Saiba para quem o Corinthians deve e como tenta evitar punições desportivas
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A dívida bruta do Corinthians chegou ao acumulado de R$ 2,5 bilhões no exercício de 2024, segundo demonstrativo financeiro elaborado pelo clube. Parte do passivo é negociado por meio da Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), órgão criado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O acordo, aprovado em abril deste ano, permite que o clube pague o valor de R$ 76,9 milhões sem sofrer sanções desportivas.
Após uma proposta apresentada pelo Corinthians, os credores puderam fazer suas considerações até que se chegasse em uma definição. Um ponto importante é que não há garantias para um não pagamento. A justificativa é de que o não cumprimento autoriza a CNRD a aplicar a sanção de proibição de registro de novos atletas pelo prazo mínimo de seis meses.
O processo cobre R$ 76,9 milhões a serem pagos, além de uma quantia de 363 mil euros (R$ 2,3 milhões). O painel julgador da CNRD acatou o plano de pagamento em 24 parcelas trimestrais. A primeira está prevista para 17 de julho deste ano, enquanto a última será em 17 de abril de 2031.
Valor mínimo por processo a ser pago em cada parcela
- 1º ao 4º trimestre R$ 150 mil
- 5º ao 8º trimestre R$ 200 mil
- 9º ao 12º trimestre R$ 350 mil
- 13º ao 16º trimestre R$ 500 mil
- 17º ao 20º trimestre R$ 750 mil
- 21º ao 24º trimestre R$ 1,5 milhão
De cada parcela, 80% do valor é destinado ao credor, enquanto os outros 20% são para cobrir honorários. A estimativa feita pela CNRD é de que pelo menos metade dos processos sejam quitados em até dois anos e meio. As quantias vão levar em conta o Índice de preços ao consumidor (IPCA) para correção.
O maior credor, somando quatro diferentes processos, é a Link Assessoria Esportiva e Propaganda. A empresa pertence a André Cury, um dos principais empresários e representante de jogadores do País. Somente em reais, o valor devido chega a R$ 18,7 milhões.
O segundo lugar é do Cuiabá, que tem um crédito de R$ 18 milhões com o Corinthians, pela negociação do meia Raniele. O parcelamento concedido pela CNRD é motivo de revolta do presidente do clube mato-grossense, Cristiano Dresch.
“A nossa indignação é que o valor que temos a receber, que é de R$ 18 milhões, vai ser dividido em 24 parcelas trimestrais, descumprindo todo o acordo que havia sido feito inicialmente com o Corinthians. O jogador comprado por eles em 2024, vai ter terminado de pagar somente em 2031, sem juros. Isso não existe. Esse valor total é irrisório perto do que o Corinthians fatura e continua contratando”, afirma o mandatário.
A contratação de Raniele aconteceu em janeiro de 2024, e desde então, o Corinthians se comprometeu algumas vezes em parcelar o valor, algo que não aconteceu dentro dos prazos estipulados pelo clube de origem do jogador. O Cuiabá, então, entrou com pedido na CNRD para tentar receber o que havia sido estipulado anteriormente.
“O apelo que eu faço é que, hoje, não negociem com o Corinthians. Esperávamos que a CNRD, que é um órgão independente da CBF, agisse com neutralidade, e o que vemos é justamente o contrário”, reclama Dresch.
No total, as dívidas corintianas somam mais de R$ 76 milhões, além da correção da inflação. Não há incidência de juros. Dresch classifica a decisão como um “convite a calote”.
Em paralelo ao acordo no CNRD, o Corinthians obteve placar favorável no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), em 9 de abril, para a homologação de um plano para quitar R$ 367 milhões por meio do Regime Centralizado de Execuções (RCE). A previsão é de que o valor seja pago em aproximadamente dez anos utilizando 4% das receitas recorrentes do clube. As dívidas serão corrigidas pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) e há meta de quitação de 60% no sexto ano.
Com o plano homologado, as ações e execuções em curso contra o Corinthians ficam suspensas, e os credores envolvidos no RCE poderão fazer cobranças apenas dentro dos termos previstos pelo plano. Com os pagamentos, as dívidas serão quitadas de forma “automática, irrestrita e irrevogável”.
Tanto o acordo no TJSP quanto na CNRD dão respiro aos cofres do Corinthians, que sofreu com frequentes bloqueios de valores em 2024 por causa de ações na Justiça. Assim, mesmo com o faturamento recorde de R$ 1,1 bilhão, o clube tinha dificuldades para manter o fluxo de caixa.
Cabe ressaltar que a maior parte do passivo do Corinthians é referente a dívida com a Caixa Econômica Federal pela Arena em Itaquera. O clube deve aproximadamente R$ 668 milhões ao banco estatal pelo estádio, cujo naming rights pertence à empresa farmacêutica Neo Química.
As partes assinaram um Protocolo de Intenções junto à Gaviões da Fiel, principal organizada do clube, para quitar o estádio por meio de uma “vaquinha”. Cerca de R$ 40 milhões já foram arrecadados e a iniciativa, que em princípio duraria seis meses, deve ser prorrogada.
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