A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro
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O ministro Alexandre de Moraes errou ao decretar, no fim da tarde de ontem, a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro? Não, não errou. Os bolsonaristas de plantão vão dizer que sim, que é mais um abuso do ministro, que foi uma decisão arbitrária. Mas Moraes já havia advertido, no dia 24 de julho, ao entender que Bolsonaro tinha descumprido medidas cautelares. Na ocasião, o ministro avisou que, se ele reincidisse no descumprimento, decretaria a prisão. Pois bem, Bolsonaro descumpriu as medidas mais uma vez.
Caso não tivesse tomado essa medida agora, Alexandre de Moraes estaria desmoralizado. E a família Bolsonaro e seus apoiadores entenderiam que sempre poderiam tentar um pouco mais. Seria algo na linha “será que dá pra fazer isso? será que ele vai interpretar como descumprimento de medida cautelar? vamos testar?”. E assim foi.
No último domingo, milhares de apoiadores de Bolsonaro foram às ruas em várias capitais do país. As manifestações eram contra o que chamam de perseguição ao ex-presidente. Entre os manifestantes, houve quem levasse, além de bandeiras do Brasil, bandeiras dos Estados Unidos, quase num apelo para que o presidente Donald Trump interferisse mais uma vez.
Eles não esquecem que Trump impôs tarifas ao Brasil usando o argumento de que Bolsonaro está sendo vítima de grande injustiça. Querem mais. Apostam numa intervenção ainda maior do presidente americano no Judiciário brasileiro. Outros levaram cartazes com frases como “Fora Moraes!” e “Fora Lula!”.
Os brasileiros são livres para se manifestar. Apoiar o político que quiserem. É da democracia. Todavia, ignorar ordens da justiça pode trazer para quem o faz as consequências previstas na lei. Foi o que aconteceu.
De caso pensado - Foi o próprio filho de Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro, quem deu motivo para a decisão de Alexandre de Moraes. Na manifestação em Copacabana, no Rio de Janeiro, o senador exibiu um vídeo de Bolsonaro se dirigindo aos apoiadores. Flávio Bolsonaro achou pouco e postou o vídeo em suas redes. Voltou atrás ao lembrar, ou ser lembrado, de que, entre as medidas cautelares impostas pelo ministro estava a proibição de manifestações em suas redes sociais ou nas de terceiros.
Essa escalada da tensão com o Supremo Tribunal Federal não é fruto do acaso. Tudo leva a crer que a família Bolsonaro - com o senador Flávio aqui no Brasil e o deputado licenciado Eduardo nos Estados Unidos - esteja agindo de caso pensado. Num gesto de quase desespero, eles apostam no aumento dessa tensão, na esperança, pasmem, de que Donald Trump se embrenhe ainda mais em questões internas do Brasil.
A família já demonstrou, até com palavras, que não está preocupada com o que vai acontecer com a economia do país por causa do aumento das tarifas. A ela, só interessa o que pode acontecer com Jair Bolsonaro.
Bolsonaro mártir - Alguns aliados vão mais longe: acham que, ao mandar prender, Moraes deu a Bolsonaro a chance de se passar por mártir. É mais uma aposta. Meio desesperada, é verdade. Mas é uma aposta... E olha que o ex-presidente ainda nem foi julgado como principal réu na tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023.
Ontem mesmo, a defesa do ex-presidente avisou que vai recorrer da decisão de Alexandre de Moraes. É um direito dela. Se vai ter sucesso no recurso ao Supremo Tribunal Federal, já é outra questão. A defesa afirmou ainda que foi surpreendida pela ordem de prisão e, mais uma vez, argumentou que Bolsonaro não descumpriu qualquer medida. Os advogados também disseram que, no recurso, vão lembrar que Bolsonaro não foi proibido de dar entrevistas nem de fazer discursos.
A questão deve permanecer tensionada nos próximos dias. Faz parte da estratégia de Bolsonaro. Seus apoiadores ganharam mais munição para seguir atacando o Supremo Tribunal Federal. E saírem em defesa do “mito”, que, mais que nunca, incorporou o papel de perseguido político.
Para pensar - Para terminar, quero deixar aqui uma reflexão: já pensaram como é interessante ver agora Jair Bolsonaro e seus seguidores falando em direitos humanos e em defesa da democracia?
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