‘Fifa não é boba de fechar os olhos para os EUA’, diz executivo brasileiro do Orlando City
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Faltando menos de um ano para a Copa do Mundo de 2026, os Estados Unidos vivem um momento decisivo no fortalecimento do futebol em seu território. A realização do Mundial de Clubes no país, apesar de críticas sobre clima, organização e até sobre a recepção do público, é vista como um marco na consolidação do esporte em solo americano. Para quem acompanha essa evolução de perto, o torneio representou mais do que uma competição — foi uma vitrine global para uma liga em ascensão.
Luiz Muzzi, vice-presidente de futebol do Orlando City, é testemunha ocular do crescimento do futebol nos EUA. Brasileiro radicado no país desde 1990, ele começou sua trajetória como um aventureiro apaixonado por esportes, recém-formado em Ciência da Computação na Universidade da Flórida e, mais tarde, mestre em administração esportiva pela University of Massachusetts.
De voluntário em torneios universitários e eventos como a Copa América, Muzzi construiu uma carreira sólida no esporte americano, passando por empresas como Avid Sports, IMG, Traffic USA e FC Dallas, até chegar ao Orlando City, onde completa sua sétima temporada.
O brasileiro avaliou o Mundial de Clubes como um passo importante para alavancar ainda mais o futebol nos EUA, ainda que muitos americanos não estivessem atentos ao torneio da Fifa. Para ele, a participação de clubes como Los Angeles FC, Inter Miami e Seattle Sounders deu visibilidade internacional à Major League Soccer (MLS) e contribuiu para mudar a percepção global sobre o futebol nos EUA.
“O torneio põe luz em cima do futebol aqui. Há muita falta de conhecimento do que é o futebol aqui nos Estados Unidos”, afirma. Ele cita a escolha de Messi pela liga americana como um indicativo de que a MLS oferece estrutura, qualidade de vida e competitividade — e não apenas uma aposentadoria tranquila para veteranos.
Muzzi também traça paralelos entre a MLS e o futebol brasileiro. “Pega os quatro ou cinco primeiros do Brasileirão e coloca para jogar o Campeonato Inglês ou Espanhol. Não vão passar vergonha”, avalia. Na sua visão, os melhores times da MLS não fariam feio em torneios internacionais, mesmo que ainda não estejam prontos para disputar títulos com frequência.
A estratégia de investir em jovens talentos sul-americanos, como Facundo Torres e Thiago Almada, é vista como um diferencial que aproxima a liga dos mercados mais tradicionais. “A ideia é integrar a MLS ao mercado mundial de forma sustentável.”
Esse crescimento controlado é possível, segundo ele, graças ao teto salarial — uma medida impopular em outras partes do mundo, mas fundamental para a saúde financeira da liga. Muzzi aponta que o futebol brasileiro ainda sofre com gestões de curto prazo e sem planejamento. “O Flamengo, por exemplo, colheu frutos ao adotar uma mentalidade mais empresarial”, compara.
Questões como o clima, que causou interrupções em alguns jogos e o longo intervalo na final por causa de um número musical — típicos de eventos esportivos americanos — foram encaradas pelo brasileiro como parte do processo de adaptação cultural.
Pensando na Copa de 2026, ele projeta uma participação ainda maior do público, principalmente se houver confrontos de alto impacto, como um possível Brasil x EUA. “Em 94 já teve esse jogo, e em um 4 de julho (dia da independência americana), mas agora seria outro nível. A comoção seria muito maior.”
A MLS tem se estruturado como produto, além de promover eventos que aproximam os jogadores dos torcedores e transformam as partidas em experiências sociais e familiares. O objetivo é simples: fidelizar um público que ainda está se acostumando a ver o futebol como protagonista no cenário esportivo local.
Embora o Mundial ainda não tenha colocado o futebol na mesma prateleira da NFL ou da NBA, Muzzi acredita que a participação de clubes da MLS no torneio ajudou a desmistificar alguns preconceitos — como o de que a liga seria um “asilo de luxo” para atletas em fim de carreira. Com figuras como Messi e Suárez, o cenário mudou, e a MLS começa a ganhar respeito não só como uma liga bem estruturada, mas também como um destino relevante no mapa do futebol mundial.
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