Mundial de Clubes: Manchester City e Al-Hilal duelam em choque de petrodólares por vaga nas quartas
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Três anos depois de o Oriente Médio celebrar a realização da Copa do Mundo do Catar, vencida pela Argentina de Lionel Messi, seria difícil imaginar equipes bancadas pelo dinheiro do petróleo fora do Mundial de Clubes da Fifa 2025. Nesta segunda-feira, 30, Manchester City e Al-Hilal brigam por uma vaga nas quartas de final do torneio da Fifa nos Estados Unidos.
Quem ficar entre os oito melhores times do Mundial vai embolsar US$ 13,1 milhões (R$ 72,1 milhões), mas o dinheiro é detalhe neste caso. Manchester City e Al-Hilal representam diferentes projetos de Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, respectivamente, separados por décadas de diferença. Ambos têm como cerne o sportwashing, prática que utiliza o esporte para limpar a imagem de determinado país ou governo perante à comunidade internacional.
O Grupo City engloba uma série de equipes a uma rede global no futebol. Além da “matriz” em Manchester, outros 11 clubes estão sob o escopo dos Emirados, incluindo o Bahia. A SAF do tricolor baiano foi comprada pelo grupo árabe um ano depois de a Mubadala Investment Company, fundo soberano dos Emirados e cujo CEO Khaldoon Al Mubarak é presidente do Manchester City, adquirir a Refinaria de Mataripe, segunda maior do País, localizada em São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador.
Em pouco mais de 15 anos, o investimento no clube inglês – que já foi alvo de investigação da Uefa – rendeu diversas conquistas: 22 títulos, com sete troféus do Campeonato Inglês e uma Champions League, conquistada em 2023.
Mansour e seu grupo gastaram mais de 2,3 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) com reforços no City. É o caso de nomes como o ídolo argentino Sergio Aguero, o meia belga Kevin de Bruyne e o artilheiro norueguês Erling Haaland, que elevaram o patamar do clube a um dos mais competitivos da Europa. No Brasil, o Bahia mudou de patamar com as contratações de jogadores importantes, como Everton Ribeiro, e desde 2024 briga na parte de cima da tabela.
Arábia Saudita, do Al-Hilal, investe no futebol de olho em um mundo pós-transição energética
Se os Emirados Árabes e a Arábia Saudita têm em comum o fato de ambos serem os maiores produtores de petróleo do planeta, as coisas são bem diferentes quando o assunto é futebol. Os sauditas estão longe de ter um ídolo como Pelé ou Garrincha, mas são apaixonados pelo esporte bretão, enchem estádios e se acostumaram a participar de Copas do Mundo. Diante de um cenário cujo futuro dos combustíveis fósseis é incerto, o país passou a investir em tecnologia e... futebol!
Em 2023, o Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, administrado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, comprou os quatro principais clubes do país: Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Ahli e, o representante da nação no Mundial, Al-Hilal. De lá para cá, diversos astros do futebol mundial se transferiram para o país, como Cristiano Ronaldo, Neymar, Karim Benzema, N’Golo Kanté, Sadio Mané, Roberto Firmino, Fabinho, entre outros. O PIF também é dono do Newcastle, da Inglaterra, comprado dois anos antes por R$ 2,2 bi.
O reino árabe é historicamente criticado pela violação aos direitos humanos, o tratamento dado às mulheres e pessoas LGBT+, além de outras ações autoritárias. Em 2018, o assassinato de Jamal Khashoggi, colunista do jornal americano Washington Post, manchou a imagem do reino saudita junto à comunidade internacional.

Como os combustíveis fósseis se tornaram vilões do clima, países do Golfo Pérsico, de maneira geral, se preparam para um mundo pós-transição energética. A Arábia Saudita trabalha em um programa intitulado Global Vision 2030 (“Visão Global 2030?, em tradução literal). Trata-se de uma série de projetos arquitetônicos e tecnológicos para tentar mudar a reputação do país. Um destes pontos é o futebol e a capacidade que o esporte tem de influência mundo afora.
Além de buscar concentrar craques na liga local, a Arábia Saudita foi oficializada em dezembro do ano passado como a sede da Copa do Mundo de 2034. Recentemente, foi divulgado que Messi, cujo ponto mais alto da carreira aconteceu no Oriente Médio, tem um contrato de R$ 117 milhões para ser embaixador do turismo no país.
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