Bruno Henrique: como mundo do esporte tratou casos de envolvimento com apostas
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Indiciado por suposto envolvimento em esquema de apostas esportivas, Bruno Henrique pode entrar na lista de atletas denunciados ou, até mesmo, condenados por participação nesses casos. O atacante do Flamengo é suspeito pela Polícia Federal (PF) de estelionato e fraude em competição esportiva, em uma investigação que apura manipulação em jogos de futebol para benefício de apostadores. O jogador é suspeito de ter forçado um cartão amarelo em uma partida válida pelo Brasileirão de 2023.
No Brasil, em 2023, a Operação Penalidade Máxima, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), culminou em uma série de sanções a diferentes atletas envolvidos em manipulações de resultado em partidas das Séries A e B do ano anterior. Foi o primeiro grande caso no País desde a “Máfia do Apito”, em 2005, na qual 11 partidas do Brasileirão daquele ano foram anuladas e remarcadas pelo envolvimento do árbitro Edilson Pereira de Carvalho no resultado dos jogos, para benefício de terceiros.
Alef Manga foi punido por meio de outra investigação e também recebeu 360 dias, além de multa de R$ 50 mil. Ele já voltou a atuar, no último ano, e atualmente defende o Avaí, na Série B do Campeonato Brasileiro.
Fora do Brasil, as leis europeias no futebol são ainda mais rígidas. Na Premier League, Lucas Paquetá, do West Ham foi denunciado após investigação da Associação de Futebol da Inglaterra (FA, na sigla em inglês). É apurada a conduta do meia em quatro jogos do West Ham, no Campeonato Inglês, entre 2022 e 2023, com benefício de familiares. O atleta nega o envolvimento, e conhecerá a decisão da FA ao final desta temporada.
No mesmo caso de Paquetá, esteve envolvido Luiz Henrique, ex-Botafogo e atualmente no Zenit, no período em que o atacante atuava no Bétis, da Espanha. Na Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportiva, três pessoas foram indiciadas, incluindo Bruno Tolentino Coelho, tio de Paquetá, cuja transferência via Pix no valor de R$ 30 mil ao atacante foi constatada nas averiguações.

Também na Inglaterra, Ivan Toney, do Brentford, pegou um gancho de oito meses após infringir 232 vezes o código de conduta que proíbe atletas de apostarem entre 25 de fevereiro de 2017 e 23 de janeiro de 2021 – cinco temporadas. O atacante também recebeu multa de 50 mil libras (R$ 306,8 mil).
Das 29 apostas em resultados da partida, Toney apostou 16 vezes que seu time venceria. Ele veio a atuar em 11 destas partidas e esteve no banco de reservas em outra ocasião. O caso mais chocante são as 13 apostas restantes, no qual o atacante torceu para que seu próprio time perdesse. Atualmente, defende o Al-Ahli, da Arábia Saudita.
O italiano Sandro Tonali, do Newcastle, cumpriu suspensão de dez meses por apostas ilegais enquanto atuava no Milan e no Brescia. A pena foi definida pela Federação de Futebol da Itália (FIGC). O jogador confessou que apostava em vitórias dos times pelos quais atuava.
Além do futebol
Na Major League Baseball (MLB), dos Estados Unidos, um dos casos mais emblemáticos se deu em 1919, no início do esporte. “Shoeless” Joe Jackson e outros sete jogadores do Chicago White Sox foram banidos após o escândalo da World Series daquele, conhecido como “Black Sox Scandal”. Eles foram acusados de combinar uma manipulação no resultado das partidas.
Também emblemático, o caso de Pete Rose, líder em múltiplas estatísticas da MLB, fez com que o ex-treinador e jogador fosse impedido de entrar no Hall da Fama do esporte. Em 1989, ele esteve sob suspeita de em jogos de beisebol enquanto ainda defendia o Cincinnati Reds. Em 2004, após anos em que negou a acusação, Rose admitiu e confessou que realmente apostou a favor, e não contra, os Reds.
Entenda o caso Bruno Henrique
Segundo informações do Metrópoles, a PF analisou 3.989 conversas no WhatsApp de Bruno Henrique. Muitas delas estavam apagadas, o que indica, para a PF, que o jogador deletou parte dos registros. No celular do irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, que também foi apreendido, foram flagrados diálogos que mostram o envolvimento de Bruno Henrique. A informação é do portal Metrópoles.
Os investigadores separaram as dez pessoas envolvidas em dois grupos. Um com o próprio jogador, junto de seu irmão, cunhada e uma prima. E outro com mais seis apostadores, os quais são, segundo a PF, amigos de Wander. A investigação também concluiu que o flamenguista ligou para o irmão na véspera da partida, para confirmar o recebimento do cartão.
Em novembro de 2024, Bruno Henrique foi alvo da operação Spot-fixing. Já nos acréscimos do jogo contra o Santos, em 2023, Bruno Henrique cometeu uma falta em Soteldo, que segurava a bola no ataque. O árbitro Rafael Klein deu amarelo ao atacante.
A suspeita já era conhecida pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O órgão, que tem jurisdição somente no meio do esporte, arquivou o caso, por entender que o atacante não teria obtido vantagem.
Procurado pela reportagem do Estadão, o Flamengo reforçou compromisso com fair play desportivo e com o devido processo legal. Também em contato com a reportagem, representantes do atleta não se manifestam sobre o indiciamento. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se limitou a dizer que “questões relativas à Unidade de Integridade são sigilosas”.
Veja a nota do Flamengo na íntegra
O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique.
O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.
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