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Esportes

Portugal, ‘viveiro’ de treinadores, anda muito impaciente com eles


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PORTO - A menos de cinco meses de enfrentar o Palmeiras no Mundial de Clubes da FIFA, o Futebol Clube do Porto deu início a um processo de reformulação que deverá alterar rapidamente o seu estilo de jogo. O português Vitor Bruno foi demitido, na esteira de protestos da torcida contra o mau desempenho da equipe. Para o seu lugar, foi contratado o argentino Martín Anselmi, 39 anos, campeão da Copa Sul-Americana (contra o São Paulo) e da Recopa (contra o Flamengo) pelo Independiente Del Valle (Equador), e que estava no Cruz Azul (México). Anselmi estreou na última quinta-feira (30), com uma vitória por 1 a 0 sobre o Maccabi Tel Aviv (Israel) que valeu a classificação para os playoffs da Europa League, em que o Porto enfrentará a Roma (Itália).

A demissão de Vitor Bruno, apenas seis meses depois de assumir o cargo em substituição a Sergio Conceição (atualmente no Milan), aproxima Portugal de um cenário de impaciência com os treinadores que é muito comum no Brasil. Na atual temporada, 12 dos 18 clubes da Primeira Liga (a principal divisão) já trocaram de “mister”. Pela primeira vez em 91 anos, os três grandes promoveram mudanças. No final de agosto, o Benfica havia substituído o alemão Roger Schmidt por Bruno Lage (ex-Botafogo). O Sporting, com a saída de Rúben Amorim para o Manchester United, em novembro, promoveu o treinador da equipe B, João Pereira, demitido pouco mais de um mês depois e substituído por Rui Borges. Em janeiro, Pereira regressou à equipe B.

Para o jornalista José Manuel Ribeiro, ex-diretor do diário esportivo “O Jogo” e atual comentarista do Canal 11 (que transmite o Paulistão e o Brasileirão), há “um conjunto de razões” por trás desse ritmo intenso de trocas. “Os clubes portugueses são quase tão adeptos do despedimento de treinadores como os brasileiros, mas esta temporada talvez seja diferente. A qualidade das equipes tem caído, incluindo as maiores, e o treinador paga pelos resultados disso. O recrutamento complicou-se muito. Todos os clubes ingleses, espanhois e alemães trabalham bem na prospecção, e a maioria possui recursos financeiros maiores.”

Mourinho, na sua avaliação, “foi um treinador revolucionário” num período — início do século 21 — em que o futebol “mudou muito, principalmente em termos de treinamento e estratégias”. “Antes, a preparação física era separada, todos os atletas faziam o mesmo treino físico, sem bola, principalmente em pré-temporada. Uma ou duas vezes na semana era só treino físico, sem bola, sem nada. Isso deixava a gente muito mais duro, sem mobilidade e com pouco tempo de contato com bola. Porque a bola, quanto mais repetição, mais tempo você tiver, quanto mais você executar, mais chance você tem de acertar e aprimorar. O Mourinho já veio com isso. O seu primeiro treino já era com bola, bola com físico, com situação de jogo. A visão que ele tinha do adversário era incrível, então ele conseguia sempre descobrir onde a gente podia ferir, onde a gente podia atacar, onde a gente poderia ser mais forte, e vencer os jogos.”

Rubens Junior elogia a capacidade de Mourinho de “lidar também com estrelas”. “Isso era o diferencial dele. Saber lidar com jogadores vaidosos, orgulhosos, que já estão habituados a ganhar. Esses jogadores são muito inteligentes, têm muita noção e visão de jogo, e aí você precisa ter um nível muito alto de conhecimento para que esse jogador fale, “olha, realmente esse treinador me surpreendeu, consegue ver mais ainda que eu”. Mourinho conseguia chegar no mesmo nível de visão, de decisão e de interpretação dos grandes jogadores.”

Mourinho está hoje no Fenerbahce (Turquia) e Santos dirige a seleção do Azerbaijão. Quatro clubes da Premier League inglesa têm treinadores portugueses, forte presença que Ribeiro atribui ao agente Jorge Mendes: Nottingham Forest (Nuno Espírito Santo), Fulham (Marco Silva), Manchester United (Amorim) e Wolverhampton (Vitor Pereira, ex-Corinthians e Flamengo). Outros se espalham por diversas ligas da Europa e da Ásia, como Jorge Jesus (ex-Flamengo, no Al Hilal, da Arábia Saudita), Artur Jorge (ex-Botafogo, no Al-Rayyan, do Catar) e Conceição (Milan). Abel é o treinador mais longevo entre os grandes clubes do Brasil. Esses nomes, reunidos, representariam uma “escola”? Os entrevistados pelo Estadão não acreditam nisso.

