Pernambuco nos Alpes: quando o coração sobe montanhas
Henrique Cordeiro e William Brito serão os primeiros que representam pernambuco no lendário Ultra-Trail du Mont-Blanc
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As montanhas não se vencem apenas com pernas fortes. Os atletas Henrique Cordeiro e William Brito sabem que, no trail running, cada subida exige mais do coração do que das pernas, e cada descida é um teste para a confiança.
É com esse espírito que eles se preparam para levar Pernambuco, pela primeira vez, ao Ultra-Trail du Mont-Blanc (UTMB), o maior evento de corrida de montanha do mundo, que será realizado de 25 a 31 de agosto de 2025, em Chamonix, na França — um percurso de altitudes que tiram o ar e paisagens capazes de devolvê-lo pela beleza.
O termo trail running pode ser traduzido de forma mais literal como corrida em trilhas ou corrida de trilha.
Mais de 10 mil atletas, vindos de 100 países, vão costurar as trilhas que atravessam França, Itália e Suíça. Entre eles, Henrique, o carioca radicado em Pernambuco, e William, o pernambucano de raiz. Eles formarão a primeira dupla a representar o estado neste festival lendário.

Os dois vão correr por um refúgio esculpido pelos ventos dos Alpes, onde o ar rarefeito e a luz mais nítida revelam trilhas que cortam as montanhas como veias. Elas levam os corredores por florestas úmidas, rochas afiadas e campos de flores. Cada passo descobre um quadro novo — do branco eterno das geleiras ao dourado do entardecer no Mont-Blanc — e cada subida é recompensada pela beleza da descida.
É um lugar onde cada passo revela um quadro novo — ora pintado com o branco eterno das geleiras, ora com o dourado da tarde que se despede por trás do Mont-Blanc — e onde o esforço de subir parece sempre recompensado pela beleza de descer.
Entre pedras e sorteios
O caminho até os Alpes começou muito antes da inscrição. Como quem percorre um vale antes de encarar o cume, eles precisaram conquistar pontos em provas no Brasil e no exterior para poder entrar no sorteio das vagas.
“Entramos com muita expectativa e, agora, é uma felicidade sem tamanho ter a vaga garantida. É como se fosse a Copa do Mundo das trilhas, porque é uma das provas mais concorridas, bonitas e desafiadoras do planeta”, diz William.
Henrique guarda a lembrança do primeiro ano do UTMB, quando apenas 10% dos corredores cruzaram a linha de chegada.
“Foram dois anos de preparação intensa, porque a prova é muito exigente. A expectativa é enorme — não só para viver este sonho, mas também para levar experiências que possamos aplicar nas próximas provas organizadas pela PTR”, afirma.
Distância de 174 quilômetros

Henrique vai encarar a prova principal: 174 km e mais de 10 mil metros de altimetria acumulada — um sobe e desce que, no corpo, pode se transformar em exaustão, e, na alma, em conquista. Para se ter uma ideia, a distância é maior do que a de Recife para o município de Belo Jardim, no Agreste, após Caruaru. O trajeto precisa ser percorrido em 46 horas e 30 minutos.

Já William enfrentará a CCC, de 100 km, reconhecida como uma das mais técnicas. As duas disputas reúnem temperaturas que oscilam entre o calor de 30 °C e o frio cortante de -10 °C, exigindo não só preparo físico, mas também resiliência mental. William terá 26 horas e 30 minutos para completar o desafio.
“É difícil descrever a importância disso. O UTMB é o sonho máximo de qualquer atleta de trilha, e ver dois representantes de Pernambuco lá mostra que é possível chegar longe, mesmo vindo de um lugar sem montanhas gigantes ou tradição nesse tipo de prova. Isso inspira e transforma realidades”, diz William.
Missão em Serra Negra antes das trilhas nos Alpes
Sócios da PTR – Project Trail Run, Henrique e William ajudaram a escrever um capítulo novo no esporte pernambucano. Criada há menos de dois anos, a PTR já reuniu cerca de 10 mil atletas em quatro corridas oficiais e vários treinões, atraindo desde amadores até nomes experientes.
“Não estamos indo apenas como atletas. Estamos indo como representantes de toda uma comunidade que constrói o trail nordestino com poucos recursos, mas muita paixão”, resume Henrique.
Antes de embarcar para a França, eles têm outra missão: organizar a etapa da PTR em Serra Negra, distrito de Bezerros, no Agreste, no dia 18 de outubro. Serão percursos de 7 km, 17 km e 21 km — pequenas montanhas diante do desafio que os espera nos Alpes, mas igualmente capazes de transformar quem se arrisca nelas.
“Chegar à França é levar junto cada atleta que correu conosco nas trilhas de Pernambuco. É mostrar que o caminho que começamos a trilhar aqui pode nos levar ao topo do mundo”, conclui Henrique.
Como em qualquer trilha, a linha de chegada em Chamonix será apenas mais um ponto no mapa. Depois dela, virão outras subidas, novas descidas e terrenos ainda desconhecidos. Mas, para Pernambuco, essa primeira participação no UTMB já é uma prova vencida antes mesmo do apito inicial — porque transformar sonho em largada é, por si só, atravessar a montanha mais alta.
Olhares sobre a África no Sesc
As bibliotecas do Sesc em Casa Amarela e São Lourenço da Mata promovem, de segunda a sexta, das 8h às 17h, até 8 de setembro, o projeto Olhares sobre a África, com imagens e textos sobre personalidades como Nelson Mandela, Desmond Tutu e Chimamanda Ngozi Adichie. É um convite necessário para conhecer lideranças, artistas e pensadores que moldaram a história do continente, rompendo com o apagamento cultural que ainda persiste no Brasil. Além da exposição, São Lourenço recebe jogos tradicionais africanos, reforçando o aprendizado e o respeito à diversidade.
Na mata tem brinquedo
O maracatu rural, com seus 300 anos de resistência, é mais que tradição: é memória viva que desafia o esquecimento. A mostra De Cambinda ao Maracatu; na mata tem brinquedo no Cais do Sertão (Recife), pode ser visitada de terça a sexta, das 10h às 16h, e aos sábados e domingos, das 11h às 17h, até 12 de setembro. Gratuita, a exposição é um mergulho sensorial na história de mestres e brincantes que transformam dor em beleza e tradição em futuro.
O cordel que devolve a voz
Tem gente que acha que só história de rei e de guerra merece museu. Felizmente, “Vidas em Cordel” veio para provar que o contrário também é patrimônio. Depois de rodar cinco estados e encantar mais de 80 mil visitantes presenciais (e quase 200 mil online), a exposição ancorou no Cais do Sertão, no Recife Antigo, trazendo a força da xilogravura e da poesia popular para transformar vidas em arte — e não só vidas “de livro de história”, mas também trajetórias de gente daqui, de carne e osso, que continuam andando entre nós.
Aberta de 15 de agosto até 15 de dezembro, com entrada gratuita, a mostra é mais que uma exposição. É um abraço ao Brasil que nem sempre cabe nos livros, mas sempre coube no cordel. As visitas vão das 10h às 16h (terça a sexta) e das 11h às 17h (sábados e domingos).
Sugestão de pauta: [email protected] ou [email protected]
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