Manifestação cobra justiça no dia da última audiência de Rodrigo Carvalheira
Vítima relatou constrangimento durante depoimento na 1ª Vara de Crimes contra Criança e Adolescente da Capital
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Matéria atualizada às 13h32

Amigas e familiares das vítimas de Rodrigo Carvalheira realizaram um protesto na manhã desta segunda-feira (28) em frente ao Fórum Joana Bezerra, no Recife. O ato ocorreu no mesmo dia em que o empresário, acusado de dopar e estuprar mulheres, será ouvido presencialmente na 18ª Vara Criminal, na última audiência do primeiro processo que responde na Justiça.
Embora seis mulheres tenham denunciado Carvalheira por violência sexual nos anos de 2023 e 2024, manifestantes afirmam que o número real de vítimas pode ser maior. Segundo elas, o medo, a vergonha e a possibilidade de revitimização impedem outras mulheres de denunciarem — reflexo do machismo estrutural ainda presente na sociedade.
O protesto também foi um chamado à imprensa, às instituições de apoio e à sociedade civil, com o objetivo de pressionar por justiça. Para os manifestantes, uma eventual condenação de Carvalheira representaria um marco simbólico no enfrentamento à violência contra as mulheres.
"Após essa ouvida dele, a juiza deve dar a senteça sobre o caso", relatou a vítima, que permaneceu de costas, sem se identificar. Segundo ela, em 2019, depois de um dia de carnaval onde ela e Rodrigo passaram juntos, ele foi buscá-la em seu apartamento,
"Ele subiu, no lugar de pedir para que eu descesse, pediu alguma coisa na cozinha, não lembro muito bem o que era, e no momento que eu tinha ido pegar o que ele pediu na cozinha, ele já estava com um copo de uísque na mão. Ele me chamou, quando eu virei de costas, ele enfiou um comprimido na minha boca, sem eu saber o que era e virou a bebida alcoolica dele, me obrigando a engolir o comprimido".
Segundo a vítima, pelo fato de ela já ter bebido durante o dia, não conseguiu reagir. "Não consegui cuspir e, depois disso, não me lembro de mais nada, só me lembro de, no outro dia, acordar com ele em cima de mim. Depois de uns quatro dias, eu fui conversar com ele, para entender o que estava acontecendo e ele disse que realmente a gente tinha ficado, mas o termo não é 'ficado', ele tinha me estuprado", declarou em entrevista a Carlos Simões do JT1, da TV Tribuna PE/Band.
Defesa de vítima pede anulação de depoimento e questiona conduta de juiz

Além da audiência desta segunda, uma nova etapa do processo repercutiu nas últimas semanas após a defesa de uma das vítimas apresentar uma representação contra o juiz que conduziu um depoimento do caso.
A denúncia foi formalizada à Corregedoria do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) pela advogada Isabella Pequeno. Ela solicita a nulidade da oitiva por entender que faltaram medidas de proteção adequadas durante o interrogatório. "A audiência foi um show de horrores".
A audiência aconteceu no mês passado, na 1ª Vara dos Crimes contra Criança e Adolescente da Capital, sob condução do juiz Edmilson Cruz Júnior. Segundo a advogada, a vítima relatou constrangimento durante a sessão, especialmente ao ser questionada sobre comportamentos anteriores ao crime, o que teria causado sentimento de culpa e revitimização.
Ainda de acordo com a defesa, a vítima chegou a afirmar ao magistrado que se sentia desconfortável, mas o depoimento prosseguiu. Isabella Pequeno argumenta que houve inversão na lógica do interrogatório, com foco excessivo na vida pessoal da mulher antes da violência sexual.
A representação segue sob análise da Corregedoria do TJPE, que deverá apurar a conduta do juiz e avaliar a legalidade da audiência. O caso segue tramitando sob sigilo judicial.
Veja o que diz a vítima em entrevista a Carlos Simões no JT1, da TV Tribuna/Band, programa apresentado por Artur Tigre. Advogada também fala sobre a denúncia contra o juiz.
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