Medo de falar em público atinge 60% da população
Sentimento ocorre na maioria das vezes entre o público jovem e afeta principalmente as mulheres, afirmam especialistas
Escute essa reportagem
As mãos ficam suadas, a garganta fica seca, as pernas tremem, a barriga dói e os pensamentos começam a surgir de forma acelerada.
Essa é a sensação que cerca de 60% da população no Brasil sente quando tem de falar em público. E não importa o tamanho da plateia.
Estudo realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que 59,7% dos participantes tinham medo de falar em público e apresentavam três ou mais sintomas de ansiedade nesse momento. Respiração ofegante e taquicardia foram os mais frequentes.
Na maioria dos casos, o medo ocorre entre pessoas mais jovens e afeta principalmente as mulheres.
Psicóloga da Unimed Vitória, Naira Delboni explica que a glossofobia é o medo de falar em público.
“O medo é uma emoção importante que nos faz evitar situações que possam nos causar danos. Quando essa situação é paralisante e causa um medo persistente, é um alerta para o diagnóstico de transtorno mental”, alerta.
A situação de estar exposto, não apenas a imagem, mas também o pensamento, pode fazer com que muitas pessoas se sintam avaliadas e isso traz medo, como indica o psicólogo e professor da Unesc Alexandre Brito.
"O medo de cometer alguma ‘gafe’ e de não corresponder à expectativa do outro são fatores presentes na timidez. Nos tempos atuais, há que se considerar a cultura do cancelamento, ou seja, o medo de não ser aceito e de ser ‘cancelado’ faz com que a pessoa tema o fato de falar em público”.
Eventos traumáticos também podem desencadear o medo de falar para uma plateia, ressalta a psicóloga Camila Carvalho.
“O medo de falar em público normalmente está relacionado a um evento traumático. São pessoas que não foram estimuladas a falar, e quando tentaram expor seus pensamentos foram silenciadas”, disse.
A dificuldade, segundo a psicóloga Rúbia Navarro, pode gerar frustração. “Pessoas tímidas costumam ter dificuldade para se expressar, o que pode gerar frustração, e têm receio do julgamento, o que pode limitá-las de fazer o que têm vontade”.
Para o ator, diretor e professor de teatro Abel Santana, escolas deveriam ensinar as pessoas a serem mais protagonistas.
“Nossas escolas nos educaram para sermos bons ouvintes e não protagonistas. O ato de falar faz com que você se torne o centro das atenções, pois você terá que comunicar algo a alguém e isso exige habilidade, treino e conhecimento do que vai tratar”.
Repórter por um dia
Quem vê Monique Palaoro, de 29 anos, fazendo vídeos para as redes sociais e trabalhando como social media nem imagina que até 2018 ela sentia sintomas de ansiedade só de pensar em falar em público.
“Acho que isso veio da infância. Quando chegava na frente da sala para apresentar trabalhos eu travava, suava muito, era um pânico para mim. Mas, já adulta, tive que divulgar meu negócio nas redes sociais. Comecei a fazer cursos e com isso consegui destravar. Hoje é bem mais tranquilo para mim, gravo vídeos e até já fui repórter por um dia”, brinca.
Palestrantes
As terapeutas Oslane Werly e Souza, 36 anos, e Rose dos Santos Marculino, 42, se conheceram em uma mentoria para ajudar mulheres e hoje dão palestras, juntas, em um projeto para mães.
“Antes era totalmente travada, tinha muitos medos. Tinha vontade de palestrar, mas não tinha coragem. Quando tinha que falar em público suava frio, o coração acelerava e perdia a voz. Já perdi várias oportunidades por medo de estar à frente das coisas, não tinha coragem. Foi por meio de uma mentoria que comecei a mudar. Destravei total agora! Quero ser a pessoa que está na frente”, contou Oslane.
Tipo de fobia social
| Medo de falar em público
É caracterizado pelo medo de situações em que tenham que falar ou estar em público, seja falar com pessoas desconhecidas, apresentar um projeto, entre outras.
Muitas pessoas conseguem administrar esse receio e controlar a situação. Mas para uma parcela de pessoas o medo se torna uma fobia, ou seja, um medo específico.
A glossofobia se refere justamente ao medo de falar em público e é um dos tipos mais comuns de fobia social.
Especialistas explicam que essa ansiedade é um instinto primitivo de autopreservação. Sempre que exposto a situações em que se sente ameaçado, o cérebro reage como se estivesse sendo atacado e libera neurotransmissores, como a adrenalina, responsáveis pelo instinto de luta ou fuga.
SAIBA MAIS
Pesquisas
- Uma pesquisa da Universidade de Chapman, nos Estados Unidos, indicou que o medo de falar em público era a maior fobia entre os participantes. No Brasil, pesquisas mostram que cerca de 60% da população têm esse medo, como mostrou o estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
- O medo de falar em público acontece frequentemente em pessoas mais jovens e pode afetar principalmente as mulheres. Esse medo exagerado se chama glossofobia.
Medo x fobia
- O medo é uma reação comum de nosso organismo diante de ameaças, e é importante para nossa sobrevivência. Sendo assim, o medo é um modo natural de se preservar.
- A fobia é um medo específico, bem delimitado. Diferente da timidez, a fobia geralmente é paralisante.
Sintomas da fobia
- Desconforto mental em falar em público, que pode gerar gagueira ou voz trêmula.
- Suor excessivo (sudorese).
- Alteração da pressão.
- Taquicardia, náuseas e tontura.
- Dor de cabeça e boca seca.
Causas
- Pesquisas apontam que por volta de 30% dos casos podem ser atribuídos a causas genéticas, os 70% restantes são atribuídos pela vivência de uma situação intensamente embaraçosa, o que firma no inconsciente que sempre é preciso causar uma boa impressão para ser aceito.
Tratamentos
- A maioria dos casos pode ser superada com orientações, cursos e praticas que ajudam a se preparar para falar em público, se apresentar e melhorar a comunicação.
- Quando essa situação é paralisante é um alerta para o diagnóstico de transtorno mental. O tratamento da glossofobia tem diferentes abordagens: psicoterapia, técnicas de relaxamento e meditação podem ajudar a diminuir os sintomas
Fonte: Especialistas consultados.
Comentários