos que as vítimas do golpe “Boa noite, Cinderela” podem ter, ao consumirem bebidas alcoólicas misturadas com um comprimido para insônia.
A droga foi usada por um maníaco, de 37 anos, para dopar uma mulher de 50 anos. A vítima foi estuprada em sua própria casa, em um bairro nobre de Vitória, e teve R$ 30 mil em joias levados pelo criminoso. O homem, que não teve o nome divulgado pela polícia, foi preso. Ele também é investigado por crime semelhante cometido em 2018, no município de Cariacica. Na ocasião, o alvo foi uma professora.
Prescrito por médicos para pessoas que têm dificuldades de dormir, o remédio acaba sendo usado por criminosos que misturam a substância com o álcool, potencializando os efeitos da droga e deixando as vítimas completamente vulneráveis.
“É uma substância hipnótica. Provoca amnésia e sonolência. Quando misturada ao álcool, essa amnésia é profunda. A pessoa até consegue obedecer alguns comandos, mas esquece de tudo assim que acaba o efeito”, explicou o médico João Chequer, PhD em dependência química.
A sonolência dura cerca de 30 minutos, até que a vítima apaga. Depois de quatro ou cinco horas, ela acorda. “O problema é quando misturado ao álcool, como os criminosos costumam fazer. A mistura diminui a atividade cerebral e provoca um rebaixamento do nível de consciência, além da sedação”.
Dependendo da quantidade do remédio e da bebida, o drinque pode ser mortal. “Pode causar uma intoxicação do sistema nervoso central, grave sedação, depressão cardiovascular, insuficiência respiratória e até a morte”, revelou o médico.
De acordo com o perito oficial criminal Fabrício Pelição, chefe do Departamento de Laboratório Forense (DLBF), a perda de memória causada pelo remédio é conhecida como “amnésia anterógrada”.
“Isto é, amnésia recente. Após a ingestão de uma grande quantidade dela, a vítima não possui consciência de suas ações, mas consegue responder comandos dados por segundos. Esse medicamento permanece no organismo da pessoa por um período de 12 até 24 horas, após a aplicação”, disse.
O perigo não está só nas bebidas. O delegado Fábio Pedroto, mestre em Segurança Pública, contou que bandidos utilizam substâncias em pó até em cigarros.
“Enquanto a pessoa vai fumando, o produto vai se inserindo no corpo da pessoa através do vapor e a vítima vai sendo dopada”.
Segundo ele, os suspeitos também podem usar anestésico veterinário. “Essa substância é incolor e sem sabor, o que facilita a mistura dela em bebidas e alimentos”.
Ele ainda chamou atenção para questões de gênero. “Com homens, isso acontece mais para fins patrimoniais. As mulheres são vítimas de violência sexual e também são roubadas”, afirmou.
Como atua a droga no organismo
Medicamento
O remédio utilizado pelos bandidos para dopar as vítimas é um comprimido para insônia.
Ele é indicado pelos médicos para pessoas que têm dificuldades em dormir, já que causa sonolência.
Mistura
Para conseguirem o efeito desejado, os criminosos misturam o remédio na bebida alcoólica, sem que os alvos vejam.
Álcool
Quando misturado ao álcool, os efeitos do remédio se intensificam.
A sonolência fica mais forte, além da perda de memória recente, chamada de “amnésia anterógrada”.
Comandos
Mesmo sem ter consciência do que está fazendo, a vítima é capaz de obedecer a comandos como passar a senha do cartão de crédito, dar o endereço e acompanhar o criminoso.
Depois que o efeito passa, a vítima não se lembra do que aconteceu ou do que fez.
Morte
Dependendo da quantidade de álcool e também do comprimido, a mistura pode causar uma intoxicação do sistema nervoso central, grave sedação, depressão cardiovascular, insuficiência respiratória e até a morte.
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