Entenda os pontos da negociação entre Trump e Putin
Países conversam sobre a possiblidade do fim da Guerra entre Rússia e Ucrânia
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Estados Unidos e Rússia fizeram a primeira reunião de alto nível desde antes da Guerra da Ucrânia, iniciada há quase três anos, nesta terça (18) em Riad, capital da Arábia Saudita.
Ela resultou da iniciativa do novo presidente americano, Donald Trump, que deverá se encontrar no país árabe com Vladimir Putin em algum momento no futuro próximo.
Kiev e países europeus protestaram pelo formato bilateral adotado, sem participação externa, e afirmam que não irão aceitar qualquer imposição de paz sem serem consultados.
A seguir, veja os principais pontos colocados à mesa até aqui, segundo entrevistas e relatos de bastidor colhidos nos últimos dias por agências de notícias, a imprensa russa e a Folha. Por óbvio, são pontos todos em aberto.
Cessar-fogo
A prioridade mais imediata é a cessação dos combates, e especula-se que ela possa ser conseguida de forma temporária até a Páscoa, no fim de abril. Isso congelaria as linhas de batalha onde estão, com Putin dominando cerca de 20% da Ucrânia e Volodimir Zelenski, 0,002% da Rússia na região de Kursk.
Cessão territorial
Até aqui, tudo indica que Trump dará a Putin o que abocanhou do vizinho, inclusive a Crimeia, anexada há 11 anos. O russo exige a retirada de Kursk, e poderá barganhar dizendo que deixa o pequeno trecho da província de Kharkiv (norte) que ocupa e não faz parte dos quatro territórios que anexou ilegalmente em 2022 e não domina completamente. Não é a subjugação que desejava do vizinho, mas ainda assim uma recompensa.
Zelenski não tem muito o que fazer, dada a precariedade de sua posição militar, ainda mais com os EUA desejando parar de dar o apoio militar a Kiev. A compensação pode vir na promessa de rediscutir o status desses territórios no futuro, talvez em 15 anos, como havia sido negociado no quase acordo de paz de 2022.
Eleições
Correm boatos de que Putin quer ver o acordo incluir uma cláusula para a realização de eleições na Ucrânia, como forma de ejetar Zelenski do poder. O mandato do presidente expirou em maio passado, e não há novo pleito porque o país está em estado de sítio --algo que um cessar-fogo em tese anularia. Rivais internos do líder se posicionam, mas não há hoje mais a oposição pró-Rússia forte que havia no passado, então uma eventual saída de Zelenski da cadeira terá mais um efeito simbólico.
Neutralidade da Ucrânia
Trump rifou qualquer possibilidade de Kiev entrar na Otan, de resto algo que vinha sendo enrolado pela aliança desde o convite de 2008. Com essa realidade, Londres sugeriu uma força de paz, mas a Rússia disse que não aceita nada com tropas ocidentais. Zelenski pediu 200 mil soldados para o contingente, algo irrealista, mas uma força menor e simbólica pode ser montada, restando saber com quais integrantes.
Garantias de seguranças
Se para o Kremlin a Otan fora é a garantia de segurança que deseja, para a Ucrânia é incerto o que poderá substituir a já negada admissão à aliança. Putin disse OK para uma integração à União Europeia, de caráter econômico, mas mesmo isso tem implicações políticas --o tratado do bloco prevê assistência em caso de um membro ser atacado. O tema será espinhoso.
Sanções ocidentais
Após o encontro em Riad, o secretário de Estado, Marco Rubio, sugeriu que qualquer acordo irá incluir o fim das sanções ocidentais à Rússia --o fez de forma torta, dizendo que os europeus deveriam ser chamado em algum momento para a mesa porque também aplicaram penalidades a Moscou. Essa seria uma vitória maiúscula para Putin.
Energia e laços econômicos
Os dois lados falaram em abertura de possibilidades econômicas e regulação do mercado de energia, no qual são grandes atores, bem ao gosto do estilo empresarial de Trump. Aqui, chama a atenção o destaque dado à Arábia Saudita como palco do encontro e da possível cúpula Trump-Putin, dado que o país é, ao lado da Rússia, o principal membro da organização dos produtores de petróleo.
Abertura Política
A relação entre Washington e Moscou está no pior nível desde a Guerra Fria, e ambos os lados prometeram reativar o trabalho hoje reduzido de suas embaixadas. A criação de um grupo de trabalho conjunto sobre Ucrânia também azeita a relação. Um sinal de boa vontade foi a libertação, nesta terça, de um americano preso em Moscou no dia 7 por posse de maconha.
Armas Nucleares
Com a aproximação, um assunto óbvio é o controle global dos arsenais nucleares, 90% deles russos ou americanos. Em seu primeiro mandato, querendo trazer a China, terceira maior potência do setor, para o sistema, Trump deixou 2 dos 3 principais acordos que buscavam evitar o apocalipse. Putin completou o gelo suspendendo a participação russa no tratado remanescente, em 2023. Isso tudo tende a mudar.
Irã
Um dos negociadores russos, Kirill Dmitriev, sugeriu em Riad que a Rússia poderia ajudar os EUA em relação ao ameaçador programa nuclear do Irã. Enfraquecido devido às guerras de Israel na esteira do 7 de Outubro, o governo de Teerã tem acelerado a produção de material que pode vir a ser usado em bombas. Já Moscou assinou em janeiro um tratado com o aliado persa que estreitou a relação tecnológica e militar.
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