O Brasil e as palavras sobre o conflito Israel-Irã
Escute essa reportagem

Em meio à aflição mundial diante do que ocorre hoje no Oriente Médio, é de extrema importância que a diplomacia e o governo brasileiros avaliem com muita cautela cada passo que vão dar. E é claro que o Itamaraty e o presidente Lula precisam refletir muito antes de emitir qualquer palavra, qualquer pronunciamento.
No ambiente polarizado da política brasileira, Lula sabe, ou pelo menos deveria saber, que tudo o que falar a respeito dos conflitos mundiais poderá ser usado contra ele. O presidente reproduziu em suas redes sociais o pronunciamento oficial do Itamaraty depois dos ataques americanos em território iraniano. E, mesmo com todo o cuidado diplomático, ainda assim, houve críticas ao fato de o Brasil condenar “de forma veemente” os ataques de Israel e dos Estados Unidos, ressaltando a “violação da soberania do Irã e do direito internacional”.
O ataque dos Estados Unidos às instalações nucleares iranianas preocupa líderes mundiais. Todos sabem que criticar os EUA e Israel pode ser perigoso, pelos efeitos que as palavras podem ter. Mas, ao mesmo tempo, é inegável que os ataques ao Irã, no mínimo, põem em xeque a atual conjuntura internacional. E, por isso mesmo, é passível de críticas. E a arrogância de Trump exige mesmo maior firmeza das lideranças mundiais.
A exemplo de outros líderes, Lula precisa, também ele, ser estratégico nos comentários. Importante lembrar que, em sua recente viagem à França, ele aproveitou para voltar a falar da urgente necessidade de que o Conselho de Segurança da ONU seja repensado.
É cada vez mais evidente que, com os Estados Unidos agindo como Donald Trump bem entende, o Conselho de Segurança da ONU aparece cada vez mais fragilizado perante a comunidade internacional. Não à toa, o secretário geral António Guterres já se pronunciou sobre a iminência de uma catástrofe mundial se nada for feito para conter os ânimos exaltados que o mundo inteiro tem acompanhado esses dias no Oriente Médio.
Atacado pela maior potência mundial, o Irã reagiu de forma até tímida, se levarmos em conta que avisou aos governos do Catar e dos Estados Unidos de que iria atacar a base militar americana. Se o regime de Ali Khamenei cumprisse a ameaça de fechar o estreito de Ormuz, as consequências poderiam ser sentidas em todo o mundo, e até pelo próprio Irã, uma vez que entre 20% e 30% do petróleo produzido no mundo hoje passa por Ormuz.
Cabe ao resto do mundo esperar que o cessar-fogo entre Irã e Israel, anunciado por Trump, seja real e que não sejamos surpreendidos por novos ataques nos próximos dias.
Comentários