O silêncio das mulheres que sempre falaram baixo e agora querem ser ouvidas
Elas estão rompendo o silêncio e encontrando suas vozes em um mundo que muitas vezes as silencia.
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Durante muito tempo, aprendi a falar baixo. Não apenas no volume da voz, mas nas opiniões, nas vontades, nas escolhas. Como muitas mulheres da minha geração, fui ensinada a ser educada, discreta, a “não causar”. E acredite: isso foi ficando tão automático que, mesmo quando eu queria gritar por dentro, continuava sussurrando por fora.
Mas o tempo passa e com ele, algo desperta. Aos poucos, fui entendendo que falar baixo demais também era uma forma de me calar. E eu não estava sozinha.
Segundo a ONU Mulheres, 77% das brasileiras já deixaram de expressar sua opinião com medo de serem julgadas. E o dado que mais me tocou: mulheres acima de 50 anos são as que mais se autocensuram, principalmente no ambiente profissional e familiar.
Hoje, vejo mulheres incríveis ao meu redor redescobrindo sua voz. Algumas empreendendo pela primeira vez, outras assumindo cargos de liderança, voltando a estudar, a escrever, a cantar, a se posicionar. Não é sobre gritar. É sobre ser ouvida com respeito. Ser reconhecida por sua história, por sua vivência, por sua verdade.
Não existe idade certa para romper o silêncio. Existe coragem. E essa coragem tem crescido. Em mim, em você, em tantas de nós que um dia falaram baixo com medo de desagradar, mas hoje escolhem dizer em alto e bom som: “eu tenho algo a dizer.”
Demorei anos para entender que agradar a todo mundo é um fardo disfarçado de virtude. Como tantas mulheres, cresci tentando ser aceita: na escola, no trabalho, nos relacionamentos. Era a boazinha, a que dizia “sim” quando queria dizer “não”. A que se desdobrava para caber no que esperavam dela.
Mas um dia, olhei no espelho e me perguntei: e eu, me agrado?
A resposta doeu.
Percebi que, para ser aceita pelos outros, eu tinha me recusado tantas vezes. Quantas vontades engoli? Quantas vezes deixei de me escolher para ser escolhida?
Foi quando comecei um exercício novo e libertador: dizer “não sem culpa”, sair de lugares onde não era ouvida, parar de justificar tudo, e acima de tudo, me colocar como prioridade.
Desagradar os outros, vez ou outra, não me torna egoísta. Me torna inteira.
Segundo a psicóloga Brené Brown, autenticidade é a prática diária de abandonar quem achamos que devemos ser para abraçar quem realmente somos. Isso exige coragem. E exige amor próprio.
Hoje, não busco mais aprovação a qualquer custo. Meu maior compromisso é com a minha paz. E se para manter essa paz eu precisar decepcionar alguém, tudo bem. A única que não posso decepcionar mais… sou eu mesma.

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