Por que gramados de futebol brasileiro estão alagando e causando adiamento dos jogos?
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O clássico entre Palmeiras e Corinthians teve seu início adiado após mais um temporal atingir a cidade de São Paulo nesta quinta-feira. No domingo, a decisão da Supercopa Rei, entre Botafogo e Flamengo, registrou mais um episódio de uma partida atrasada neste início de ano em função das chuvas.
No Estádio Mangueirão, em Belém, Pará, o árbitro Ramon Abatti Abel paralisou o jogo aos 15 minutos do primeiro, com a partida sendo retomada após 1h12min de paralisação. Além destes episódios, três partidas no Campeonato Paulista (São Paulo x Corinthians, Santos x São Paulo e Ponte Preta x Corinthians) tiveram problemas semelhantes.
Esses problemas são previstos nos regulamentos gerais das competições, tanto da CBF quanto da Federação Paulista de Futebol (afetadas neste início de temporada). Em geral, cabe à arbitragem decidir pela realização ou adiamento quando há uma tempestade no estádio. Para isso, é avaliado o estado de gramado e se é possível ser disputado a partida, sem prejuízo esportivo.
Nos casos como o ocorrido na Supercopa, a CBF determina que, se a partida já estiver em andamento, a arbitragem deve paralisá-la inicialmente por 30 minutos; caso o problema no gramado persista após esse período, é possível prorrogar por mais meia hora a paralisação, adiar, suspender ou dar a partida como encerrada. No último caso, isso pode ocorrer a partir dos 30 minutos do segundo tempo, com mais de dois terços do jogo disputado.
Partidas adiadas ou suspensas devem ser realizadas no dia seguinte, às 15h (de Brasília), caso haja condições para tal. No caso das chuvas, deve ser avaliada a qualidade do gramado. E para tal, é crucial a drenagem nos campos ao redor do Brasil. Em São Paulo, os mais afetados – e que tiveram suas partidas adiadas – foram o MorumBis e a Vila Belmiro.
No primeiro, o clássico disputado entre São Paulo e Corinthians se deu no fim de semana em que a cidade do São Paulo sofreu com as chuvas. Na sexta-feira – o jogo se deu no sábado –, a capital paulista teve o terceiro maior acumulado de chuva em 24 horas da estação de referência, com 125,6 mm. Já no horário da partida, foram 37,8 mm registrados. Prevista para as 18h30, ela foi iniciada com uma hora de atraso.
Problema semelhante viveu a Vila Belmiro. A partida foi adiada em 45 minutos antes de seu início. Pontos do gramado ficaram com poças d’água e funcionários precisaram entrar em campo com rodos para tentar minimizar o estrago.
“Uma massa de ar quente e úmido de origem tropical com abundante umidade atua no estado de São Paulo e seguirá presente durante os próximos dias, o que vai favorecer a ocorrência de novos episódios de chuva localmente forte a muito intensa não apenas na capital como na Grande São Paulo e pontos do interior paulista”, afirmou a empresa de meteorologia Metsul. Ao longo do mês, a Defesa Civil emitiu alertas de emergência em função das chuvas na capital paulista.
“São Paulo está sob efeito de um clima tropical de altitude, quente e úmido. Uma das características desse domínio morfoclimático é ter uma umidade e pluviosidade desequilibrados”, afirma Fábio Adorno Esposito, professor de geografia, Doutor e Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Apesar dessas chuvas intensas, o volume de chuva na capital paulista, em janeiro, foi abaixo do previsto para o mês.
Drenagem
Mesmo com o grande volume de chuvas, ambas as partidas puderam ser realizadas graças à drenagem em seus gramados. MorumBis e Vila Belmiro têm suas estruturas elogiadas. Além disso, utilizam tecnologias diferentes.
Criado na década de 1950, o gramado do estádio são-paulino conta com diversas camadas que são responsáveis pelo escoamento de água para uma galeria pluvial, construída em 1954 pelo próprio clube. Além da tubulação, camadas de terra, areia e pedras ajudam a escoar e dar vazão à água. Depois disso, ela é direcionada para o córrego Antonico, que se encontra com o córrego Pirajussara e desemboca no Rio Pinheiros. Esse sistema se dá de forma natural, a partir da própria gravidade.
Já a Vila Belmiro apresenta um sistema mais moderno, que é semelhante ao utilizado na Neo Química Arena e na Arena do Grêmio. Construído em 1996, se vale de bombas de vácuo criar uma pressão negativa para sugar a água para drenos abaixo do gramado e expeli-lo para galerias próximas ao estádio.
Em comparação, esse é mais custoso, já que é necessário mais equipamentos e um maior gasto com manutenção das estruturas. A Vila Belmiro foi o primeiro estádio no Brasil que utilizou esse tipo de drenagem. Quando há um problema na bomba de sucção, a drenagem ainda funciona parcialmente, no modelo gravitacional. Nesse sistema misto, o campo é capaz de drenar cerca de 400 mil litros por hora.
O Allianz Parque, por sua vez, utiliza um sistema chamado “Shock Pad”. Trata-se de uma estrutura flexível que absorve e drena a grama sintética. Segundo a Soccer Grass, o gramado sintético do Allianz Parque é o mais próximo de um campo natural em toda os estádios da América Latina porque utiliza fios de grama na base do sistema de tecelagem dos tufos, contribuindo para a manutenção, regularidade do jogo, permeabilidade e drenagem do campo.
A reportagem do Estadão também consultou a FPF a respeito do sistema de drenagem nos campos da primeira divisão Estadual, mas não obteve retorno até o momento. Vale ressaltar que, em dezembro, a final da Taça das Favelas teve de ser interrompida em função das chuvas no estádio do Pacaembu. A drenagem não foi capaz de suportar o volume de chuvas, diferentemente do que ocorreu no MorumBis e Vila Belmiro neste mês.
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