João Fonseca repete estratégia de medalhões do circuito para ter carreira longa; veja qual
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Jannik Sinner, Carlos Alcaraz, Novak Djokovic e Jack Draper. O quarteto do Top 10 do ranking mundial não estará no Masters 1000 de Toronto, que começa neste domingo, pelo mesmo motivo: questões físicas. O cenário preocupa o mundo do tênis e os próprios atletas, como João Fonseca. Perto de completar 19 anos, o brasileiro já adota estratégia para minimizar o risco de lesões no futuro.
O tenista carioca vem demonstrando cautela em seu segundo ano entre os profissionais. A postura consiste em não sobrecarregar o atleta com muitos torneios ao longo da temporada, principalmente sem emendar semanas consecutivas no circuito, competição após competição.
Neste ano, Fonseca disputou 15 torneios até agora, incluindo um confronto de Copa Davis. Para efeito de comparação, tenistas da mesma geração já estão à frente do brasileiro em número de competições. Os americanos Alex Michelsen e Learner Tien acumulam 20 e 17 torneios, respectivamente. O checo Jakub Mensik tem 16.

“Fico muito feliz com essa dosagem no processo de treinamento, evolução e cuidados que estão tendo com ele. Isso é muito importante para evitar uma lesão prematura”, avalia o ex-tenista Marcelo Meyer, que já foi técnico de Fernando Meligeni, em entrevista ao Estadão.
A postura da equipe, ao menos nesta temporada, destoa dos demais tenistas da mesma idade e até dos mais velhos por privilegiar o cuidado físico e a longevidade no circuito. Via de regra, os atletas disputam muitos torneios em série para somar pontos no ranking e receber a premiação. Os valores recebidos a cada campanha é, na prática, o salário do tenista e de sua equipe, que pode ser grande a depender do status do atleta no circuito.
“A mentalidade é assim: se eu não jogo essa semana, os caras que estão na minha frente estão jogando e vão somar pontos no ranking, eu não vou. Então, com pouquíssimas exceções, os tenistas entram nesse processo maluco de toda semana jogar para fazer ponto e ganhar dinheiro. Só que a conta está chegando, que são as lesões.”
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Fonseca tem, neste quesito, uma vantagem incomum no tênis nacional. Com uma estrutura sólida do ponto de vista financeiro, ele não precisa acelerar a busca por premiações. “O conceito da equipe dele é de pensar no futuro, até por conta da idade dele, que ainda está em fase de aprendizado, apesar de tudo o que ele já fez. Felizmente, não está existindo por parte da equipe aquela ganância de subir rápido no ranking, de ganhar uns milhões de dólares”, comenta Meyer.
São comuns no circuito casos de tenistas que aproveitam a juventude para empilhar torneios e subir no ranking às custas de problemas físicos. “O que nós já vimos muito são aqueles casos de tenistas relativamente jovens que passaram do ponto na juventude e se arrebentaram antes da hora. É o caso do Dominic Thiem. Ele poderia ser o número um ou dois do mundo. O punho dele não aguentou, tentou voltar e não teve jeito”, lembra o especialista, em referência ao austríaco aposentado em 2024, aos 30 anos.
‘Férias’ no meio da temporada
A temporada de Fonseca não é incomum apenas em razão dos resultados precoces. O brasileiro faz uma temporada atípica por ter disputado, no fim de 2024, o Next Gen Finals. O torneio é quase uma exceção no calendário da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) por acontecer próximo ao Natal e não distribuir pontos no ranking. O circuito costuma encerrar o ano em novembro, com férias e pré-temporada em dezembro.
Na contramão, o brasileiro emendou uma temporada na outra, com torneio no último mês de 2024 e em janeiro deste ano. Por isso, tirou uma semana de férias entre o fim de março e o início de abril. A decisão criou um intervalo de quase um mês entre o Masters de Miami e o de Madri. Em julho, mais uma pausa de 20 dias entre Wimbledon e o Masters de Toronto, incluindo uma semana de férias. Ele não indicou se essa estratégia será uma constante em sua carreira.
A postura lembra a iniciativa de Carlos Alcaraz de equilibrar melhor a vida pessoal com treinos e viagens para competir. O espanhol bicampeão de Roland Garros já afirmou publicamente que precisa de momentos de descanso ao longo da temporada, sem qualquer contato com o tênis, para manter a alegria de jogar.
Esta postura já vinha sendo adotada por outros tenistas nos últimos anos, mas por motivos distintos. O suíço Roger Federer e o espanhol Rafael Nadal dosaram as competições, com foco total nos Grand Slams, em suas últimas temporadas. O sérvio Novak Djokovic, ainda na ativa, faz o mesmo. Disputou apenas 10 torneios neste ano.
“O João pode ter uma uma carreira brilhante e longa. O que pode atrapalhar são as lesões, que encurtaram a carreira do Guga, por exemplo”, alerta Meyer.
Quando João Fonseca vai jogar?
O carioca disputa o Masters 1000 de Toronto, no Canadá, a partir desta semana. Na sequência, emenda o Masters de Cincinnati, nos Estados Unidos. Ambos são preparatórios para o US Open, o quarto e último Grand Slam da temporada. A competição em Nova York começa no dia 24 de agosto. Mas, antes disso, ele participará de uma exibição nas mesmas quadras do complexo de Flushing Meadows no dia 21.
Até o momento, seu calendário só inclui mais uma competição confirmada: a estreia na Laver Cup, o torneio disputado em apenas um fim de semana, entre os dias 19 e 21 de setembro. O evento conta com apenas duas equipes, o Time Mundo e o Time Europa. Fonseca integrará o conjunto mundial.
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