Imersão e cultura
Coluna publicada no Jornal A Tribuna
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Dizem que algumas viagens não são apenas deslocamentos no espaço, mas no tempo. Em Pindobas, primeiro distrito turístico do Espírito Santo, vivi uma dessas experiências raras, que deixam marcas profundas na alma.
Naquele pedaço de Venda Nova do Imigrante, cercado por montanhas que mais parecem molduras naturais, descobri que o passado não é algo distante. Ele pulsa, resiste e se manifesta em gestos, aromas e sabores.
Foi assim que, ao cruzar a porta da Casa Nostra, senti o tempo desacelerar. O cheiro de pão saindo do forno, o borbulhar da polenta no tacho de ferro, a voz da nona ensinando a enrolar biscoitos com paciência de quem já fez isso a vida inteira. De repente, eu não era apenas um visitante: eu fazia parte da história.
Sovei massa, mexi o angu, ergui um cálice de vinho artesanal enquanto alguém dedilhava um acordeon ao fundo. E entre um gole e outro, entre risadas e histórias contadas em meio ao vapor perfumado do molho de tomate fresco, compreendi o que é a verdadeira imersão cultural. Não era um passeio. Era uma viagem pela herança italiana, uma celebração da vida simples e, por isso mesmo, grandiosa.
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Na varanda, o vento trazia o cheiro da terra úmida e das parreiras que crescem ao redor. Alguém contou que, há mais de um século, os primeiros imigrantes olharam para essas montanhas e enxergaram um novo lar. Trouxeram sementes, tradições e uma fé inabalável no trabalho. Hoje, cada detalhe de Pindobas carrega essa herança. No sabor do queijo maturado com paciência. No café torrado com esmero. No jeito acolhedor de quem abre as portas não só da casa, mas do coração.
Caminhei pela vila tropeira, refiz os passos daqueles que desbravaram esses caminhos antes de nós. À beira dos lagos Negro e Pindobas, me demorei um pouco mais, porque algumas paisagens merecem ser sentidas, e não apenas vistas.
Ao final do dia, saí de lá com mais do que lembranças. Saí com um pedaço de história impregnado em mim. Pindobas não é apenas um destino. É um convite para sentir, viver e entender que tradição não é algo que se guarda numa prateleira de museu, mas algo que se compartilha, se celebra, se renova. E eu, sem dúvida, já quero voltar.
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