“Não há exatamente uma linha que possa agrupar todos eles, que envolva a mesma formação e os mesmos conceitos”, afirma Ricardo Pinto. “Fala-se, por exemplo, de uma escola de arquitetura do Porto. Parece adequado. São arquitetos que tiveram a mesma formação, alicerçada em um conjunto de valores. Entre os treinadores, há percursos substancialmente diferentes. Tenho dificuldade em identificar pontos de contato. Prefiro o uso do termo “viveiro”. Portugal é um viveiro de treinadores que têm muito sucesso.” Pinto lembra Artur Jorge (1946-2024), campeão europeu pelo Porto em 1987 e campeão francês pelo PSG em 1994, como alguém que “abriu caminho” graças a uma cultura “acima da média” (era um colecionador de pintura, por exemplo) e que cultivou o inicio de uma tradição de qualidade.

Ribeiro considera que, em Portugal, “se exagera muito na avaliação dos portugueses, com base nos títulos que foram ganhando por equipes estrangeiras”. Em artigo recente publicado pelo jornal “Público”, ele lembra o exemplo dos argentinos, que venceram mais competições e em mais continentes, incluindo na Europa. “Discutir quem são os melhores treinadores do mundo só é ultrapassado em infantilidade pela proclamação de que são os portugueses. Todos acabam por beber alguma coisa de um caldo de conhecimento que foi crescendo desde o final dos anos 1980, com o professor Carlos Queiroz (bicampeão mundial sub-20 com a seleção portuguesa e ex-treinador do Real Madrid).”

Em Portugal, Ribeiro acredita que “universidade e futebol profissional entenderam-se mais cedo” do que em outros países. “Mourinho, licenciado pela Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, trouxe o impulso que faltava. Mas Jesus é um treinador da velha escola, Abel também tem formação acadêmica e Artur Jorge leva 15 anos de carreira, quase sempre em escalões de formação ou divisões inferiores. São percursos muito diferentes, e ideias também muito diferentes. Se partilham alguma coisa, são o elevado grau de organização, a preparação do trabalho e do jogo, e abertura para ouvir e integrar profissionais de áreas diferentes.”

Se existe algo que possa corresponder a uma “escola portuguesa”, Ribeiro diz que seria o conceito de “periodização tática” desenvolvido pelo professor Vitor Frade, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. “Em termos grosseiros, a periodização tática parte da premissa de que o trabalho com bola fornece toda a preparação física de que um futebolista precisa, porque são repetidos os mesmos movimentos e as mesmas cargas. Tudo se faz com bola, dentro de uma metodologia complexa, que o Porto de José Mourinho, em 2003 e 2004, tornou famosa. Hoje está espalhada pelo mundo, embora muitas vezes complementada com outras ideias. Quando afirmo que é a única “escola portuguesa”, faço-o porque em Portugal não há um estilo de jogo comum, como o tiki-taka espanhol ou o “kick and rush” inglês. Os treinadores portugueses não marcaram o futebol com inovações táticas, nem uma forma de jogar específica.”

Queiroz concorda com a lembrança. “Não há propriamente uma escola de treinadores em Portugal, mas há várias boas ideias. Uma delas é a periodização tática, por cá plasmada em Vitor Frade.” Sequeira amplia a lista dos que seriam responsáveis pelo florescimento do prestígio dos treinadores portugueses. “Não é justo referir apenas Vitor Frade. Ele tem a sua importância mas outros, antes — Carlos Queiroz, Nelo Vingada (adjunto de Queiroz) ou Jesualdo Ferreira (ex-Santos) — ou depois — principalmente José Mourinho mas também André Villas-Boas (atual presidente do Porto) ou Carlos Carvalhal (hoje no Sporting Braga) — enraizaram essa escola de treinadores. Estou convencido que o sucesso de José Mourinho foi o grande impulsionador para que os treinadores portugueses passassem a ter um estatuto de credibilidade.”

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