O corpo de Joyciline denunciou o algoz: mais uma vítima do feminicídio no estado
Neste ano, em Pernambuco, 6 mulheres foram vítimas de violência doméstica por hora, uma equivalência de 1 mulher a cada 9 minutos
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O corpo imóvel de Joyciline Carvalho da Silva, de 26 anos, ficou estendido no chão e o sangue escorria da face quando foi localizado. Estava estirado após um tiro na cabeça. Caiu reta, com o rosto levemente virado para o teto.
O local onde Joyciline morreu já é estigmatizado, conhecido como Camburão. Não à toa, na rua onde morava, Rua da Vitória, no bairro de Água Fria, no Recife, pessoas de todas as idades, inclusive crianças e idosos, observaram o passa a passa das equipes da polícia. Não houve censura das cenas para menores. É um lugar do Recife onde não faz sentido dizer ser o melhor em linha reta do mundo.
Todos observaram a polícia chegar e sair carregando a jovem numa maca do Instituto de Medicina Legal. Coberto com uma lona preta. Escura como o seu fim.
O corpo que falou por ela
O suspeito de ter matado a mulher, sua ex-companheira, alegou que ela tinha cometido suicídio. Mas a posição do corpo e a realização da perícia comprovou algo diferente. O corpo da vítima denunciou o algoz.
Ele mesmo havia matado a sua ex com um tiro, encerrando uma história de um relacionamento de abusos psicológicos, agressões a ela e até a filha, que tem 7 anos e de quem não era o pai. Algo que muitas vezes ela minimizou ou escondeu, num relacionamento que durou de 5 a 6 anos. Certa vez chegou a prestar boletim de Ocorrência, que, pelo visto, não foi adiante.
“Tragédia anunciada”, dizem familiares
A morte de Joyciline entrou, mais uma vez, para as estatísticas. Familiares e amigos diziam ser uma tragédia anunciada. Todos viam a mulher sofrer no dia a dia. Por outro lado, ao que parece, ninguém fez denúncias anônimas no Dique 100 ou Disque 190, o que teria alertado os organismos de defesa da mulher.
Embora Joyciline não seja culpada pela própria morte, ela foi responsável pela escolha com quem se envolveu. Igor, como o suspeito é conhecido, já havia sido preso, tinha histórico de tráfico de drogas, um meio conhecido por vingança e violência. Mas Joyciline, como muitas outras mulheres, achava que ele poderia ser diferente com ela do que era no tráfico.
O crime aconteceu dentro de uma pequena casa, num lugar simples, cortado travessas com rêgo a céu aberto, e muita escadaria, casas molhadas e ainda úmidas por causa da chuva.
Joyciline deixa filha de 7 anos
Joyciline Carvalho da Silva, de 26 anos, tinha saído de casa para deixar a filha de 7 anos na escola. Quando voltou para pergar a carteirinha de vacina da filha, foi surpreendida pelo ex companheiro, de quem estava separada há menos de uma semana. E ele tratou de lhe tira a vida, sem aceitar o fim do relacionamento.
A família está revoltada. O suspeito chegou a dizer que a ex tinha tirado a própria vida. Mas, ninguém acreditou nessa versão. Quando era casada, Joyciline tinha um relacionamento conturbado com o ex. As brigas eram frequentes.
Segundo a irmã Josineide da Silva, o homem ameaçava qualquer pessoa ligada à família e até já desferiu balas sem direcionamento para assustar a mãe e o pai. O suspeito, inclusive, cometia agressões frequentes contra a companheira, de quem estava separado.
A tia da vítima, Daniele de Carvalho, também falou: “Ela deixava e depois voltava para ele. Era a maior confusão. Essa semana eu vi ela toda arranhada. Eu perguntei o que foi isso, Joyce? Ela disse que foi ‘brigando com o Igor’.Eu disse, brigando não. O Igor deu em você, Joyce. Estava batendo até na menina, que não é filha dele, de sete anos. A gente quer justiça”.
Delegado descarta versão de suicídio
O delegado Rodrigo Bello botou fim nos argumentos de suicídio. “Dentro da casa não tem sinais de que houve luta e resistência e o local onde foi encontrado a lesão não indica suicídio. O que indica é homicídio ou feminicídio por parte do companheiro dela”.
À noite, o JT1 recebeu a informação de que ele havia sido preso e sua audiência de custódia será realizada neste sábado (15).
De janeiro a julho deste ano, 32.245 mulheres denunciaram casos de violência doméstica, de acordo com estatísticas oficiais da Secretaria de Defesa Social. Isso siginifica 6,3 mulheres por hora, uma equivalência de 1 mulher a cada 9 minutos. É um tipo de crime onde familiares, amigas e vizinhos precisam meter a colher, ligar para Disque 100 sem pena.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança, os homicídios caíram em Pernambuco e o número de feminicídios também caiu de 2023 para 2024, passando de 82 para 77. O esquisito é que a sensação de insegurança é a mesma.
As informações do Anuário foram divulgadas este ano, mas só mostram o retrato de uma realidade paralela que vem acontecendo com as mulheres no estado, sem providências concretas que possam estancar esse derramamento de sangue.
Veja, abaixo, a matéria de Luciana Queiroz exibida no JT2, apresentado por Eliane Nóbrega
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