Família denuncia abuso após jovem morrer em perseguição por IPVA atrasado
Lucas Brendo, 29, estava no banco de trás do carro e foi atingido por tiro disparado por PMs do Bptran. Irmão e motorista contestam versão
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Familiares de Lucas Brendo, de 29 anos, contestaram a versão apresentada por policiais militares do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) sobre a perseguição que terminou com a morte dele na noite da última sexta-feira (11). O velório e enterro estão sendo realizados neste domingo (13), no cemitério de Santo Amaro, no Recife.
Passageiro de um Chevrolet Classic, Lucas foi atingido por tiros disparados durante a ação da PM. A abordagem ocorreu após o motorista do veículo, Samuel Norberto Bezerra da Silva, não obedecer à ordem de parada em uma blitz, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes.
Segundo o irmão da vítima - técnico em eletrônica especializado em faróis e lanternas- Abraão Vitor Silva, houve abuso de poder, uso de força desproporcional e até inserção de provas falsas por parte dos policiais.
“Eles meteram bala no carro por despreparo. Deveriam ter feito contenção e usado uma força menor porque não houve troca de tiros, como disseram. A versão dos policiais está totalmente distorcida. Não fez sentido aquela reação”, afirmou ele, em entrevista ao Tribuna Online PE.
Veja a versão dada por policiais do Bptran
Irmão diz que Lucas Brendo era trabalhador

De acordo com Abraão, Lucas não tinha antecedentes criminais e trabalhava como superintendente de Recursos Humanos em uma empresa de comunicação. “Ele era trabalhador, vivia do trabalho para a academia”, declarou. A família já contratou advogado e pretende recorrer à Justiça.
Além de Lucas Brendo e do motorista Samuel, outros dois amigos estavam no carro: Thiago Felipe da Silva e Lucas Ricardo da Silva, este último atingido por um disparo na coluna. Ele foi socorrido e passou por cirurgia no Hospital da Restauração.
As idades dos demais ocupantes não foram divulgadas. Segundo Abraão, todos haviam jogado futebol na praia de Boa Viagem, nas imediações do Castelinho, naquela noite. Eles estavam voltando para casa.
O motivo da fuga, de acordo com o irmão da vítima, teria sido o atraso no pagamento do IPVA do veículo.
“O motorista (Samuel) ficou com medo de perder o carro, por isso não parou. Mas isso não justifica a reação dos policiais”, disse Abraão, acrescentando que a suposta arma encontrada no veículo seria, na verdade, uma arma de gel pertencente ao irmão de Samuel — e não uma arma de fogo, como informado inicialmente pelos policiais.
Motorista explica como se deu a fuga
O motorista do carro, Samuel Norberto, também falou com a reportagem e confirmou que o grupo estava a caminho de casa quando se deparou com a blitz. Ele admitiu que não parou o carro ao ser abordado.
“Saímos da Barão (de Souza Leão) e pegamos a Avenida Rio Azul. Mais adiante, vimos a blitz, e seguimos porque não havia motos ali. Quando pegamos a 20 de Janeiro, em direção à Borborema, e depois o pontilhão que dá na Mascarenhas de Moraes, foi quando eles nos alcançaram e começaram a atirar. Tentei parar o carro no meio-fio, subi na calçada, mas ele travou na grama. Ali começaram vários disparos. Quando olhei para trás, Lucas Brendo já estava apagado, baleado, e Lucas Ricardo em desespero. Parei o carro, desci com as mãos para o alto, me rendi. Mesmo assim, me bateram, me enforcaram mandando eu dizer que tinha arma. Eu dizia que não tinha. Mesmo algemado, fui jogado no chão Samuel Norberto, Motorista do carro
Segundo ele, mesmo após serem rendidos, os policiais agiram com truculência.
“Fiquei perguntando sobre Lucas baleado e disseram que o socorro viria. Mas a princípio não veio. Eles colocaram Lucas Brendo, já sem vida, na mala do carro e colocaram Lucas Ricardo por cima do corpo. Só então seguiram para a UPA (da Imbiribeira). Fizeram alguns procedimentos e depois nos levaram para o DHPP, sem exame de corpo de delito”, disse.
Samuel também negou que houvesse armas de fogo no veículo.
“Disseram que a gente estava com duas armas. A única coisa que tinha era uma arma de gel do meu irmão, de brinquedo. Tentaram forjar uma situação. A gente é pai de família, trabalhador”, afirmou.
O caso foi registrado inicialmente no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas depois transferido para a Delegacia de Prazeres, que agora conduz a investigação.
A mãe de Lucas, de nome não identificado, afirmou que, após serem ouvidos no DHPP, os dois passageiros que estavam na frente do carro, Samuel e Thiago, foram liberados após depoimento. Eles não passaram por exames de corpo de delito, o que poderia provar o uso de armas de fogo ou descartar totalmente. A polícia não pode atirar em alguém apenas por estar em fuga, se não houver ameaça iminente.
Versão apresentada pelos policiais
Os policiais disseram que, após a troca de tiros com os integrantes do veículo em fuga, precisaram usar algemas.
Eles relataram que havia duas armas de fogo no carro, "uma na parte traseira do veículo e outra no tapete do passageiro traseiro". " "Todos foram encaminhados para a UPA da Imbiribeira e apresentados à emergência, para serem feitos os procedimentos médicos". Explicaram ter atirado por estarem em risco de morte.
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