Jovem denuncia agressão e racismo durante abordagem policial no São João de Caruaru
Danrley denuncia ter sido agredido e algemado por PMs no São João de Caruaru: “Foi racismo”, afirma
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O analista de qualidade Danrley Walter Xavier dos Santos, de 28 anos, denunciou ter sido vítima de agressão e racismo durante uma abordagem da Polícia Militar, no último sábado (1º), durante os festejos juninos no Pátio de Eventos de Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Ele falou sobre o assunto em entrevista exclusiva ao Jornal da Tribuna 1ª Edição, da TV Tribuna PE/Band. Estava visivelmente emocionado.
O jovem estava acompanhado de um grupo de 11 amigos quando, ao se afastar para ir ao banheiro, acabou abordado pelos policiais. Danrley afirma que não recebeu qualquer explicação para a ação. Ele sofreu ferimentos no peito, no ombro, na cabeça, na mão e no braço, além de ter o relógio quebrado.
“Foi um momento que realmente eu fui ao banheiro. A única coisa que eu lembro foi que me pegaram no braço, botaram para trás, senti o gelado das algemas e me empurraram para o chão. Não que me empurraram, eu bati a cabeça e não lembro mais de nada”, relatou.
DEPOIS DE DESMAIAR, JOVEM CONTA QUE ACORDOU EM SALA COM VÁRIOS POLICIAIS
Segundo ele, após o desmaio, acordou em uma sala cheia de policiais. “Eu só me lembro de ter acordado numa sala branca, cheia de policial, mais de dez policiais olhando para mim, e eu questionando: ‘O que é que eu fiz para estar aqui? O que é que está acontecendo aqui? Por que é que vocês me prenderam?’”, contou.
Danrley disse que insistiu diversas vezes para que os agentes explicassem o motivo da abordagem, mas não recebeu resposta. “Eu comecei a gritar: ‘Isso não está certo. Eu só saio daqui com a minha mãe, com o advogado. Não tenho motivo para estar aqui’. Estava algemado ao lado de dois bandidos, sem ter feito nada.”
Em meio à tensão, apenas um dos policiais teria se dirigido a ele. “Eu tentava falar com os outros e ninguém me respondia, só ele. Chegou um momento que ele me deixou sentado na cadeira. Olhei para cada um e disse: ‘Agora eu só saio daqui com a minha mãe ou com o advogado, e ir no assinadado que vocês me derem’.”
EM DESABAFO, DANRLEY DIZ QUE FOI LIBERADO SEM QUALQUER EXPLICAÇÃO
O jovem contou que, mesmo machucado, foi liberado sem qualquer justificativa formal. “Nenhum momento eles fizeram papel, tentaram se livrar de mim, disseram que a minha mãe estava lá fora me esperando. Eu ainda desorientado, acreditei. Saí do local atrás da minha mãe, me acompanharam. Quando eu vi que minha mãe não estava lá, tentei voltar. No que eu voltei, eles trancaram a porta na minha cara e não deixaram eu entrar de volta.”
Os ferimentos estão visíveis. Segundo ele, as marcas no pulso foram causadas pelas algemas. “Acredito que tanto no ombro quanto na cabeça foi na hora que eu caí. No que eu caí, acho que eles me arrastaram um pouquinho, porque foi relâmpago. A pancada mesmo foi aqui [aponta para a cabeça], porque realmente eu desmaiei.”
O jovem afirmou que, por estar sozinho no momento — já que havia se afastado dos amigos —, ninguém presenciou a cena. Após o ocorrido, ele procurou a Delegacia de Olinda, onde registrou boletim de ocorrência. Também realizou exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) e prestou queixa na Corregedoria da Polícia Militar.
"EU NÃO SOU DE BRIGA"
Danrley acredita que foi vítima de racismo. “Como é que me confundem? Um homem de dois metros e dezesseis. Não tem como me confundir com outra pessoa. Só pode ter sido racismo, não tem justificativa, não tem lógica. Eu não sou de briga, sou uma pessoa calma. Quem me conhece, sabe. Não sei nem brigar.”
Emocionado, ele relatou as consequências psicológicas do episódio. “Agora eu tô tendo que tomar remédio pra ansiedade, tentando ser medicado, porque não tô conseguindo dormir direito. Toda vez que vem a situação na minha cabeça, eu acabo chorando. É difícil conviver com esse trauma.”
Danrley afirmou que vai buscar responsabilização dos envolvidos. “Eles vão pagar pelo que fizeram comigo. Eu quero que os responsáveis sejam punidos.”
O QUE DIZ A POLÍCIA?
A reportagem solicitou posicionamento da Polícia Militar de Pernambuco e aguarda resposta.
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